Lost

26 2 0
                                    

-Não se esqueçam que o trabalho de ontem é para ser entregue até, no máximo, semana que vem- o professor de história diz assim que o sinal toca.

Junto meus materiais os colocando na mochila, me levanto sendo empurrado por Carlile, eu bato levemente em minha carteira, o olho sair da sala de aula, noto um pequeno sorriso em seu rosto. Respiro fundo, mudando meu foco para o meu lado, Kellin continua sentado em sua carteira, arrumando as suas coisas.

-Ei- ele diz, se virando para mim- Você está bem?
-Sim- digo desviando meu olhar para o chão- sim.

Ele me dá um pequeno sorriso, se levantando e colocando a sua mochila. Coloco minha mochila em minhas costas, ele anda em direção a porta, eu o acompanho.

-Sobre o trabalho- digo, fazendo-o me olhar- eu estou tendo problemas com a minha internet, então, eu não sei se eu consigo te mandar minha parte por mensagem.
-A gente pode fazer junto, então- ele diz, fazendo uma pequena pausa- a gente podia ir para a minha casa terminar, mas eu não sei se eu posso- ele para na frente de um armário, o abrindo.
-A gente podia ir para a minha casa então- digo passando minha mão em minha nuca- tenho certeza de que meus pais não vão se importar.
-Eu vou estar livre neste domingo- ele diz pegando as suas coisas do armário.
-Então, até domingo- O sinal toca- Depois a gente conversa e marca as coisas direito.
-Te encontro na saída, daí a gente tem mais tempo para arrumar tudo.

Ele se despede indo em direção a sala de aula, e eu para a minha. As aulas passam, as mesmas coisas de sempre acontecem, pequenos empurrões e risadas, assim como xingamentos são ditos, tento apenas ignorá-los e me concentrar no fim do dia.
O último sinal toca, saio da escola, esperando na frente da entrada por Kellin, ele passa por mim, olhando ao seu redor, sem me ver.

-Kellin- o chamo, fazendo-o se virar para a minha direção, ele para ao meu lado- Então, a gente podia se encontrar no parquinho perto da escola.
-Aquele alguns quarteirões para baixo?- ele diz apontando para a direção do parquinho.
-Sim- digo balançando a cabeça- ele não fica muito longe da minha casa, se a gente se encontrar às 10:00, talvez a gente consiga terminar antes do almoço.
-Okay- ele dá um pequeno sorriso- então até domingo, às 10:00.

Ele desce as escadas da entrada, acenando para mim, eu aceno de volta, o vendo ir em direção ao estacionamento da escola.
Volto para casa, entrando em meu quarto, me deito na cama pegando meu telefone do bolso traseiro da calça, esperando que a internet tenha voltado, porém nada ainda. Deixo meu telefone na cabeceira da cama.
Abro minha mochila pegando meu caderno e uma das apostilas, fazendo a tarefa, esperando não pegar no sono, mas meus olhos pesam quando tento ler as palavras da apostila, acabo os fechando, apenas acordando com a luz do outro dia entrando pela minha janela.

-Ei- Mike diz parando na porta do meu quarto, segurando o seu computador- a sua internet voltou?
-Não- digo olhando para meu telefone.
- Eu preciso fazer tarefa- ele fecha o computador, me olhando- eu vou na casa do Tony, espero que lá esteja melhor.

O vejo sumir no corredor, voltando para o seu quarto. Olho para minha cama, vendo a apostila ainda aberta na mesma página do dia anterior, assim como meu caderno, agora com algumas páginas amassadas, eu os fecho, me levantando da cama.
A internet volta no fim do dia, decido mandar uma mensagem para Kellin, apenas o avisando, esperando que isso o ajude a relembrar sobre amanhã.
Domingo chega sem uma resposta de Kellin, ando de um lado para o outro de meu quarto, pensando se devo ir ou não, se ele vai aparecer ou não. Pego minha jaqueta, a colocando antes de sair do quarto.
Vou até o parque, me sento em um banco na frente de um pequeno escorregador, esperando, mais uma vez, olho meu telefone, sem resposta alguma.
Ponho meu celular no bolso, olhando a minha volta, a rua está vazia, talvez seja cedo demais.
Escuto passos perto de mim, olho para cima, vendo alguém passar, por um momento me animo, porém logo percebo que se trata de alguém correndo atrás de uma criança com um sorriso em seu rosto, pego meu telefone novamente, esperando alguma coisa, porém nada.
Algum tempo se passa, começo a pensar que talvez ele não venha, que talvez isso tudo tenha sido uma ideia estúpida. Não posso evitar olhar para qualquer um que passa, esperando ser Kellin.
Mais uma hora se passa sem resposta, sem explicação, sem nada. Começo a sentir que eu tenha ignorado o fato de que ele estivesse apenas sendo amigável por pena e que ele nunca tivesse tido a intenção de vir hoje.
Me levanto, desistindo de esperar, ele não vem, não sei porque esperava tanto que algo acontecesse hoje, que Kellin fosse se importar o bastante para aparecer, ninguém realmente se importa o bastante comigo para fazer isso.
Me deito em minha cama, deixando o cansaço me tomar, por mais que não tenha motivo para ele, fecho meus olhos, pegando no sono.
Acordo com a claridade do outro dia entrando pela minha janela, é estranho pensar que eu dormi tanto e que eu continuo cansado.
Escuto batidas na minha porta, como sempre, me encolho embaixo de minhas cobertas, querendo fechar meus olhos e dormir, porém eu não consigo. A porta é aberta, continuo a me cobrir com a coberta, sem me virar para quem a abriu.

-Você está bem?- escuto Mike me perguntar.
-Eu não vou para a escola hoje- digo, porém minha voz sai mais como um sussurro.
-Okay- ele diz se virando para a porta.
-Por favor, não diz nada para a mãe e o pai.
-Vic, eu preciso.
-Por favor- eu digo o olhando.
-Okay- ele balança a cabeça, concordando.

Mike fecha a porta me deixando sozinho novamente, fecho meus olhos, me sentindo escorregar pelos lençóis, acabo caindo no sono novamente.
Acordo olhando para a janela do meu quarto, o alaranjado do céu me faz pensar em quanto tempo eu dormi, e como o cansaço ainda não parece ter deixado meu corpo. Eu devia levantar da cama e terminar o trabalho, mas meu corpo parece pesar toneladas. Me viro em minha cama, sentindo um vazio em meu peito, o mesmo não estava lá antes, talvez seja a culpa de ter acreditado que dessa vez as coisas seriam diferentes, que eu não acabaria assim.
A noite chega sem eu perceber e o jeito que eu me sinto não me deixa, não tendo levantado para nada, as horas passaram sem eu notar, a falta de fome e sono por mais que o cansaço ainda permaneça. Queria ter esperança o bastante para dizer para mim mesmo que isso vai passar e nunca mais voltar, mas eu sei que não vai acontecer, pois isso nunca vai embora, esse sentimento sempre se esconde dentro de mim, e eu estou me cansando de sentir o mesmo vazio de sempre.

DisasterologyOnde histórias criam vida. Descubra agora