CAPÍTULO 24

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— Então é verdade? — sussurro, segurando o copo com mais força.

Erick continua me encarando e seus olhos incrivelmente verdes e belos estão mais assustados do que eu jamais havia visto antes. Ele ainda não disse nada e nem tentou desmentir o que acabei de falar, o que Leonard acabou me contando.

Olho para a mesa em que Jessy está e que agora está sorrindo por algum motivo. Como ela pode agir assim quando sabe o que está fazendo com Erick? Como ela pode machucá-lo assim?

— É por isso que você vai se casar com ela? — questiono.

Erick fecha os olhos e respira fundo, me ignorando por alguns segundos. Quando ele volta a abrir os olhos, eles estão sérios e não demonstram qualquer traço de emoção.

— Não faço ideia de onde você tirou isso, Emily, mas é melhor não dizer isso a ela.

— Por que não? Ela vai te ameaçar ainda mais?

— Ela não está fazendo isso. — fala alto, e a atenção dos hóspedes se viram rapidamente para nós.

Sinto meus olhos queimarem com isso, percebendo que ele jamais havia usado esse tom antes. Jamais havia falado alto comigo ou demonstrou esse comportamento tão irritado.

Percebo que ele consegue me machucar mais do que eu gostaria.

Erick fecha os olhos e desvia a atenção para a neve lá fora, evitando encarar o meu rosto infeliz.

— Sinto muito. — pede, se levantando logo em seguida e se afastando da mesa.

Então, estou certa, Jessy o suborna. Agora só preciso saber o porquê e tirar essa história a limpo, mesmo que não seja da minha conta.

— Posso me juntar a você? — pergunta Gabriel, de pé ao meu lado.

— Gabriel. — sussurro, piscando algumas vezes para espantar as lágrimas, sem perceber que ele havia se aproximado. — É claro que sim.

— Quem estava aqui? — questiona, vendo a comida de Erick quase toda intacta.

— Eu estava conversando com Erick. — respondo, e vejo seu semblante mudar rapidamente. — Vou ter que revisar algumas coisas com ele sobre a reunião de amanhã.

— Quanto tempo vão levar fazendo isso?

— Eu não sei ainda.

Ele franze os lábios e pega a minha mão que está em cima da mesa.

— Então acho melhor tomarmos um café juntos antes.

Sorrio, mesmo que por dentro ainda esteja doendo a compreensão do que acabei de falar com Erick, mas sabendo que isso não é problema de Gabriel e que nem deveria ser meu.

                              
Me encontro no quarto que Erick e Michael estão hospedados, mesmo apenas estando o Sr

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Me encontro no quarto que Erick e Michael estão hospedados, mesmo apenas estando o Sr. Prior comigo.

Nós estamos revisando alguns papéis de dados em silêncio, com um clima horrível sobre nós dois por causa da conversa de mais cedo. Já devemos estar aqui há algumas horas, mas elas parecem ainda mais longos e torturantes.

Evito encarar Erick, mesmo sabendo que ele está fazendo o mesmo, já que seus olhos não desgrudam da mesma página há 15 minutos. Ele está tão avoado quanto eu, já que estou pensando em como falar com Jessy sobre esse assunto.

Não posso deixar que ela continue com isso quando sei que está manipulando Erick e os seus sentimentos. Além do fato de que esse casamento não será por amor e de que Jessy irá sofrer mais do que ela pode imaginar. Mesmo que seus pais se orgulhem dela, mesmo que mostrem isso movidos pelo dinheiro de Erick, uma hora ou outra ela vai perceber o erro que cometeu. Mas não quero que leve tanto tempo para que isso aconteça. Quero que Erick siga em frente e encontre a primeira paixão dele e quero que Jessy saiba o que é o sentimento de amor e que ache alguém que a ame do jeito que ela é.

As únicas palavras que Erick e eu trocamos são sobre os dados e os diálogos são curtos, o que me leva a crer que se continuarmos assim a reunião de amanhã não será nada boa.

Antes que eu consiga entender o que estou fazendo aqui, Michael já trouxe o nosso almoço e o sol já está se pondo.

Me pego olhando pela janela do quarto, vendo a trégua que a neve deu e as poucas folhas verdes que são possíveis de serem vistas pela quantidade absurda da geada.

Mesmo com o casaco quente e estando dentro do quarto, o frio está começando a ficar insuportável e temo que apenas esse casaco não irá me aquecer. A lareira não está acessa e não há nenhum som aqui dentro a não ser as nossas respirações e as das páginas sendo viradas.

Viro minha atenção para Erick.

Ele está com os cotovelos sobre a mesa e está olhando com atenção para uma página que não parece diferente da que era a de algumas horas atrás. Algumas mechas do cabelo negro estão escapando do gorro que está usando e posso ouvir o som dos seus sapatos ao baterem incessantemente contra a madeira do chão.

Quando ele ergue a cabeça ao ouvir a batida na porta, desvio meu olhar.

— Trouxe o café, Sr. Prior. — fala Michael, entrando com dois copos de café nas mãos. — E outro pra você, Srta. Emily.

— Obrigado, Michael. — agradeço, pegando o copo e bebendo um pequeno gole.

Jessy aparece em seguida na porta, com um sorriso no rosto como sempre, e saltita para dentro do quarto, parando ao lado da cadeira de Erick.

— Vocês já terminaram? — pergunta, vendo a bagunça na pequena mesa.

— Suponho que sim. — responde Erick, largando o papel que está segurando.

— Então acho que já podemos ir jantar com os meus pais.

Ela se vira para mim e desvia o olhar rapidamente, e o que me pega de surpresa é que não há nenhuma provocação.

— Antes disso, será que eu posso conversar com o senhor? — pergunta Michael, parecendo ansioso de pé ao meu lado.

— É claro. — Erick se levanta.

— Vou deixar vocês conversarem a sós. — falo, me levantando também. Então olho para Jessy, aguentando a raiva que estou sentindo apenas ao lembrar do que ela está fazendo com Erick, e sorrio. — Por que você não faz o mesmo? Tem algo que eu quero conversar com você.

Ela sorri, de um jeito forçado, e acaricia rapidamente o ombro de Erick antes de me acompanhar.

— Emily. — chama o meu chefe, assim que meus pés pisam no vão da porta.

— Sim? — me viro, e o encontro de pé atrás da mesa, me encarando com os olhos arregalados e as sobrancelhas franzidas.

— Não faça nada, por favor. — pede, e o vejo engolir em seco, nervoso.

— É claro, Sr. Prior. — respondo, com um sorriso inocente.

Fecho a porta logo em seguida, sem dar tempo de que ele consiga me repreender, e sigo Jessy até ficarmos em frente a porta do seu quarto.

— O que você quer? — questiona, com uma expressão entediada, e cruzando os braços.

— Precisamos conversar.

— Se for sobre ontem, é melhor você esquecer o que viu lá ou o que quer que tenha conversado com o meu pai. — responde, olhando ao redor como se Leonard pudesse surgir a qualquer momento.

— Esquecer o que, Jessy? Esquecer que eu vi você tremendo por ter medo do seu próprio pai?

— Cala a boca, sua idiota. — sussurra. — Quer que sejamos pegas por isso?

— Então é verdade? Você tem medo dele?

— É claro que não. — ela revira os olhos, mas sei que está tentando mascarar tudo com o seu habitual humor. — Eu só estava com medo de levar uma bronca por sua causa e ter que manchar a minha reputação de boa filha.

— Jessy, para. — peço, de modo gentil. — Não precisa fingir na minha frente, eu sei como você se sente.

— Você não sabe de nada. — sussurra, com raiva, mesmo que seus olhos estejam brilhando pelas lágrimas.

— Eu sei como é ter esse sentimento de insegura te perseguindo pelo resto da sua vida. — falo, fechando as mãos para que ela não me veja tremer. — Sei como é sentir medo apenas por olhar para aquela pessoa ou até mesmo só em pensar nela.

Ela bufa em um ato de escárnio e depois começa a rir.

— Por favor, Emily, a última coisa que eu preciso é da sua compaixão ou piedade. — ela dá um passo à frente e ficamos cara a cara. — Siga meu conselho e esqueça o que conversou com o meu pai ontem.

— E que tal falarmos sobre Erick? — pergunto, ao ver ela abrir a porta do quarto.

Jessy rapidamente me puxa pelo braço e me arrasta com ela, fechando a porta com força logo em seguida.

Agora me encontro de pé no meio do quarto, respirando com dificuldade e vendo ela perder a paciência.

— Você não tem que falar nada sobre ele. — fala, apontando para mim. — Você não tem mais nada a ver com ele.

— Você sabe que não é bem assim. — rebato, sentindo a raiva começar a me subir a cabeça.

Ele é o meu noivo! — fala mais alto.

Só porque você o manipula!

Ela trava no lugar, me encarando com os olhos arregalados e a boca aberta em descrença. Depois de alguns segundos ela começa a sorrir e em seguida a rir, parecendo completamente fora de si.

— Você acha que eu preciso disso pra fazer com que Erick se case comigo? — questiona, tentando mascarar toda a situação.

— Pare de mentir, Jessy, eu sei de tudo. — dou um passo corajoso à frente e a encaro. — Seu pai deixou algumas coisinhas escaparem ontem e uma delas foi que sua família é especialista em apenas uma coisa, e tenho certeza que você sabe muito bem o que é essa coisa.

— Você não pode estar falando sério. — resmunga, mas posso ver que está ficando com raiva novamente.

— Eu sei que você o está subornando apenas pra encenar esse maldito casamento.

— Mas você não sabe o que é. — ela sorri, triunfante, enquanto hesito sobre a verdade em suas palavras.

— Sei que provavelmente você está mentindo sobre o que quer que isso seja.

— Isso é um tiro no escuro. — ela dá um passo à frente e depois outro. — Mas pode ter certeza de uma coisa.

Tento me manter firme no lugar, enquanto ela passa a língua pelo canto dos lábios manchados de vermelho.

— E o que é? — cruzo meus braços, tentando parecer confiante.

— Você ainda não vai ter ele no final das costas.

— Eu não quero ter ele, Jessy, jamais quis. — esclareço, mesmo sabendo que estou mentindo. — E, além disso, eu estou com Gabriel agora e ele me faz feliz.

Ela ri.

— Por favor, Emily, nós duas sabemos que você não está completamente feliz com ele, não é?

Hesito e é nesse exato momento em que vejo o sorriso vitorioso dela.

— Nós sabemos que ele não proporciona as sensações que Erick lhe dava, ou que não se sente completamente a vontade perto dele e o mais importante de tudo — os saltos da sua bota fazem barulho quando ela para na minha frente. —, eu sei que você está morrendo de ciúmes por Erick ser meu.

— Pare de manipulá-lo. — resmungo, sentindo meu rosto queimar por cada palavra dela.

— Negar é a prova. — ela cobre o sorriso em seu rosto com uma das mãos e depois caminha até ficar de frente para a lareira apagada.

— Você o tem. — sussurro, encarando as costas dela, enquanto as próximas palavras saem em um desabafo. — Você o tem, mesmo depois de eu ter ouvido ele me dizer coisas lindas. Você o tem mesmo quando sabe que não deveria. E o que você quer ouvir de mim, Jessy, quando sabe que conseguiu finalmente ganhar?

— Porque isso não fez com que ele me amasse! — grita, se virando para me encarar. — Ele só consegue pensar naquela maldita garota de quando era criança.

— O primeiro amor dele? — pergunto, em um sussurro.

— Então você sabe sobre ela. — Jessy sorri e enxuga rapidamente o canto dos olhos antes que as lágrimas possam cair. — Eu não me preocuparia com ela se fosse você, sou apenas eu que tenho azar.

— Então por que continua indo atrás dele? Por que essa obsessão toda?

— É a única maneira de deixar ele feliz, você não entende? — grita, e vejo que está a ponto de desabar.

— Acha que obrigar Erick a amar você vai deixar seus pais orgulhosos? Acha que vai deixar Leonard orgulhoso? — sinto um gosto amargo ao pronunciar o nome dele, e quase posso ver o mesmo acontecer com Jessy. — Ele não liga se Erick vai te amar ou se vocês vão ser felizes, Leonard apenas quer enriquecer com esse casamento. Como você não consegue ver isso?

— Eu sei que ele não é assim. — ela balança a cabeça, e cruza os braços. — Eu sei disso.

— Jessy, pare com essa loucura. — imploro. — Isso não está te deixando feliz e nem a Erick também. O único que está satisfeito com essa manipulação doentia é seu pai.

— Eu estou feliz. — sussurra, com as lágrimas rolando pela sua face. — Tenho Erick ao meu lado e meus pais sentem orgulho de mim. É tudo o que eu sempre quis ter.

— Mas não dessa maneira. — respiro fundo e a encaro. — Erick não é o cara perfeito pra você e seu pai e nem ninguém podem forçar isso. Jessy, eu tenho certeza que tem alguém especial pra você em algum lugar.

Ela sorri e funga uma vez, antes de erguer o queixo e deixar os braços caírem ao lado do corpo.

Conheço essa expressão e sei que voltou ao habitual humor, também sei que de nada adiantou o que acabei de falar.

— Você só está com inveja porque eu o tenho todas as noites deitado na minha cama, porque ele fez amor comigo todos os dias e você sequer o beijou uma única vez.

Respiro fundo e fecho os olhos, tentando não me abalar ao ouvir essas palavras.

Ela está certa. Nós jamais no beijamos ou sequer tivemos um contato mais íntimo que isso, mas também sei que tudo o que os dois fazem não passa de uma encenação. Sei que mesmo Jessy pensando que isso é a melhor coisa que já lhe aconteceu, é o inferno para Erick.

— Você tem razão. — sussurro, encarando o resto da lenha na lareira.

— Você finalmente vai admitir que gosta dele? — pergunta, erguendo uma sobrancelha.

— Acho que você sempre soube.

Ela sorri, como se isso finamente fosse deixá-la feliz.

— Sim, eu tenho Erick sob o meu controle. — admite, orgulhosa com isso. — Se ele sequer se esquivar do plano que tenho, eu acabo com o que ele mais deseja nesse mundo. Não pense que você vai fazer com que ele caia na realidade e desista disso, porque não vai. Ao invés disso, sugiro que você desista, esqueça o que conversou com o meu pai e comigo e siga sua vidinha preenchendo o amor que sempre quis pelo de Gabriel.

Ela caminha até a porta e a abre, sinalizando em seguida para que eu me retire. Mesmo completamente atormentada e comovida por tudo que acabou de dizer, forço as minhas pernas a caminharem e me tirarem o mais rápido possível daqui.

Sigo direto até o meu quarto, encontrando Gabriel deitado na cama vendo TV. Ele se levanta quando entro e sorri, parando na minha frente. No mesmo instante sinto o meu peito pesar e meu coração se quebrar ao lembrar do que Jessy disse sobre eu preencher o amor que sempre sonhei com Gabriel.

Será que é isso que estou fazendo?

Será que eu estou com ele apenas porque Erick vai se casar com a Jessy?

— Aconteceu alguma coisa? — pergunta, preocupado, o sorriso sumindo aos poucos.

— Eu sinto muito. — peço, começando a chorar.

— Em, o que foi? — questiona, pegando as minhas mãos.

Me afasto no mesmo instante, sem saber se posso retribuir o gesto nesse momento.

Se for mesmo isso, estou brincando com o coração dele, vou iludi-lo com qualquer ação que eu fizer que mostre a Gabriel o mínimo de sentimentos que penso sentir.

Quando encaro o seu rosto confuso e as suas mãos ainda no ar, ignoradas pelas minhas, um soluço alto me escapa.

— Não posso continuar com isso. — sussurro.

— Em, o que está acontecendo? — ele dá um passo à frente, e recuo dois.

— Não posso mais ser sua namorada.

Abro a porta e corro para fora dali, antes que eu veja a reação em seu rosto.

Desço as escadas e saio apressada pela porta da frente do hotel, sendo recebida pelo ar frio da noite e o vento forte.

Alguns flocos de neve começam a se acumular em meus ombros em apenas alguns segundos e percebo que a geada retornou. Respiro pesadamente, sentindo meu peito apertar pelo frio e cruzo meus braços, tentando aquecer as pontas dos meus dedos.

Caminho um pouco, incerta do que fazer agora, mas com toda a certeza de que não quero voltar para dentro do hotel.

Não vou conseguir encarar Gabriel, nem ao menos expliquei a ele o porquê de ter terminado e duvido que conseguirei. Só de pensar em machucá-lo, o meu coração se aperta em resposta e mais lágrimas surgem em meus olhos, mesmo sabendo que provavelmente o feri ainda mais ao ter lhe dado esperança nesses últimos dias.

Pensei que o amasse, pensei que depois de tudo, depois de tanto tempo, se eu lhe desse uma chance, poderíamos fazer florescer o amor que senti na adolescência por ele. Precisei ignorar Erick para conseguir sentir isso, precisei não encará-lo para entender por quem eu estava realmente apaixonada, enquanto Gabriel assistia tudo de fora.

Mas o que eu posso fazer ainda assim? Mesmo sabendo que gosto de Erick, o que isso vai mudar no casamento dele?

Jessy me alertou que não vai adiantar se eu me envolver nesse assunto e sei que está certa, pois vi a reação de Erick no café da manhã ao enxergar realmente o que Jessy estava fazendo com ele esse tempo todo. E ele a defendeu. A defendeu como se isso fosse algo completamente aceitável e normal, como se não fosse apenas os sentimentos dele que estavam em jogo. Erick está tendo a vida controlada por Jessy e ele está aceitando.

Jessy disse que se Erick fizesse algo errado, ela tiraria o que ele mais deseja nesse mundo. Talvez seja isso que o esteja mantendo sob o controle dela e que o está mantendo na linha. Porém, não consigo pensar em algo que seja tão importante para Erick ao ponto de se entregar de bandeja para aquela aproveitadora. Talvez seja o primeiro amor que ela mencionou.

Coloco a mão no rosto, cobrindo minhas bochechas, agora frias, e fecho os olhos.

Jessy não vai me ouvir, não importa o quanto eu avise a ela, não importa quem diga isso a ela, a garota está completamente cega de amores por Erick e por essa vontade doentia de deixar os pais orgulhosos. Q

Mesmo sabendo disso tudo, me comovo com a situação em que se encontra com o pai dela. Leonard fez algo com ela, talvez até algo físico, mas Jessy não vai admitir. Até enquanto estávamos no corredor, ela me disse para falar baixo, com medo que Leonard fosse nos escutar, e afirmou constantemente que seria melhor que eu esquecesse da minha conversa com ele, mesmo que não soubesse sobre o que falávamos.

Paro em frente a pequena descida que fiz de esqui com Gabriel ontem, sentindo a memória aquecer o meu coração até então despedaçado, e olho para cima.

Pegadas rápidas desviam a minha atenção das estrelas e me viro para ver sob a luz do luar outra pessoa se aproximando.

Antes mesmo que minha instituição me diga que é o sinal para eu correr e me esconder, vejo uma arma ser apontada na minha direção.

O homem encapuzado e cheio de casaco balança a arma, parecendo impaciente, e ergo as minhas mãos, com medo do que possa acontecer.

— Por favor, não faça isso. — sussurro.

A figura continua a se aproximar, completamente coberta pelo capuz e pela roupa grossa, mas mantendo a atenção em mim.

Mesmo que eu continue a implorar, mesmo que eu me sinta desabar a cada passo que recuo, a cada pensamento de Gabriel e Erick, a figura se mantém firma e impiedosa, até o momento em que o cano da arma esteja a centímetros do meu peito.

A essa altura, por tanto recuar, meus calçados estão cobertos de neve e meus dedos estão congelando.

Fico imóvel quando a figura dá a volta em mim e me faz ficar de costas para a pequena queda ao lado da pista para iniciantes, onde se encontram um amontoado de árvores altas e cobertas de neve.

Quando começa a me empurrar com o cano da arma, sou obrigada a recuar, sabendo que morrerei se não me mexer, mas que provavelmente terei o mesmo fim se continuar a me acuar como um cachorro sem dono.

Antes que eu consiga processar, um arfar de surpresa escapa quando meu pé escorrega da beirada. Sinto a queda livre durar poucos segundos, mas em seguida encontro o chão coberto de neve.

Frio.

Eu estou com tanto, tanto frio.

Fecho os olhos com força, enquanto percebo que meu corpo está dormente e que não sinto nada além do frio cortante penetrando cada parte do meu ser.

Quero que ele me encontre, que me salve como fez antes e me aninhe em seus braços fortes e diga que vai ficar tudo bem. Quero que desista dessa loucura de casamento, que se livre da manipulação que Jessy está provocando em sua mente e que seja finalmente livre.

Engasgo com as minhas próprias lágrimas.

Quero Erick mais do que qualquer outra coisa.

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