Durante o dia todo não parou de chover, a chuva parece parar nunca, ela não me incomoda. Quero ver Kellin, porém a chuva do lado de fora, parece me convencer a continuar em casa, mas o sentimento de estar preso em meu quarto, perdendo a oportunidade de viver a vida, toma conta de mim, apenas quero sair de casa, ser um adolescente normal por cinco segundos.
Desço as escadas indo em direção a cozinha, porém paro ao ouvir a voz de meus pais, sem conseguir me mexer.-Nós não vemos Vic ou Mike fazem dias, eles sempre estão fora de casa ou trancados no quarto e quando estão em casa, a gente sempre está trabalhando- escuto minha mãe dizer.
-Você sabe que não tem nada que a gente possa fazer sobre isso, não tem como parar de trabalhar para ficar com eles- meu pai responde, com a mesma voz de sempre, alta como se não se importasse com que o escute e se ofenda com tudo que foi dito.
-Eu não falei isso- a irritação na voz da minha mãe pode ser notada- só estou preocupada, principalmente com Vic, não quero que as mesmas coisas aconteçam como da última vez, pelo fato de que não estamos em casa o bastante.Volto a subir as escadas antes de escutar a resposta do meu pai, ainda posso ouvir o movimento na cozinha, porém desta vez não tão claramente como antes. Entro em meu quarto olhando para a janela mais uma vez, a chuva parece ter parado por um momento.
Pego minha jaqueta, descendo as escadas novamente. Escuto meus pais me chamarem assim que abro a porta da frente, sussurro uma despedida saindo de casa.
Sem um guarda chuva, começo a andar pelas ruas em direção a casa de Kellin, sinto a chuva fina começar a cair, ela não me incomoda, olho para o céu, sentindo-a cair em meu rosto, dou um pequeno sorriso antes de voltar a andar. A chuva começa a ficar mais forte na metade do caminho, piorando quando chego mais perto da casa de Kellin.
Finalmente chego a casa de porta verde, como me esquecer da primeira vez que entrei nesta casa. Passo pelo quintal, chegando à porta, aperto a campainha, dúvidas começam a passar pela minha cabeça, não sei se deveria estar aqui, sinto borboletas em meu estômago, elas me fazem querer vomitar, me pergunto o porquê dessa ansiedade.- Oi- digo assim que a porta é aberta.
- Oi- Kellin diz dando passagem para eu entrar- o que você faz aqui tão cedo? Você está encharcado.
- Queria te ver.- digo passando a mão pelo cabelo, sinto as gotas pingando em minhas costas. Posso notar suas bochechas corarem um pouco.
- Eu vou pegar uma toalha, melhor você tirar essa jaqueta- ele diz indo em direção do corredor.A tiro, sentindo minhas roupas molhadas colarem em meu corpo. Kellin volta me entregando uma toalha, ele pega minha jaqueta, colocando-a em uma cadeira na cozinha.
- Seu pai está?- digo me enrolando na toalha.
- Ele saiu, não sei quando ele vai voltar- ele diz se sentando no sofá.- Quero sair desse lugar, estou cansado de ficar trancado em casa.
- A gente podia ir para algum lugar.- digo me inclinando no braço do sofá.
- Onde?
- Não sei, a gente podia apenas ir para qualquer lugar longe daqui.
- Vou pegar um casaco- ele diz se levantando.Ele sobe as escadas rapidamente, posso ouvi-lo rir. O sorriso em seu rosto continua ali, assim que ele entra na sala colocando sua jaqueta e uma mochila nas costas, ele me entrega uma jaqueta vermelha, junto de uma blusa e uma calça.
-Você deveria trocar de roupa, antes que você pegue um resfriado- ele diz me olhando- essas devem servir.
Eu entro no banheiro, colocando as roupas que ele me deu, eu sinto o cheiro de cigarros nelas, assim como Kellin. Saio do banheiro, colocando minhas mãos nos bolsos da sua jaqueta, ele sorri me olhando.
-Vamos- ele diz estendendo sua mão, eu a pego, entrelaçando nossos dedos.
Saímos da sua casa, a chuva parece ter piorado, nós corremos em direção ao carro, Kellin se senta no banco do motorista e eu ao seu lado, ele solta uma risada que aquece meu coração, o olho com um sorriso em meu rosto.
Ele liga o carro, dirigindo para algum lugar. O rádio toca músicas antigas, acompanhadas pela sua voz, penso em me juntar a ele, mas não sinto coragem para fazer isso.
Kellin para o carro em um lugar vazio, apenas postes de luz e algumas árvores podem ser vistos ao nosso redor, com o carro desligado tudo que pode ser ouvido é o som acolhedor da chuva. Nos sentamos no banco de trás, ele pega um cobertor de dentro da sua mochila, nos cobrimos sem dizer nada, me deito em seu peito e ele passa sua mão pelo meu cabelo.
Olho para Kellin, ele parece distraído, sua mente parece distante desse mundo, com pensamentos que não parecem querer o deixar sozinho.- No que está pensando?- pergunto o olhando.
- Em um sonho idiota.
- Me conta.- eu digo pegando a sua mão.
- Não é nada- ele faz uma pequena pausa, que parece durar uma eternidade- É só um sonho onde nós podíamos voar.
- E se você pudesse, para onde iria?
- Para qualquer lugar longe daqui, e você?- ele diz me olhando.
- Também, talvez nos encontraremos lá.
- Ou nós poderíamos ir juntos, viveríamos lá.- essas palavras fazem um pequeno sorriso brotar em meus lábios.- Eu adoro esse sorriso.- ele me dá um pequeno beijo.As luzes dos postes de luz refletem em seu rosto, iluminando seu sorriso. Ele se aproxima de mim, colando o seu rosto no meu, sinto seus lábios colidirem com os meus, sinto as borboletas em meu estômago novamente, me pergunto se algum dia elas passaram.
Me sento em seu colo, sinto seus beijos em meu pescoço, ele abre o zíper da jaqueta, passando suas mãos pelos meu ombros, eu a tiro, colocando-a no chão, o pânico do outro dia não parece mais existir, porém eu sei que ainda está ali. Ele coloca suas mãos em minhas coxas, passo meus dedos pelo seu cabelo, o beijo novamente, começo a notar o pano da minha blusa deixar meu corpo, o pânico que estava tentando evitar se faz presente, o bastante para Kellin notar, ele para, ainda segurando minha blusa no mesmo lugar.-Vic, a gente pode parar se você não quiser- ele diz me olhando nos olhos, talvez eu apenas precisava de palavras de conforto sendo ditas por alguém.
-Não é nada, eu estou bem- digo, o olhando, posso perceber a preocupação em seu olhar, pego as suas mãos as colocando em contato com minha pele, por baixo da blusa.O beijo novamente, ele põe suas mãos ao redor da minha cintura, as mantendo por baixo da blusa, meu pânico parece passar um pouco, o bastante para eu não me importar.
O futuro, está a poucas batidas de nossos corações, distante, estamos longe do desastre que nossas vidas são, longe da realidade.Talvez sejamos jovens demais para amar, para saber o que para sempre significa, mas não sei mais se sei saberei como viver sem isso.
Deito ao seu lado, ele me abraça para que nenhum dos dois caia do banco, coloco minha cabeça em seu peito, sinto-lhe subir e descer com a sua respiração.-Eu tenho que voltar para casa- Kellin diz, passando sua mão pelo meu cabelo.
-Você vai ficar bem?- pergunto me sentando.
- Acho que sim- ele se senta, pegando sua camiseta e a vestindo.
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Disasterology
Teen FictionSomos apenas desastres, pedaços partidos. "Alguém pode salvar outra pessoa, mesmo quando sua vida está desmoronando?" Vic, um garoto o qual sofre bullying e problemas familiares. Kellin, um garoto novo, o qual vive com seu pai, um alcoólatra. Será q...