I'm Not Okay

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~~Kellin~~

O sol brilha pela janela do quarto de Vic, não consegui dormir, todas as vezes que começava a pegar no sono, lembranças e um sentimento de culpa junto de medo se formava, não me deixando descansar.
Me pergunto o por que de me sentir tão mal por ter saído de casa, quando nunca me senti bem naquele lugar. Meu pai nunca mudou, não acho que ele possa fazer isso, não importa o quanto ele perca por não tentar.
A escola é o último lugar onde eu queria estar agora, especialmente com tudo que tem acontecido nos últimos dias, durante as duas primeiras aulas tento me concentrar de todas as formas possíveis, não conseguindo chegar a resultado algum.
O próximo sinal toca, indicando que todos devem entrar em suas salas, ando junto de Nick, paro olhando para dentro da sala.

-Eu não sei se consigo ficar mais uma hora dentro de uma sala de aula- eu digo me virando para ele.
-Para onde você vai?- ele me olha.
-Qualquer lugar que não seja ali- eu digo apontando para a sala.
-Kellin- ele me chama, assim que eu começo a andar na direção oposta.

Vou em direção da quadra do lado de fora, me deitando em um dos bancos da arquibancada, o sol me incomoda um pouco, coloco meu braço sobre meu rosto esperando que isso ajude, porém acabo me decidindo que me sentar seja uma ideia melhor.
Pego a caixa de cigarros amassada do bolso da minha calça, junto do isqueiro, acendendo um deles, espero que pelo menos uma parte do que sinto vá embora.

-As coisas estão tão ruins assim- escuto alguém dizer, me assustando.
-Mike- digo tirando o cigarro da minha boca.
-Você tem mais um?
-Sim- digo pegando a caixa do meu bolso.
-Não achava que veria Kellin Quinn matando aula pra fumar.- ele diz se sentando ao meu lado e acendendo o cigarro- Vic sabe que você está aqui?
-Não, é melhor que ele não saiba.
-Vocês dois estão bem?- noto um tom de preocupação em sua voz.
-Sim, as coisas estão bem, é mais um problema familiar. Seu irmão está tentando me ajudar com tudo isso.
-Eu espero que ele consiga.
-Eu também, porque eu não tenho a mínima ideia de por onde começar a resolver isso.

Acabamos caindo em silêncio, ele parece distraído com seus próprios problemas, não sinto que tenho motivos para perturbá-lo com os meus. O sinal toca avisando o final da aula, saio da quadra me despedindo de Mike e voltando para dentro da escola, encontro Vic guardando suas coisas no armário.

-Como você está?- ele me pergunta.
-Okay, eu acho- eu digo olhando-o.
-Vem, Nick parece preocupado com você- ele diz pegando minha mão, olhando para os lados, sei que ele tem medo do que os outros vão dizer, ele se vira para mim, me dando um pequeno sorriso.
-Claro que ele está- eu digo retribuindo o sorriso.

As últimas aulas passam rápido, o último sinal toca fazendo todos se levantarem para irem embora, guardo meu caderno na mochila, vejo Vic parado na porta da sala de aula, agora vazia.
Ando em sua direção, ele pega a minha mão, a apertando como uma forma de conforto, dou-lhe um pequeno sorriso em retorno.
A volta é silenciosa, queria apenas ignorar minhas preocupações mas eu sei que não posso fazer isso, uma parte de mim tem medo de que meu pai tentará me procurar e isso apenas trará problemas para Vic e os pais dele, mas outra sabe que ele não fará isso, ele apenas se afogará em álcool como sempre fez.
Vic abre a porta, me deixando passar primeiro, entro em sua casa, olhando ao meu redor, nunca achei que a casa de outra pessoa poderia ser mais acolhedora do que a minha própria, mas agora isso é tudo que posso sentir.
Me deito em sua cama, ele se deita com sua cabeça em meu peito, passo minha mão pelo seu cabelo. Apenas consigo pensar em como não sei o que será de mim, para onde eu vou. Por mais que eu queira ficar, se eu não puder, não tenho outra opção além de ir para outro lugar e eu não sei para onde seria.
Escuto pequenas batidas na porta, que fazem nós dois olhar para a direção dela.

-A gente queria conversar com vocês- A mãe de Vic diz abrindo a porta do quarto, ela para na entrada com o pai dele parado atrás dela.
-Okay- Vic diz se sentando ao meu lado.

Os dois entram no quarto, ela se senta na ponta da cama, ele para ao lado dela, os dois nos olham, posso notar a preocupação em seus olhares, não posso os culparem por isso.

-A gente queria entender o que tem acontecido com você, Kellin- O pai de Vic me pergunta, o sotaque dele faz as palavras parecerem mais intensas do que realmente são.

Respiro fundo, tentando contar da melhor forma possível o que estava acontecendo, todas as agressões por qual eu passei, físicas ou não, posso notar lágrimas caindo enquanto eu falo, minha voz treme, nunca contei para ninguém tudo, nunca senti que podia confiar em alguém o bastante para fazer isso.

-Eu sinto muito por tudo que você passou, ninguém deveria passar por coisas assim, principalmente com seu próprio pai- a mulher de cabelos claros diz, me dando um abraço.
-Eu realmente não quero lhe dar notícias ruins, eu quero que fique aqui, que não tenha que lidar nada disso novamente, mas não temos condições financeiras de ter mais alguém aqui.
-Eu posso pagar minhas despesas, eu trabalho durante alguns dias da semana, o salário não é muito, mas o bastante para ajudar- eu digo olhando para o homem.
-Ele não pode ficar? Até a escola acabar pelo menos?- Vic pergunta.
-Okay- a mulher responde olhando para o homem- você pode ficar, até a escola acabar, depois disso a gente vai te ajudar o máximo que pudermos a achar um lugar novo.
-Muito obrigado, muito muito obrigado mesmo- digo os olhando.

Eles me dão um pequeno sorriso saindo do quarto. Me viro para Vic, ele me abraça. Ele olha, secando as lágrimas de meus olhos, posso notar o sorriso em seu rosto, assim como no meu, ele beija minha testa, me abraçando novamente.
Me deito na cama, ainda o olhando, o que aconteceu ainda não parece ser real.
A anos não tenho me sentido bem com o que estava acontecendo, mas mantive esperança de que tudo iria mudar, mesmo achando que era impossível. Não tenho certeza de que esse sentimento foi embora, mas talvez ele tenha se transformado em algo diferente.
Eu não sei mais o que está se passando em minha cabeça, não sei como deveria estar me sentindo nesse momento e não sei se conseguirei descobrir em breve.
Pela décima vez eu fecho meus olhos desejando que eu caia no sono, mas meus pensamentos continuam a me impedir de dormir.
A casa parece tão silenciosa, é algo tão estranho, talvez eu nunca tenha notado quanto eu odeio esse silêncio, me sinto desconfortável com ele. Olho para Vic enrolado na coberta ao meu lado, ele parece em paz, deixo um pequeno sorriso escapar meu lábios.
Respiro fundo, me levantando da cama, preciso de ar fresco, abro a janela do quarto, o vento gelado entra fazendo meu corpo se arrepiar, procuro o maço de cigarros deixado no bolso da minha calça.
Me sinto perdido nesse lugar, as mesmas lembranças continuam a circular em minha cabeça, apenas queria que elas fossem embora.
Sinto uma mão em meu ombro, me fazendo recuar em reflexo, porém relaxo ao notar Vic, deixo-o colocar seus braços em torno da minha cintura, me viro, fazendo o encostar a sua cabeça em meu peito.

-Desculpa, não queria te assustar- ele diz ainda meio sonolento.
-Tudo bem- digo, passando minha mão pelo seu cabelo- desculpa, não queria te acordar.
- Não é a sua culpa, eu sempre acordo de madrugada.- ele diz bocejando.
- Kellin, tá tudo bem?- ele diz me olhando.
- Eu não sei.- digo, abraçando-o.- Eu não sei ao certo como me sentir sobre tudo que está acontecendo.
- Kells, eu não sei o quão ruim as coisas estão agora, mas eu sei que não existe um jeito certo para se sentir.- ele diz olhando nos olhos- Eu prometo que as coisas vão melhorar, ela sempre melhoram.

Fecho a janela antes de deixar ele me puxar de volta para a cama, me deito ao seu lado,  apenas desejando que esse momento durasse mais tempo do que o normal. Vic puxa as mangas da jaqueta sem as abaixar novamente, sem esconder suas cicatrizes novamente, não as olho por muito tempo, não quero que ele se sinta desconfortável novamente. Deito minha cabeça em seu peito, colocando meus braços em torno da sua cintura, ele passa sua mão pelo meu cabelo.
Meus pensamentos continuam a me atormentar, com lembranças e ideias idiotas, coisas que seriam melhor se deixadas para trás.

- No que está pensando?- ele diz me olhando.
- Em fugir. Eu sei que disse que era uma ideia maluca e impossível, mas eu sempre pensei em ir embora, em fugir de casa. Eu sempre pensei que quando eu fosse para a faculdade, as coisas iriam melhorar, estaria longe dos meus problemas, que eu não teria motivos para temer ser eu mesmo. E agora, mesmo longe de casa, ainda não parece que eu posso ser diferente.- eu digo o olhando- Então, eu estava pensando, Victor Fuentes, você gostaria de fugir comigo?
- Sim, por que, o que seria da vida sem loucuras?- ele me diz com um sorriso em seu rosto.

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