CAPÍTULO 7

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Gabriel está me encarando e continuo petrificada no lugar onde estou.

Ele está usando um casaco xadrez azul, jeans também azul e tênis. Eu nunca o vi tão bem-vestido em toda a minha vida. Percebo, com espanto, que Gabriel deixou a barba crescer dessa vez, assim como o cabelo moreno, que está com as mechas caindo em cima dos olhos. Gabriel está ainda mais bonito.

— Oi. — sussurra, sorrindo.

Também sorrio, deixando as lágrimas caírem.

— Oi. — digo.

Diminuo o espaço entre nós, correndo até ele e me jogando em seus braços, que me apertam em resposta.

Nós nunca nos abraçamos antes, ele apenas passava o braço ao redor do meu ombro e me dizia coisas reconfortantes quando eu estava triste.

Mas de uma coisa tenho certeza, que eu deveria ter feito isso antes, que deveria ter aproveitado todas as vezes que tive oportunidade para mostrar a ele o quanto é importante para mim.

Minhas lágrimas estão encharcando a blusa dele, enquanto seus braços continuam a me apertar em um abraço de urso. Seu rosto está enterrado entre meus cabelos e o meu está contra o seu pescoço, sentindo o cheiro do perfume novo dele. Percebo tarde demais que, com certeza, ele já foi chamado para o trabalho no bairro, por isso está vestido dessa maneira, e isso só me faz chorar ainda mais.

— Ei. — sussurra, se afastando e segurando meu rosto com as duas mãos, me observando atentamente. — Não chore, Em. — sorrio ao ouvir o apelido que me deu. — Sabe que odeio ver você chorar.

Isso faz meu coração se apertar.

— Eu sei. — respondo, e tento me controlar. — Você está bem? Como veio parar aqui?

Ele sorri, mas não parece sincero.

— É um longa história. — e começa a enxugar meu rosto com cuidado. — Mas olha só pra você. — ele se afasta e me examina de cima a baixo. — Você está tão linda.

— Obrigado. — sinto minhas bochechas esquentarem. — Você também está bonito.

Ele sorri e pega uma das minhas mãos.

— Emily? — ouço uma voz chamar, e lembro do Sr. Prior. Me viro, o encontrando parado logo atrás de mim, encarando Gabriel e eu. — Quem é esse?

— Esse é meu amigo de infância Gabriel. Gabriel, esse é o meu chefe Erick.

— Chefe? — pergunta, encarando Erick.

— É, eu tenho um trabalho. — respondo sorrindo, e fazendo ele sorrir também.

— O quê? Sério? — ele ri, acariciando meus dedos com os seus. — Fico feliz por você, Em. Sei que sempre quis ter um emprego.

— Obrigado.

— Então você é amigo da Emily? — pergunta Erick, chamando a nossa atenção.

— É Érico, não é? — fala Gabriel, estendendo a mão para cumprimentá-lo.

— Erick. — corrige meu chefe, apertando a mão dele de volta. — E o seu é Gabriel, certo?

— Isso mesmo.

Os dois trocam os apertos, mas mantém o olhar um no outro, até mesmo quando separam as mãos.

— Posso saber o que estava fazendo rondando o meu carro? — pergunta Erick, colocando as mãos de volta no bolso da calça.

Gabriel suspira, enquanto volto a encará-lo, lembrando o que ele estava fazendo antes de chegarmos.

— Preciso falar com você em particular. — sussurra Gabriel, se inclinado para frente e se desviando da pergunta.

— Primeiro me diz o que você estava fazendo. — interrompe Erick, me puxando pelo cotovelo até o seu lado.

— Estava procurando por ela. — Gabriel aponta com o queixo na minha direção.

— Como sabia que o carro era meu? Estava nos seguindo?

Vejo com horror quando meu melhor amigo fecha os olhos e suspira, evitando responder. Então a minha ficha cai e agradeço por Erick ainda estar me mantendo em pé.

— Eles te mandaram atrás de mim, não é? — pergunto, baixinho.

Gabriel balança a cabeça.

— Sim.

— Quem está atrás de você? — sinto os dedos de Erick se fecharem ainda mais no meu braço.

— É... complicado. — respondo, ainda olhando para Gabriel. — Preciso ter uma conversar com ele, a sós.

— Não vou te deixar sozinha com ele. — diz, me puxando para mais perto de si.

— Gabriel não vai me machucar.

Erick e eu nos encaramos, enquanto tento parecer firme e durona. Por fim, percebendo que não me faria mudar de ideia, seus dedos se afrouxam no meu cotovelo.

— Obrigado. — agradeço, olhando rapidamente para Gabriel e percebendo que ele está nos observando. — Não vou demorar.

— Vou ficar vigiando você. — avisa.

Aceno com a cabeça e me viro para o meu melhor amigo. Nós esperamos Erick se afastar um pouco.

— O que aconteceu? — pergunto. — Por que escolheram logo você?

Ele suspira e se aproxima, para podermos conversar em voz baixa.

— Me recrutaram antes do tempo. — responde, enquanto meus olhos se arregalam. — Levar você de volta é o meu teste.

Engulo em seco, sentindo minha garganta seca ao ouvir isso.

— Mas... mas eles não podem fazer isso com você, eles não têm o direito.

— Eles não sabem que somos amigos.

Seguro a mão de Gabriel, a apertando de leve.

— Tem certeza disso?

— Tenho. — ele hesita, enquanto me encara, parecendo pensar em algo. — Preciso te contar uma coisa.

— O que foi? — sinto ele apertar minha mão de volta, e tento preparar meu coração para o que está por vir.

— A sua mãe...

— O que tem a minha mãe? Ela está bem? A machucaram por minha causa? — pergunto, antes que ele tenha chance de terminar a frase.

Não importa o quanto me prepare, se for algo relacionado a minha mãe me sentirei desabar. Eu não consigo suportar o medo que tenho de perder o único membro da minha família.

— Ela está bem. — fala, enquanto seu polegar acaricia minha mão em pequenos círculos. — Quando me chamaram pra me juntar a eles, um homem chamado Thomas me encontrou na boate e me disse que alguém nos daria informações sobre você.

— E? — pergunto, ansiosa. — Quem é essa pessoa?

O vejo engolir em seco antes de responder.

— Era a sua mãe. Ela nos encontrou e respondeu todas as perguntas de Thomas.

— Não. — sussurro, balançando a cabeça. — Minha mãe não faria algo assim, ela me ama, não iria me dedurar para eles.

— Sinto muito. — murmura, e percebo a dor na sua voz ao me contar tudo isso.

Abaixo a cabeça, encarando meus sapatos e apertando com mais força a mão de Gabriel. Agora, mais do que nunca, preciso de um amigo.

Se minha mãe realmente fez tudo isso, me entregou para as pessoas nojentas que vão me usar apenas como um brinquedo, não sei mais quem é essa mulher. Não que eu já a conhecesse antes, já que ela mal permanecia em casa e quando isso acontecia passava ainda menos tempo comigo. Não lembro quando foi a última vez que ela me abraçou, quando disse que me amava ou que me botou para dormir, dizendo que tudo ficaria bem. Ela não é mais a minha mãe e duvido que um dia já foi.

— Em? — Gabriel me chama delicadamente, me puxando para mais perto.

— Desculpa. — sussurro, enxugando algumas lágrimas que escaparam.

— Tudo bem. — diz, acariciando meu cabelo. Ele suspira e olha ao redor. — Eu sei que você tem um emprego agora, e fico feliz com isso, mas preciso que se esconda de agora em diante, está bem? Todos no nosso bairro estão me ajudando a te encontrar.

— E você me encontrou. — digo, erguendo minha cabeça para observá-lo.

— Mas não vou te levar de volta para aquele lugar de merda. — quando ele se aproxima ainda mais, sinto sua respiração no meu rosto e sua mão ainda no meu cabelo. Eu não tinha visto esse lado protetor dele ainda. — Vou tentar levar eles pra algum outro endereço, mas já sabem que você trabalha pro playboy ali.

Olho para Erick quando Gabriel acena com a cabeça na direção dele, percebendo que ele está nos encarando.

— Não posso fugir. — sussurro, voltando a olhar para o meu melhor amigo. — Se eu fizer isso vão te matar.

Gabriel sorri.

— Não me importo, vai valer a pena se você permanecer viva.

— Não. — o abraço, tentando fazer com que fique comigo e não se afaste. — Por favor, não faça isso.

Ouço seu coração bater freneticamente quando pressiono minha cabeça contra o seu peito quente.

— Prometo que vou fazer de tudo pra despistar eles, ok? — sussurra, e sinto quando beija o topo da minha cabeça.

— Prometa que vai voltar vivo pra mim.

Ele ri baixinho.

— Prometo.

Sorrio contra o tecido da sua camisa, me satisfazendo com pelo menos essa palavra dele.

— Feliz aniversário. — murmuro, e sinto seus braços ao redor de mim.

— Obrigado, Em. — Gabriel acaricia de novo meu cabelo antes de se afastar um pouco. — Preciso fazer uma coisa.

— Que coisa?

— Tenho quase certeza que alguém me seguiu pra ver se eu iria mesmo achar você.

— E agora?

— Só vão se convencer de que tentei mesmo te levar de volta quando me verem com um olho roxo.

— Por que isso os convenceria? — pergunto, sem entender onde ele quer chegar.

— Porque vou dizer que o playboyzinho me bateu e me impediu de te trazer.

— Mas o Erick não vai te bater sem um motivo. — falo, sabendo que meu chefe não é assim.

— Eu sei. — Gabriel sorri, me deixando ainda mais confusa.

Em seguida, sinto as mãos dele segurarem minhas bochechas e me puxarem na direção do seu rosto, fazendo meus lábios se encontrarem com os seus. Não consigo impedir que meu coração acelere quando sinto ele me beijar e mover os lábios gentilmente.

Ainda estou em choque com o ato dele, mas cedo segundos depois, fechando meus olhos.

Deixo escapar um arfar de surpresa quando sinto meu corpo ser puxado na direção contrária e a única coisa que eu consigo ver é quando algo acerta Gabriel, e ele cai no chão. Em seguida, Erick está na minha frente com as mãos fechadas em punhos e respirando com dificuldade.

— Gabriel. — sussurro.

Ele cospe um pouco de sangue antes de erguer a cabeça para me olhar.

— Em...

— Eu não sei o que está acontecendo aqui — diz Erick, furioso. —, mas é melhor você ir embora agora, garoto.

Gabriel ri.

— Garoto? — ele se levanta com dificuldade, se apoiando em um dos joelhos, e limpando um resquício de sangue no queixo. — Nós temos a mesma idade, idiota.

— O quê? — vejo Erick fechar as mãos com ainda mais força.

— Eu não sei o que você tem a ver com a Em, mas é melhor não se envolver com ela.

Franzo o cenho, sem entender o que Gabriel está dizendo, porém, quando olho para Erick, vejo que essas palavras o atingiram em cheio.

O que está acontecendo?

— É, é isso mesmo. — fala Gabriel, se aproximando de novo. — Jane me contou.

Minha mãe? O que ela poderia saber que eu não sei?

— Vamos embora. — Erick se vira e pega a minha mão, me puxando para longe.

— Eu soube do seu pai. — ouço Gabriel gritar, fazendo meu chefe parar de andar imediatamente. — Ele não era um homem muito bom, não é? — vejo Erick fechar os olhos e respirar fundo. — Eu soube que ele batia em você e na sua irmã, é verdade? Que pai de bosta.

Gabriel está indo longe demais e sei que passa do limite quando Erick solta a minha mão e vai até ele, acertando outro soco no rosto de Gabriel. O vejo cair no chão e bater a cabeça, ficando tonto por um momento e dando a oportunidade de Erick continuar batendo nele. Meu chefe agarra a camisa de Gabriel e acerta outro soco no rosto, e vejo mais sangue escorrer da sua boca.

— Erick, para! — corro até eles, puxando com força o ombro dele, sem sucesso. — Para, por favor!

Erick ergue o braço novamente para acertar outro golpe em Gabriel e aproveito a oportunidade. Agarro seu braço com os meus e me jogo contra ele, fazendo com que perca o equilíbrio e ambos caímos no chão.

— Por favor, pare. — sussurro, sentindo meu corpo tremer.

Levanto minha cabeça e noto que me encontro em cima do meu chefe, com a cabeça contra o seu peito.

Erick está me encarando surpreso, enquanto respira com dificuldade. Quando sinto as lágrimas nos meus olhos, abaixo a cabeça, pressionando minha testa contra seu corpo.

— Não machuque ele. — peço.

Sinto seu peito se inflar quando inspira e depois ele solta o ar lentamente.

— Desculpa. — ouço ele sussurrar.

Me afasto, sentando sobre o meu calcanhar, e observo enquanto Erick faz o mesmo.

Ele apoia o braço no joelho e me encara, ainda respirando com dificuldade.

Me viro quando ouço um movimento atrás de mim e vejo Gabriel no chão, se arrastando um pouco para longe.

— Gabriel... — tento me levantar, mas Erick segura a minha mão.

Olho de novo para Gabriel e observo quando ele sinalize para que eu fique onde estou. Vejo a sua expressão de dor ao tentar se mexer e as marcas roxas ao redor da boca e nas bochechas e o filete de sangue na sua testa.

Ele apanhou de propósito, esse idiota.

Era isso que Gabriel queria, só assim vão acreditar nele.

— Vamos embora. — Erick me ajuda a levantar e me puxa até o carro, enquanto continuo olhando para trás.

Sinto meu peito se afundar em culpa a cada passo e quando Erick sai da vaga, estou chorando de novo.
       

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