The Boy Who Could Fly

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Longas noites e dias piores passam sem me dar um descanso para pensar em nada. Palavras que me machucam se repetem em minha cabeça, me impedem de descansar, me impedem de continuar, não consigo apenas parar de pensar por um segundo, pensamentos bagunçados se misturam com a bagunça que eu sou, piorando tudo.
A claridade do lado de fora ilumina meu quarto, me sinto cansado por conta da noite em claro, não tenho conseguido dormir, o que não é uma grande novidade, nunca foi. Kellin tem sido uma boa companhia nas madrugadas longas, com conversas longas que nunca parecem ter fim. Olho para ele dormindo ao meu lado, um pequeno sorriso se forma em meu rosto, pelo menos ele tem conseguido dormir nos últimos dias, por mais que eu sei que ele ainda não tem se sentido bem com tudo que tem acontecido.
Kellin se vira para mim, acordando e me dando um pequeno sorriso. Ele me dá um beijo na testa se levantando, seguro a sua mão não o deixando sair de perto da cama, eu sorrio para ele, beijando a sua mão, ele sai do quarto com um sorriso em seu rosto.
A casa silenciosa me assusta, algo nela nunca pareceu normal, sempre separada, sempre solitária. Kellin volta para o quarto, se sentando ao meu lado, os mesmos assuntos se repetem, ideias ditas que parecem fazer sentido de algum modo, risadas que ecoam pela casa, nos distraindo da realidade, nos fazem esquecer das coisas que estão acontecendo por alguns segundos.
Observo-o em pé, na frente da janela aberta do quarto, com um cigarro em seus lábios, ele admira o lado de fora, com um sorriso quase despercebido, em seu rosto. Deitado na cama, eu o olho, quero ir até ele, porém aqui parece tão reconfortante, puxo as cobertas para mais perto, me enrolando nelas. Ele se deita ao meu lado, olhando para mim, passo minha mão pela sua cintura, puxando-o para mais perto.

- A gente podia fazer alguma coisa- ele diz, concordo, balançando a cabeça- a gente podia sair para andar um pouco?
- Pode ser.

Ele se levanta, pegando minha mão e me puxando, me levanto, ele me dá um pequeno sorriso, ele põe suas mãos em minha cintura, olho para seus lábios, colocando minha mão em sua bochecha, ele me beija.
Saímos da casa sem um rumo certo, passando por ruas e mais ruas, paramos em pequeno parque, Kellin me puxa em direção ao balanço, posso notar um sorriso se formando em seu rosto, começo a sorrir notando a sua alegria.
Após um tempo nos sentamos em um banco ali perto, olho para o céu cinzento, ainda com um sorriso em meu rosto. Kellin entrelaça nossas mãos, o olho, recebendo um pequeno sorriso em retorno, passo minha mão pela sua bochecha, parece que fazem anos que não o vejo sorrir desse jeito, um sorriso tão genuíno. Me aproximo de seu rosto, lhe dando um beijo, sinto seus dedos apertarem mais a minha mão, sua outra mão sendo colocada em meu pescoço, dedos se enrolando em meus fios de cabelo.

-Acho que a gente deveria voltar para casa.- ele diz.- está tarde.

O vento gelado invade meus pulmões, respirar se tornou algo dolorido, coloco as mãos no bolso do casaco esperando que o frio passe, sinto dedos gelados se entrelaçarem aos meus, olho para Kellin com um pequeno sorriso em meu rosto.
Entro em casa, indo em direção à cozinha, olho para as garrafas de bebidas, nunca escondidas da vista de ninguém, um pequeno sorriso surge em meu rosto enquanto pego uma garrafa levando-a comigo para o quarto.
Kellin tira seu casaco e o põe em cima da cama, ele me nota parado na porta, o olho com um pequeno sorriso lhe mostrando a garrafa. Eu a abro, começando a beber, ela queima minha garganta, lhe entrego, ele bebe, repassando. A garrafa sendo passada de um lado para o outro havia se tornado engraçado de certa forma, mas ao mesmo tempo tão errado, coisas idiotas sendo ditas parecem ser a única coisa que continua a fazer sentido ainda, nossas risadas completam a casa vazia, a risada de Kellin parece tão verdadeira, assim como a minha.
Ele se senta na cama, dando mais um gole e me passando a garrafa, me levanto do chão e dou um gole. Me sento em seu colo, colocando a garrafa na cabeceira ao lado da cama, sinto seus olhos em mim, ele coloca suas mãos em minhas coxas, tem algo tão delicado em seus toques, em suas ações. Beijo-lhe, sentindo o álcool em seus lábios. Sinto suas mãos em minha cintura, com delicadeza ele me deita na cama, passo minhas mãos pelos seus cabelos, ele me olha com um pequeno sorriso, um sorriso se forma em meu rosto também.
Ele beija meu pescoço, passo minhas mãos pela barra da sua blusa, a levantando levemente, ele para, tirando-a, passo minhas mãos pela sua cintura. Ele passa as mãos pelo meu torso parando na barra da minha blusa, ponho minhas mãos nela, a levantando um pouco.

-Você não precisa se não quiser- ele diz ainda segurando a barra da minha blusa.
-Mas eu quero- ele a solta, me deixando tirar-lá.

A falta do tecido contra meu corpo me faz repensar se foi uma boa ideia tirá-la, respiro fundo, olhando para Kellin, ele me olha com um sorriso em seu rosto. Ele passa sua mão pela minha nuca, me puxando para mais perto, me beijando.
O tempo parece ter parado nesse momento, tudo que posso sentir é a sua pele em contato com a minha e o desejo de que esse momento não acabe.
O barulho da chuva chama minha atenção, me levanto da cama olhando para a janela, vendo pequenas gotas a cair, Kellin se levanta também passando suas mãos pela minha cintura, e colocando sua cabeça em meu ombro.
Saímos novamente da casa, Kellin pega minha mão me puxando para a frente da casa, fecho meus olhos, sentindo pequenos pingos em meu rosto.
A chuva se intensifica pouco a pouco, mas nada que nos incomode, a chuva não parecia algo tão ruim, talvez seja apenas o efeito do álcool. Sinto como se nossas risadas pudessem ser ouvidas por todos na vizinhança, mas eu não consigo me importar bastante com isso, não agora, talvez em outro momento eu me importaria mais.

- O senhor me concede essa dança?- Kellin diz estendendo a sua mão.
- Claro, querido- respondo pegando-a.

Ele me puxa para mais perto, colocando a sua mão em minha cintura, coloco minha mão em seu ombro, com um sorriso ele me guia, me fazendo seguir os seus passos, eu retribuo o sorriso. Minha roupa cola em meu corpo, o gelado delas não parece me incomodar, Kellin também não parece se importar com isso.
Decidimos voltar para casa, ela parecia tão solitária, tão silenciosa, a chuva ainda podia ser ouvida, parecia que ainda estávamos dançando nela, acompanhando nossos corações.
Me deito na cama, sentindo meu cansaço me fazer fechar os olhos, sinto Kellin colocar seu braço ao meu redor antes de eu pegar no sono.
Acordo, olhando para o teto, a escuridão do lado de fora entra pela minha janela. Me levanto da cama, tentando não acordar Kellin, lentamente entro no banheiro, fechando a porta. Paro na frente do espelho, encarando meu reflexo, olheiras podem ser vistas, meus braços parecem mais finos, porém não sei dizer o quanto. Abro a torneira e faço uma concha com minhas mãos jogando água em meu rosto, talvez isso me ajude a esquecer tudo que tenho pensado. Olho novamente o meu reflexo, gotas d'água pingam do meu queixo, quanto mais eu o encaro mais ele parece se distanciar de mim mesmo, ele parece alguém desconhecido.
Volto para a cama, me sentando nela, encarando a parede do meu quarto, respiro fundo, olhando para minhas mãos, posso sentir meu corpo tremer, como se isso nunca fosse passar, como se eu nunca fosse ser real de novo. Kellin se mexe ao meu lado, acordando, ele me olha, colocando sua mão em meu ombro.

-Vic, você está bem?- ele diz se sentando na cama, sua voz parece distante.
-Eu não sei, nada parece real, eu não sei se isso é um sonho ou não, não sei se consigo dormir, tenho medo de acordar e não existir mais, de que nada seja do jeito que está agora.- eu digo me virando para ele- Eu não sei se você é real, ou apenas algo que minha mente decidiu criar para que eu não me sentisse tão sozinho.
-Eu estou aqui, eu sou real, você é real- ele diz pegando minhas mãos.

Me deito na cama, tentando não entrar em pânico, por mais que meu coração esteja a bater mais rápido, eu respiro fundo. Kellin se deita, ainda segurando minha mão.

-Eu vou estar aqui quando você acordar, se você ainda não acreditar que eu estou aqui, segure minha mão, o tempo que você precisar, o bastante para você perceber que isso é real.

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