Props And Mayhem

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Paro na frente da casa, vendo Kellin andando de um lado para o outro, passando seu telefone de uma mão para a outra, sinto a culpa começar a me tomar, ele me olha, parando de andar porém ainda passando seu telefone de uma mão para a outra, ele anda em minha direção, me abraçando.
Nos deitamos na minha cama, me viro para Kellin, ele coloca seu braço ao meu redor. A preocupação em seu olhar faz meu estômago pesar, posso notar lágrimas se formando, elas embaçam minha visão, ele me abraça, coloco meu rosto em seu ombro, molhando sua camiseta.
Meus sentimentos não vão embora, sinto um vazio crescer dentro de mim, aos poucos, ele parece pior do que antes.
Tento fechar meus olhos, mas não consigo, Kellin parece em paz em seus sonhos, queria poder fazer o mesmo, mas não posso deixar de sentir a culpa me tomar, queria que ela pudesse apenas passar por cinco segundos, que ela parasse de cavar um buraco em meu coração. 
Escuto Kellin chamar meu nome, meu quarto parece tomado pela luz do lado de fora.

-A gente vai se atrasar para a escola- ele diz sentando ao meu lado, com suas mãos em meu braço.
- Eu não quero ir hoje, apenas me deixa ficar aqui, dormindo mais um pouco.- digo baixo, mais como um sussurro.
- Vic, você está bem?- ele coloca uma mão em minha testa, com um tom de preocupação em seu rosto.
-Eu não sei, estou apenas cansado, acho.-digo puxando minha coberta para mais perto de mim.
- Acho melhor ficar com você.
- Não- digo o olhando, ele me olha se afastando um pouco- não quero que perca um dia de aula por minha causa.
-Não faz mal- ele se deita ao meu lado- eu quero ficar aqui.

Fecho meus olhos, sentindo a mão de Kellin passar pelo meu cabelo, respiro fundo tentando apenas ignorar o vazio em meu peito e me concentrar nesse momento. Eu deveria estar feliz por ter ele do meu lado, mas tudo que eu sinto é como eu não sou o suficiente, em como eu não deveria estar aqui, me sinto morto, apenas um desperdício para os outros.
Acordo, olhando para a parede, ainda posso sentir Kellin passar sua mão pelo meu cabelo, o cansaço parece ter ido embora, mas ainda não me sinto bem o bastante para nada, ainda sinto como se eu tivesse um peso sobre meu corpo me mantendo no mesmo lugar.
Olho para cima, ele me olha dando um pequeno sorriso, ainda posso notar em seu olhar como se tivesse me medo de que eu possa fazer algo, não o culpo por se sentir assim.

-A gente deveria comer alguma coisa- Kellin diz se levantando.
-Eu não estou com fome- o pensamento faz minha garganta se trancar.
-Eu faço alguma coisa para você- ele diz me olhando.
-Eu não quero, não consigo comer nada agora- me viro para ele- mas se você quiser, você pode fazer algo.
-Eu já volto, tem certeza de que não quer nada?- ele me pergunta, parado ao lado da porta.
-Sim- eu digo balançando minha cabeça.

Me viro na cama, olhando para a janela, a culpa parece maior ainda agora, lágrimas começam a cair, tento para-las mas não consigo, quero me sentir de outra forma mas não consigo, parece que eu estou parado nesse mesmo estado sem emoções, minha mente vai para o mesmo lugar de sempre, um que me diz que eu posso me livrar desse sentimento de uma forma rápida, por mais que ela nunca seja a solução, fecho meus olhos, tentando fazer isso tudo parar. Passos no corredor me fazem eu virar para a porta, ainda sentindo minhas lágrimas caírem, Kellin para na porta, me olhando, posso notar seu sorriso se desfazer, sendo tomado pela mesma preocupação de antes.

-O que aconteceu?- ele se senta na cama, deixando seu prato na cabeceira.
-É só esse vazio no peito- minha voz treme, passo minha mão pelo meu rosto, secando minhas lágrimas, por mais que elas ainda caiam- Eu me sinto culpado por ontem.

Ele me abraça, coloco meu rosto em seu ombro, deixando em sua camiseta algumas marcas das minhas lágrimas.

-Me desculpa, desculpa, desculpa- digo, posso ouvir meus soluços contra seu ombro.
-Não precisa se desculpar- ele diz, mais como um sussurro.
-Desculpa, eu não quero te preocupar mas isso é tudo que eu tenho feito.
-Você sempre vai me preocupar e não tem motivos para pedir desculpas por isso, eu me preocupo, porque você é importante para mim.

As lágrimas param de cair, mas eu continuo o abraçar, ainda me sinto culpado, sei que não deveria pensar tanto em como o magoei, em como o fiz sentir, uma parte de mim, ainda acredita que eu o fiz me odiar.
Me deito na cama, ele ainda me olha, pego a sua mão tentando não o preocupar mais, deixo um pequeno beijo nela, ele me dá um pequeno sorriso triste, se deitando ao meu lado. A escuridão do lado de fora começa a tomar conta do quarto, Kellin liga a luz da luminária na cabeceira da cama, ele se vira para mim novamente, passando sua mão pelo meu cabelo. Seu telefone começa a tocar, ele o ignora pela primeira vez mas checando quem o ligou assim que a música para de tocar, ele me dá um pequeno beijo na testa se levantando e andando pelo quarto, ignorando telefonemas que não param, ele segura seu telefone, encarando a tela dele, sem o atender.

-Você não precisa passar a noite aqui, ainda mais com seu pai te ligando- eu digo, me sentando na cama.
-Mas eu quero, não me importo com o que ele vai falar ou fazer- ele diz me olhando, sei que ele está mentindo, posso ver isso em seu rosto- eu quero ficar, ter certeza que você está bem.

Queria apenas dizê-lo que eu vou, que ele não precisa se preocupar, mas eu não consigo, não agora, não quando sinto que não tenho esperança nenhuma de que eu vou melhorar. Ele põe seu telefone em seu bolso da sua calça, passando suas mãos pelos bolsos traseiros da calça, me olhando mais uma vez, ele sai do quarto. Me deito, novamente, olhando para o teto, sinto uma preocupação crescer em meu peito, não quero que algo aconteça com Kellin por minha culpa, isso não estaria acontecendo se eu não tivesse tentado fugir. Escuto pequenas batidas na porta, me viro para ela, o vendo parado na porta, dou um pequeno sorriso.

-Tony está me perguntando sobre você, ele quer saber se você está bem- Ele diz andando em direção da cama, se deitando ao meu lado- eu disse que você estava meio doente, não quero o preocupar mais.
-Obrigado.
-Ele disse que Mike está preocupado com você- eu o olho, eu deveria falar com Mike- Você tem conversado com ele?
-Não, quero me desculpar pelo outro dia, mas ele não tem estado em casa faz algum tempo, eu não acho que deveria fazer isso por mensagem.
-Ele não sabe que você ia embora?- ele me olha.
-Não- eu digo olhando para baixo- eu deveria ter falado algo para ele, deixado uma nota ou algo, mas eu não fiz nada disso. Eu não estava pensando em nada na hora que coloquei a mochila nas costas, não pensei em como todos ao meu redor se sentiriam.- Kellin pega a minha mão, passando seu dedo pelos nós da minha mão.

Me sinto mais culpado do que nunca, a madruga não parece ajudar, me sinto cansado, me sinto vazio, minha culpa parece a única coisa em minha cabeça. Não queria me sentir tão culpado assim, isso me faz pensar na mesma solução de sempre, a que tenho tentado evitar, não quero ela, sei que ela não vai ajudar, por mais que o vazio no peito seja mais doloroso que a culpa acompanhada das minhas ações.

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