Wonderless

116 10 15
                                    

Acordo olhando à minha volta, não vejo Kellin, assim como suas coisas, ele foi embora.
Sei que o assustei, me sinto horrível por causa disso. Primeiro faço perguntas desnecessárias e depois mando-o ir embora, sem explicações sobre o que aconteceu, porém acho que nem mesmo agora sei como explicar aquilo.
Olho para o teto, pensando se deveria ou não mandar uma mensagem para ele, mas o que devo dizer? Apenas quero pedir desculpa pela minha existência e talvez isso ainda não seja o suficiente.
Pego meu telefone o desbloqueando, abro minhas mensagens e clico no nome de Kellin, encarando a tela do celular, sem saber o que dizer. Acabo por bloquear a tela novamente, colocando o telefone no mesmo lugar de antes. Tenho medo de mandar uma mensagem e ela não ser a coisa certa, piorando a situação ainda mais. Faço a mesma coisa mais vezes do que posso lembrar, me sinto um idiota por não saber o que dizer.
Penso na noite passada, como posso explicar o que aconteceu? Que pensei demais, ao ponto de que eu não conseguia mais ignorar meus próprios pensamentos? Que a memória de quem eu sou por baixo das mangas da minha jaqueta me assustam?
Olho para o teto, sentindo minha garganta se trancar, sinto minha visão se tornando turva, respiro fundo, esperando que o desejo de chorar passe. Pego a caixa debaixo da minha cama, indo em direção ao banheiro. Paro na frente do espelho e, sem olhar para meu reflexo, levanto as mangas de minha blusa, deixando ali todos os meus sentimentos.
Meus pulsos ardem, ainda não consigo olhar para meu reflexo, sei que estou pior do que nunca, não preciso de algo a mais para me mostrar isso. Limpo o sangue e volto para meu quarto, me deito em minha cama, olhando para o teto sem conseguir dormir, pego meu telefone mais uma vez, olhando para a tela sem a desbloquear. Minha cabeça está cheia demais, eu consegui afastar Kellin, a única pessoa que me trouxe felicidade nesses últimos dias, talvez eu não sirvo para esse tipo de coisa.
A culpa parece maior ainda, não falar com Kellin e o jeito que eu sei que não deveria descontar tudo em mim mesmo, traz de volta as lágrimas que eu estava tentando evitar, sento em minha cama, colocando minhas mãos em meu rosto, deixo as lágrimas descerem, esperando que elas e ajudem a parar de me sentir tão mal.
A claridade do outro dia entra pela minha janela, escuto o despertador tocar, desligo-o, me perguntando qual o motivo de um despertador em um dia que não consigo dormir. Desço as escadas passando pela cozinha, penso em fazer alguma coisa para comer, mas meu estômago pesa e minha garganta fecha com o pensamento, me fazendo desistir de comer algo. Saio de casa, começando a andar em direção a escola, porém paro ao escutar meu nome ser chamado.

-Vic, espera- Mike diz em voz alta- vem, assim a gente chega mais rápido- ele levanta a sua mão, balançando um molho de chaves.

Vou em direção ao carro, me sentando no banco do passageiro ao lado do motorista, Mike liga o carro, tento o meu máximo para apenas olhar para fora, o som do rádio toca baixo, sinto vontade de aumentar o som, mas prefiro não fazê-lo.

-Como está o Kellin?- ele me pergunta descontraidamente.
- Eu não sei- digo parando por um momento- bem, eu acho.
-Você acha- ele diz fazendo uma pequena pausa- okay- posso ver um pequeno sorriso se formar em seu rosto.

O carro se torna silencioso, uma pergunta começa a circular meus pensamentos, uma que nem me lembrava que estava lá antes, olho para Mike.

-Por que você me disse que ele estava na enfermaria naquele dia?- ele me olha confuso primeiramente.
-Eu achei que você precisava saber, afinal vocês são amigos, não?-ele responde depois de uma pequena pausa.
-Sim- digo,me virando para o lado de fora novamente- eu espero- sussurro como uma resposta para mim mesmo.

Ele estaciona o carro, saio sem me despedir, rapidamente atravesso o estacionamento e passo pela entrada, vou direto para a sala de aula me sentando no mesmo lugar de sempre.
A primeira aula passa rapidamente, o sinal toca, fazendo todos saírem da sala, tento passar rápido pelos corredores, não quero ser visto por ninguém hoje.

DisasterologyOnde histórias criam vida. Descubra agora