CAPÍTULO 14

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— Estamos quase. — anuncia Eva, abrindo a porta do apartamento, e nos deparamos com Pandora e Thor nos esperando. — Já chegamos.

Apesar de já me sentir melhor, Berta caminha ao meu lado segurando a minha mão o tempo todo, enquanto Erick e Eva tentam manter os dois cachorros ocupados.

— Vou preparar algo pra podermos jantar. — anuncia Berta, e me apoio na mesa de mármore.

— Vamos tomar um banho e tirar esse cheiro de hospital de você, que tal? — pergunta Eva, parando ao meu lado.

— Seria ótimo. — concordo.

Eva me segue até o quarto e Erick fica na cozinha com Berta, a ajudando.

— Você está bem mesmo? — questiona a senhora, enquanto procura minha roupa de dormir no guarda-roupa.

— Me sinto cansada. — respondo, me arrastando até o banheiro.

Observo com carinho quando Thor entra no quarto logo em seguida e se deita na minha cama, apoiando a cabeça nas patinhas e me observando de longe.

— Tente não dormir embaixo do chuveiro, ok? — ela sorri, enquanto me entrega um short de tecido fino e uma blusa regata.

— Vou tentar. — brinco, sorrindo também.

— Qualquer coisa é só me chamar. — ela toca minha bochecha e depois sai, me deixando sozinha.

Tranco a porta e tiro minha roupa, entrando no chuveiro logo em seguida. Deixo a água em uma temperatura quente, quase escaldante, enquanto tento espantar o frio do meu corpo.

Apesar de ter ficado com uma camisola do hospital, tive que voltar com o conjunto de biquíni que eu estava usando. A noite está fria e os ventos são piores, e não ajudou em nada o fato de que eu poderia cair dura de frio no chão a qualquer momento.

Ergo meu rosto, fazendo a água cair diretamente na minha face, e lapsos de memória dos braços ao redor de mim me trazem arrepios, mesmo na água quente.

Pensei mesmo que iria morrer, de que tudo que eu havia feito até agora não passaria de arrependimento, e achei que meu último desejo de ser beijada por Erick não passaria de um sonho. Mesmo estando viva agora, não sei dizer se isso ainda vai se realizar ou de que sequer isso é uma boa ideia.

Cubro meu rosto com as duas mãos e fecho os olhos, lembrando da sensação dos dedos de Erick na minha pele. A maneira como me olhava com carinho, como sussurrou em resposta a minha confissão de que tanto pareceu gostar e de que parecia nervoso por estarmos tão próximos.

Pressiono minhas coxas uma contra a outra, me encolhendo, sentindo meu corpo responder quase que imediatamente as sensações do toque de Erick e das lembranças dos lábios dele no meu pescoço. Minhas mãos no meu rosto descem pela minha garganta, em seguida para o meu peito e para a minha cintura, e um pensamento indecente de que eu adoraria ser beijada por Erick nesses lugares invade minha mente.

Talvez não haja mais como eu me enganar.

Talvez esteja apenas tentando encobrir o óbvio.

Talvez seja hora de admitir que estou me apaixonando pelo meu chefe.

Meu chefe que apenas fica com as garotas, que nunca se envolve sério e que jamais se apaixonou.

Pego o sabonete e o esfrego sem ânimo pelo meu corpo, enquanto tento pensar em algo que não tenha a ver com Erick.

Visto meu pijama quando termino de me secar e saio do banheiro, fazendo carinho em Thor na cama. Caminho até a cozinha e encontro Berta sozinha, mexendo algo em uma panela grande.

— Precisa de ajuda? — pergunto, ficando ao lado dela.

— Meu Deus, você me assustou. — sussurra, colocando uma mão sobre o coração.

— Desculpa. — sorrio.

— Como foi o seu banho?

— Foi bom, o frio já passou um pouco. — falo, abraçando a mim mesma. — Onde está a Eva?

— Ela foi tomar um banho no chuveiro do meu quarto. — responde, se virando para a tábua e cortando a cenoura em pedaços pequenos. — E Erick foi fazer o mesmo no quarto dele.

— E você? — pergunto.

— Vou ir depois que terminar a janta. — ela sorri, se virando para me observar rapidamente ainda parada ao lado do fogão. — Espero que goste de sopa. Não há nada melhor pra se esquentar do que uma boa sopa, pelo menos era o que a minha mãe sempre dizia.

— O que mais precisa ser feito aqui? — fico ao lado dela na pia.

— Só deixar a cenoura cozinhar um pouco e depois o macarrão.

— Então pode ir tomar banho que eu cuido disso. — falo, tirando as mãos dela da faca e a virando na direção contrária. — Você merece um banho decente tanto quanto eu.

— Você tem certeza? — pergunta, franzindo o cenho de preocupação.

— Pode deixar comigo. — sorrio. — Prometo não botar fogo na cozinha.

— Bom mesmo. — ela aperta a minha mão.

— Pode usar o chuveiro do meu quarto. — digo.

— Obrigado, querida. — ela me lança um último sorriso e caminha até o meu quarto.

Quando ouço a porta se fechar, começo a cortar a cenoura em pedaços pequeninos como Berta estava fazendo. Tento sair com os dedos inteiros e intactos, mas quase me corto quando me viro ao ouvir algo atrás de mim.

Encontro Erick apoiado na parede da sala, logo no corredor, me encarando enquanto finjo saber o que estou fazendo.

— Não sabia que você era cozinheira. — fala, sorrindo.

— Só estou tentando ajudar. — respondo, voltando a olhar para frente. — Não gosto de deixar a Berta fazer tudo sozinha.

Espero, mas ele não responde e me viro, pensando que eu disse algo de errado de novo que o fez se calar, mas Erick não está mais lá.

Suspiro, voltando para a minha tarefa e me mantendo perto do fogo para ficar aquecida.

Não demora muito para eu ouvir os passos de Erick se aproximarem rapidamente e me viro de novo, esperando encontrar ele com uma expressão estressada, mas o que vejo me faz paralisar diante do seu corpo.

Ele para na minha frente, perto demais de mim, e passa o cobertor que está carregando ao redor dos meus ombros. Erick puxa o tecido mais para frente para cobrir meu peito e seus dedos roçam na minha barriga e, mesmo por cima do tecido fino, a resposta do meu corpo é imediata.

— Prontinho. — sussurra ele, ainda segurando o cobertor perto do meu rosto para não deixá-lo cair. — Agora sente-se.

Isso finalmente me faz sair do transe.

— O quê?

— Deixa que eu cuido da janta.

Pego o tecido grosso do cobertor e puxo para cobrir a minha cabeça, fazendo com que Erick se curve para frente e coloque as mechas do meu cabelo rebelde para dentro novamente.

— Tem certeza? — pergunto, mesmo estando concentrada na sua boca, lembrando das indecências em que fantasiei com ele no chuveiro.

— Absoluta. — ele sorri e passa por mim, ocupando o meu lugar na pia.

— Ok. — sussurro, caminhando até a cadeira e me sentando.

Puxo um pouco o cobertor para não arrastar no chão e observo Erick trabalhar.

Ele corta a cenoura com rapidez e habilidade, como se já tivesse feito isso milhares de vezes, e depois despeja os pedacinhos dentro da panela. Ele lava as mãos e então as seca, jogando o pano sobre o ombro em seguida.

— Você não está com frio? — pergunto, vendo que está usando apenas uma calça larga de moletom de cós baixa e uma regata branca.

— Nem um pouco. — responde, abrindo o armário e tirando um pacote de macarrão de lá. — Eu estou com calor.

— Dá pra ver. — resmungo, passeando meus olhos pelo corpo dele.

— Mas e você? — pergunta, largando a embalagem ao lado do fogão e apoiando as mãos em cima do mármore branco, ficando na minha frente. — Está tudo bem mesmo?

— Eu estou bem, não precisam mais se preocupar. — aperto o cobertor nas minhas mãos.

— É difícil fazer isso depois do que aconteceu. — responde, enquanto seus olhos descem para a mesa na sua frente. — Ainda mais depois... que...

Espero ele continuar, mas isso não acontece. Erick apenas encara o mármore branco com atenção, como se lembrasse de algo.

— Erick? — chamo.

Ele ergue a cabeça, estuda meu rosto por alguns segundos e depois abre um sorriso, um daqueles sorrisos dele que revela a sua covinha.

— Minhas broncas finalmente te fizeram parar de me chamar de senhor? — brinca.

Desvio o olhar, sem responder, e o sorriso dele murcha aos poucos. O vejo engolir em seco e caminhar até o meu lado, se sentando na cadeira a minha direita.

— Posso perguntar porque disso agora? — questiona, sério.

— Disso o quê?

Mantenho meu corpo virado para a frente, tentando me distanciar de Erick.

— Foi por causa daquele dia na sala de jogos?

Minhas bochechas queimam ao lembrar do ocorrido.

— Não. — respondo, suavizando o aperto do cobertor e o abrindo um pouco na tentativa de fazer o calor em meu rosto sumir.

— Eu quero que me diga, por favor. — pede, e me viro surpresa para encará-lo. — Estávamos bem, não é? Naquela noite, nós conversamos e tentamos resolver o seu problema, e eu senti que ficamos mais próximos.

Olho para baixo, sem conseguir aguentar a maneira como está me observando.

— Eu sei. — sussurro.

— E quando aquilo aconteceu — ele abaixa o tom da voz, se curvando um pouco para a frente. —, eu pensei que fosse algo que nós dois queríamos.

— Você queria? — pergunto, me sentindo uma bobinha apaixonada.

A frase que ele sussurrou no meu ouvido aquele dia retorna à minha mente.

— E você? — questiona Erick, parecendo ansioso enquanto me encara pela resposta.

Quero dizer que sim, que queria mais do que qualquer coisa e que tinha certeza sobre isso. Por um momento, quando estávamos nós dois no chão e Erick estava me provocando, me peguei pensando que talvez seja uma maneira dele dizer o que sente.

Então, isso quer dizer que gosta de mim, certo? Ou que se sente atraído por mim?

Agora, aqui de frente para ele, eu preciso me controlar para não rir, sabendo que algo assim jamais vai acontecer. Berta e Eva me contaram o suficiente para saber que eu mesma estou me iludindo. Um homem lindo como Erick está sendo carinhoso comigo e estou confundindo isso com gentileza.

— Não. — respondo, respirando fundo logo em seguida e erguendo minha cabeça. — Eu sou sua secretária, Sr. Prior, algo assim não pode acontecer de novo, não acha?

Ele se recosta contra a cadeira, ainda me encarando, e passa uma mão lentamente pela nuca. O suspiro alto dele preenche a cozinha inteira.

— Tem razão. — sussurra, e depois sorri, mas percebo que dessa vez não há nenhum sentimento presente nele. — Eu sinto muito pelo o que fiz e não quero que confunda isso com assédio, pois você é a minha melhor funcionária e jamais faria algo assim com você.

— Eu sei. — digo, sentindo um nó na garganta.

— Então eu peço desculpas. — fala, ainda mais baixo, sem conseguir me encarar também. — E prometo que isso não vai acontecer de novo.

Sorrio, sabendo que minha expressão forçada vai parecer estranha aos seus olhos.

Ele balança a cabeça, sério, parecendo perdido em pensamentos, e então se levanta. Mas seus pés travam no meio do caminho.

— Você podia ter me parado. — resmunga, de costas para mim.

Sinto meu coração bater forte contra minha caixa torácica.

— O quê?

— Você podia ter me parado, mas não fez nada. — ele se vira, e posso ver seu peito subir e descer rapidamente. — Eu só preciso ouvir uma coisa de você.

Ouço o barulho do caldo fervendo no fogão por tamanho silêncio que reina aqui.

Me levanto, apertando o cobertor com força, tentando me manter em pé sob a pressão do olhar de Erick. Mal tenho tempo de caminhar até o fogão, tentando escapar dessa situação constrangedora, quando o corpo de Erick me bloqueia e seu quadril pressiona o meu contra a mesa.

— O que está fazendo? — olho ao redor, para qualquer lugar, menos para os braços dele ao redor de mim.

— Com certeza uma estupidez. — responde.

O cobertor escapa por entre meus dedos quando sinto o toque inesperado das duas mãos de Erick no meu rosto, acariciando minhas bochechas com gentileza.

— E o que você disse antes sobre... — começo.

— Eu menti. — interrompe, e engulo em seco. — Não posso prometer algo assim.

— Por que?

O corpo dele se aconchega ao meu quando se aproxima ainda mais e, quando tento me mexer, suas pernas me prendem contra o mármore.

— Porque eu quase sempre tenho o que quero. — sussurra, segurando mais firme o meu rosto. — E eu quero você, Emily.     

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