— Experimenta esse. — a mão de Eva surge através de uma fresta na cortina do provador.
Pego o biquíni rosa-choque, sem conseguir acreditar que isso sequer consegue cobrir alguma parte do meu corpo.
— Tem algum azul? — pergunto, sentindo um pouco de frio por estar usando outro conjunto que Eva me pediu para provar, desta vez um laranja neon.
— Vou procurar. — fala e ouço o som dos seus passos sumirem na loja.
Saímos bem cedo do apartamento, por volta das oito e meia e, quando eu disse que nunca tinha ido para a praia antes e de que não tenho biquíni, Eva nos obrigou a parar em uma loja para comprarmos.
Berta está olhando algumas roupas nos manequins, enquanto Eva prometeu que sairíamos daqui com pelo cinco conjuntos de biquíni. Apesar dessa senhora estar sendo muito gentil, as cores que ela está escolhendo não são muito o meu estilo. Na verdade, usar essas coisas, não é o meu estilo.
Quero dizer, como alguém pode usar isso? Não se cobre nada em cima e muito menos embaixo, é como lingerie, e todos podem ver. Ainda bem que Eva disse para Erick esperar no carro, porque com certeza eu não sairia daqui vestindo isso sabendo que ele vai ver.
— Achei esse aqui. — Eva volta a me entregar um conjunto.
Eu o pego e logo sorrio, me sentindo mais confortável ao ver esse. O biquíni é de uma cor azul bem claro com algumas manchas em branco, parecendo quase uma nuvem. Além da parte de cima e de baixo, tem também um tecido fino e da mesma cor que é para amarrar ao redor da cintura.
Eu gosto já que não mostra tanto a parte de trás.
— Vou buscar mais. — avisa Eva, enquanto começo a provar.
Na volta, ela traz mais quatro conjuntos e todos eles são azuis, o que me deixa muito feliz. Há um que é de azul-escuro com flores brancas, outro que tem o tecido branco com borboletas azuis cobrindo quase tudo, outro que é branca com faixas verticais em azul-escuro, amarrado apenas em um ombro e o último é ainda mais lindo e sofisticado, de um azul Royal. Na parte de cima, três joias de cor também azul ligam uma pequena faixa que fica ao redor da cintura.
Eu provo todas elas, grata por Eva não ter que me pedir para sair ou ver.
— Você já vai com um deles, não é? — pergunta ela, do lado de fora.
— Acho que sim. — digo, pensando em usar o que tem o tecido ao redor para cobrir melhor a parte de baixo do corpo.
— Escolhe um deles e me dá os outros que eu vou passar no caixa.
— Vou querer só esse aqui. — falo, colocando de volta o azul com branco.
— Então eu levo os outros e te dou de presente. — posso quase ver o sorriso no rosto dela.
— Mas eles devem ser caros.
— E é pra isso que ter muito dinheiro serve, comprar o que quiser. — ela ri. — E se você não levar, eu levo pra você.
— Não se eu esconder eles. — seguro todas as peças contra o meu peito, tentando não deixar que caiam.
— Você está vestida?
Franzo o cenho.
— Sim. — respondo, confusa. — Por...
A cortina do provador se abre e Eva me encara vestindo um dos me trouxe.
— Meu Deus, você está linda com esse. — fala, sorrindo, e depois começa a olhar ao redor freneticamente. — Onde está Berta pra ver essa dádiva? Berta!
— Aqui!
Tento não ficar envergonhada ao ver as atendentes olharem para nós.
Berta surge por detrás de um manequim, vestindo o seu vestido florido e o chapéu de praia.
— Olha só pra ela. — Eva puxa Berta pela mão, sorrindo empolgada.
— Minha nossa. — murmura a governanta, e sinto minhas bochechas queimarem quando Berta cobre a boca com uma das mãos, me olhando de cima a baixo. — Você está linda nesse biquíni.
— Eu não fazia ideia de que você tinha um corpão. — Eva pega a minha mão e começa a me puxar até o balcão do caixa. — Vai ser um dia interessante. — sussurra ela com um sorriso, e mal tenho tempo de perguntar o que isso significa quando logo em seguida Eva aponta para a exposição de óculos sobre a madeira. — Agora escolhe um.
— Por que? — pergunto, vendo que eles também são muito caros.
— Porque sim. — responde, enquanto dá uma olhada em todos os modelos. — E eu vou te dar um monte de coisas, então é melhor começar a se acostumar.
— Esse aqui. — Berta pega um dos óculos e entrega a Eva.
— Bonito. — ela coloca em mim, mas faz uma careta. — Ficou muito grande, vamos achar um menor.
Me olho no pequeno espelho e acabo concordando com ela.
— Então que tal esse? — Berta entrega o óculos a Eva de novo.
— Que coisa mais linda. — ela observa o óculos e depois o coloca em mim. — Perfeito.
Me olho no espelho, observando o detalhe dourado nas partes laterais da armação e as lentes em formato quadrado. Ele com certeza é menor que o outro e consegue até me fazer sentir bonita.
— Ficou perfeito. — Eva sorri. — Agora temos que achar um chapéu de praia decente pra você.
— Mas... — começo.
— Achei esse. — Berta o coloca na minha cabeça e ajeita meu cabelo.
O chapéu é de um tamanho razoável e da cor bege claro, com um laço grande atrás da mesma cor. Ele é fofo e gracioso, para não dizer majestoso.
— Eu amei. — sussurro, fazendo as duas senhoras sorrirem.
— E você está linda. — Berta sorri para mim.
— Obrigado.
— Vai ser um ótimo começo pra você que nunca foi a praia. — fala Eva, tirando o cartão de crédito da bolsa.
Enquanto ela paga por todas essas coisas, eu observo o quão bonita ela está.
Apesar de ser uma mulher mais velha, Eva tem o corpo de uma adolescente e o maiô que está usando o define bem. Ele é todo preto com um cinto ao redor, uma saia de praia está ao redor da sua cintura, seu chapéu de praia é marrom escuro e os óculos que está colocando é o primeiro que mostrou a mim.
— Vamos? — Eva sorri, empolgada.
Nós saímos da loja de roupas e caminhamos até o estacionamento, até o carro em que Erick está encostado mexendo no celular. Ele está usando apenas uma bermuda azul e óculos escuros e parece descontraído e relaxo contra a porta do carro do motorista, de costas para nós.
Eva corre até ele, deixando Berta e eu para trás, e chama a atenção de Erick. Ele se vira para nos olhar e permanece assim até nos aproximarmos do carro.
Meus olhos quase que imediatamente se focam na sua tatuagem no braço esquerdo, mas desvio minha atenção logo em seguida, esperando que ele não tenha notado. Não vejo qual é reação dele direto, pois os óculos não revelam muita coisa.
As duas senhoras, empolgadíssimas, pulam por cima da porta do carro conversível como duas adolescentes rebeldes. O carro é branco com os bancos de cor caramelo e parece ainda mais tecnológico que os outros dois carros de Erick em que já estive.
— Óculos bonito, mãe. — fala Erick, se sentando no banco do motorista.
— Obrigado, querido. — vejo a reação de Eva e Berta pelo retrovisor, e sei que estão olhando para mim. — E o de Emily? Ela não está linda nesse biquíni?
Erick liga o carro e, antes de dar a ré, me olha por um momento. Tento não imaginar que por trás dos óculos ele está analisando meu corpo exposto e branco demais.
— Está. — responde, olhando de volta para frente para esconder o minúsculo sorriso no canto dos seus lábios. — Está linda.
Vejo quando Berta e Eva sorriem no banco de trás, enquanto eu viro meu rosto, escondendo minhas bochechas vermelhas.
Ele só disse isso porque Eva puxou o assunto, penso tentando manter meus batimentos cardíacos estáveis. Apenas isso.
Erick sai da vaga e começa a traçar nosso caminho até a praia.
Assim que chegamos em um estacionamento pago, as pessoas começam a olhar para nós e nos encarar, enquanto o ronco alto do carro não ajuda muito em fazer que passemos despercebidos. Observo alguns carros estacionados ao nosso redor enquanto saio e percebo que somos os únicos com um desse modelo.
Abaixo um pouco meu chapéu até a altura dos olhos, tentando desaparecer.
Berta e Eva param ao meu lado, confortáveis com a atenção que estão recebendo e nem preciso falar de Erick, ele já recebe atenção o suficiente até mesmo quando respira, já está mais do que acostumado com todos esses olhares.
Suspiro e desvio minha atenção do seu corpo bronzeado e musculoso, esperando que não repare que eu o estava observando.
— Vamos ter que caminhar um pouco. — fala Erick, pegando a bolsa grande de Eva no banco de trás.
— Sem problemas, assim eu posso exibir minha roupa lindíssima e cara. — fala Eva, passando seu braço pelo meu e o de Berta.
Ela e eu sorrimos e quando Eva começa a caminhar, somos obrigadas a segui-la.
Erick não mentiu quando disse que as praias estariam lotadas. O lugar todo está uma bagunça, com crianças berrando e brincando, as mulheres pegando sol, os homens bebendo e conversando e alguns jovens jogando vôlei.
Piso na areia, sentindo os grãos quentes se infiltrarem no meio dos meus dedos. A sensação é gostosa e até relaxante.
Vejo Erick se aproximar de um pequeno comércio na calçada, onde um letreiro indica que fazem petiscos e alugam cadeiras de praia. Meu chefe dá algumas notas de dinheiro ao homem e pega duas cadeiras.
— Acho que aqui está bom. — fala Eva, parando em um ponto da praia em que ainda há um pequeno espaço para nós e que por sorte é localizado embaixo de uma árvore.
— Aqui, senhoritas. — diz Erick, parando ao nosso lado e largando as duas cadeiras. — Vou pegar as outras duas.
— Você consegue trazer algumas bebidas pra nós? — pergunta Eva, se sentando.
— Mãe, por favor, são só dez da manhã.
— E em algum lugar já são dez da noite. — fala, fazendo Erick suspirar. — Vou fingir que estou em um desses lugares, satisfeito agora?
— Tá. — responde. — Vocês querem algo pra comer? Posso trazer o cardápio do restaurante do outro lado da rua.
— Seria ótimo.
— Precisa de ajuda, querido? — pergunta Berta, também se ajeitando para se sentar na cadeira.
— Eu adoraria, obrigado. — fala, como se finalmente tivessem dito algo decente.
— Emily, querida, você pode ir com ele? — pede Eva, se espreguiçando e depois massageando os pés. — A caminhada até aqui fez os meus pés e os de Berta incharem.
— Ah. — sussurro, olhando entre os três parados na minha frente. — É claro.
— Não precisa, eu consigo trazer tudo. — fala Erick, começando a caminhar.
— Não seja teimoso. — diz Eva, mais alto. — Pelo menos desta vez aceite uma ajuda.
Cruzo meus braços e remexo meus dedos dos pés na areia, me sujando ainda mais, enquanto vejo Erick de costas ainda.
— Ok. — o ouço respirar fundo. — Eu vou precisar de ajuda, satisfeita agora?
Eva sorri.
— Bastante.
Juro que quase posso ver os olhos dele revirarem por detrás dos óculos escuros.
— Vamos, Emily. — ele me chama, e logo começa a caminhar de novo.
— Sim, senhor.
Sigo ao lado dele em silêncio, até mesmo quando chegamos no restaurante e ele faz os pedidos das bebidas.
Observo o lugar com cautela, enquanto permaneço quieta e estática ao lado de Erick no balcão. Alguns lemes e conchas estão espalhadas pelas paredes do lugar e mais arranjos de conchas e moluscos estão sobre a mesa.
— Vocês têm vinho? — ouço meu chefe perguntar.
— Sim, senhor. — responde o homem atrás do balcão. — Tem alguma preferência?
— Cabernet.
O homem conversa com Erick sobre o serviço dos garçons na praia e as taxas que serão cobradas, mas Erick continua a pedir mais algumas bebidas e outras comidas que ele provavelmente sabe que Eva irá gostar.
— Aqui a sua cerveja e sua água. — fala um garçom, se aproximando.
— Obrigado. — agradece Erick, e nos viramos para sair.
Observo, enquanto ele vai na frente, uma mesa perto da porta com algumas garotas sentadas olhando para Erick e cochichando. Uma delas se levanta e para em frente ao meu chefe antes que ele consiga sair.
— Oi. — cumprimenta, sorrindo. Ela é morena, com lábios grossos e está usando um biquíni rosa. — Você é Erick Prior, não é? O diretor daquela empresa famosa.
— Sim. — responde, respirando fundo logo em seguida.
— Posso tirar uma foto com você? — ela joga o cabelo por cima do ombro, e só agora observo o celular na sua mão. — Minhas amigas estavam discutindo comigo que não era você.
— Tá, claro. — concorda, passando a mão pelo cabelo.
A garota olha para mim e sorri de novo, me entendendo o celular.
— Você pode tirar a foto pra mim?
— Ok. — pego o aparelho, com a câmera já aberta.
Ela se posiciona ao lado de Erick, que colocou os óculos apoiados na cabeça e está me encarando agora, enquanto a garota passa um braço ao redor do corpo dele. Tiro algumas fotos, vendo a garota sorrir o tempo todo, ao mesmo tempo em que Erick fica sério.
— Pronto. — digo, entregando o celular a ela.
— Obrigado. — agradece, pegando o aparelho e o pressionando contra o peito. — Obrigado pelo seu tempo e você é muito bonito.
Erick acena com a cabeça e a garota se retira, com o rosto vermelho, se sentando de volta ao lado das outras garotas e mostrando a foto no celular.
— Você leva pra mim? — pergunta Erick, chamando de volta a minha atenção para ele, e percebo que está me entregando a cerveja e a água. — Vou pegar as outras duas cadeiras de praia pra nós.
— Sim, senhor.
— Já disse que pode me chamar Erick. — fala, e vejo a sombra de um sorriso, enquanto ele coloca de volta os óculos.
— Eu sei. — respondo, desviando o olhar, mesmo que ele não consiga ver por causa dos meus óculos.
Ele coloca uma das mãos no bolso da bermuda e passa a outra mão pela nuca, olhando em outra direção que não seja a minha.
— Tá. — resmunga, se virando e caminhando até a praia.
Eu o sigo de volta até as duas senhoras sentadas confortavelmente nas cadeiras de praia e paro ao lado delas, esperando Erick trazer as outras duas.
— De quem é essa cerveja? — pergunta Eva, arrumando os óculos de sol no rosto.
— Acho que é do Erick. — responde Berta. — Ele gosta de cerveja preta.
— E a água?
Balanço a garrafa, franzindo os lábios e as sobrancelhas.
— Eu não sei, talvez seja engano. — falo. — Ele pediu o vinho pra vocês e vão entregar com a comida.
— E onde está o Erick? — Eva olha ao redor.
Meu chefe surge logo em seguida, com as cadeiras nas mãos, como se esperasse a pergunta de Eva para entrar em cena.
— Obrigado. — pego a que Erick me oferece e Berta segura as bebidas para que eu consiga arrumar a cadeira.
— A água é sua? — pergunta ela a Erick, que está se sentando ao lado de Eva.
— É da Emily. — responde, pegando a cerveja das mãos da governanta. — Ela não bebe álcool, lembra?
— Bem lembrado, querido. — Eva sorri na minha direção.
— Obrigado. — agradeço de novo, pegando a água que me Berta me entrega.
— Então, o que vocês querem fazer? — pergunta Eva.
— Se fizermos algo nesse sol vamos acabar torrando. — responde Erick, bebendo cerveja.
Eu ouço eles conversarem por alguns minutos, enquanto observo uma bola de vôlei se aproximar de nós. Ela quica no chão uma vez e depois mais uma vez, fazendo voar areia para todo o lado. Não vejo ninguém ao redor se levantar ou sequer perceber que a bola está ali, então eu me levanto e a pego.
— Ei! — ouço alguém gritar.
Me viro na direção da voz e encontro um rapaz correndo na minha direção. O cabelo loiro está repleto de suor e está usando uma bermuda preta. Quando para na minha frente, abre um sorriso branco e radiante, me fazendo congelar.
— É sua? — pergunto, tomando coragem.
Ele passa a mão pela testa suada, enquanto ainda mantém o sorriso.
— É, sim, valeu por pegar. — vejo quando o garoto me examina rapidamente de cima a baixo e depois entende uma das mãos. — Sou o Adam.
— Emily. — aperto de volta, sentindo meu rosto ficar vermelho.
— Você quer jogar com a gente? — ele aponta para trás, por cima do seu ombro, onde há alguns jovens esperando em pé ao lado de uma rede.
— Eu não sei jogar.
— Eu te ensino.
— Obrigado, mas eu não me dou bem com esportes. — falo, sem jeito.
— Tudo bem, mas se mudar de ideia já sabe aonde me encontrar. — ele pega a bola da minha mão e sorri.
— Ok. — sorrio também.
— Até. — ele acena na minha direção enquanto se afasta.
Aceno de volta e me viro, tendo a atenção das duas senhoras sobre mim. Berta e Eva estão sorrindo e trocando olhares, enquanto Erick parece estar encarando algum lugar ao longe.
— Ele era bem gatinho. — fala Eva, enquanto me sento novamente.
— Acho que sim. — concordo, envergonhada.
— Por que você não foi com ele?
— Eu não sei jogar.
— Mas se soubesse, iria? — Berta me olha com expectativa, assim como a senhora ao seu lado.
— Talvez. — dou de ombros, fazendo com que deem um risinho.
— Você deveria ter ido, ele parecia interessado.
— Eu iria. — concorda Berta.
— Você pode fazer novos amigos.
— Estão quase me convencendo. — sussurro.
— Você tem que ir lá. — insiste Eva.
— Eu vou, mas depois.
Ela suspira e se inclina para frente.
— Vou ter que te carregar até lá pra você jogar?
— Tá, então eu vou, mas só se a bola vier pra cá de novo. — digo, torcendo para que alguém mude de assunto.
— É uma promessa? — ela sorri.
Eu não respondo e Eva aponta para algo na minha frente, especificamente para a bola de vôlei enterrada na areia.
— E lá vem o bonitão. — sussurra, fazendo Berta rir.
Me levanto e caminho até a bola, a segurando com mais força quando Adam para na minha frente.
— Oi de novo. — fala, sorrindo.
— Oi. — entrego a bola a ele.
— Obrigado. — os olhos deles pousam rapidamente nas três figuras sentadas atrás de mim e depois me encara novamente. — Posso deduzir que você mudou de ideia?
— Se vocês tiverem um pouco de paciência por eu ser ruim. — falo, fazendo ele rir.
— Prometo a você.
Sinto minhas bochechas corarem.
— Eu adoraria jogar.
— Estão precisando de mais um jogador?
Adam e eu nos viramos e observamos Erick se levantar, bebendo mais um gole da cerveja antes de deixá-la de lado.
— Ah, claro. — responde Adam, me olhando rapidamente como se buscasse ajuda. — Estamos mesmo precisando de mais um.
— Ótimo. — Erick se levanta e tira o óculos de sol.
— Eu recomendaria tirar o seu também. — fala Adam. — Pode acabar caindo no meio jogo.
Tiro o óculos e o chapéu, os deixando sobre o colo de Berta, que está sorrindo largamente enquanto me vê constrangida, e volto a ficar ao lado de Adam.
— Vem, vou te apresentar pra galera.
Nós caminhamos até a rede montada perto da água onde alguns jovens estão esperando por Adam. As duas garotas sorriem e se apressam em se apresentarem para mim, dizendo que adoraram meu cabelo e perguntando aonde comprei meu biquíni. A loira com corpo escultural e lindo se chama Ana e a morena com o mesmo físico é a Chloe. O rapaz é o Nate e se parece muito com o Adam. Ele e a Chloe se abraçam depois que se apresentam a mim e dão um selinho, para em seguida se separarem um de cada lado da rede. Erick se apresenta logo em seguida, inclusive para Adam, chamando a atenção de Ana.
— Vai ser vocês três contra nós três, pode ser? — pergunta Adam, se posicionando em frente à rede.
— Vamos acabar com vocês, idiotas. — Chloe ri.
— Isso nós vamos ver, gata. — grita Nate de volta.
As garotas explicam rapidamente algumas regras básicas e os passes necessários que preciso saber para poder jogar.
Começo na posição perto da rede, enquanto a Ana e a Chloe ficam atrás, e Adam sorri quando me vê perto dele.
— Pronta? — pergunta, enquanto Nate se prepara para o saque.
Sorrio de volta e a bola atravessa a rede, sendo recebida pela Ana e se aproximando de mim. Junto meus dedos, como as garotas me ensinaram para fazer uma manchete, e recebo a bola, fazendo com que por algum milagre suba corretamente em direção de volta a Ana. Ela salta e rebate de volta com força, fazendo a bola por muito pouco não sair da marcação da quadra.
— Foi sorte! — grita Nate, apesar de estar sorrindo, e olha para mim. — Bela manchete, Emily.
— Obrigado. — agradeço, sorrindo pelo elogio.
Ana se aproxima e ergue as duas mãos para que eu retribua o gesto, ela sorri quando o faço e me pego sorrindo também.
Depois de alguns rounds e muito suor, que eu até tive que parar pata pedir um elástico as garotas para poder amarrar o cabelo, começo a me sentir mais leve e descontraída. Estou rodeada de jovens da minha idade que não tem preocupações a não ser a de qualquer outro nessa fase da vida. Eles não precisam se preocupar se vão acordar amanhã de manhã pela fome que estão passando, se vai haver alguém que conseguirão roubar mais dinheiro ou se sobreviverão depois dos 18 anos. Eles só estão rindo e provocando uns aos outros durante os saques e passes como qualquer outro adolescente.
— Gente, eu preciso de tempo. — fala Chloe, coberta de suor, como todos nós.
— Eu também. — vejo Nate erguer a mão, sinalizando que também vai sair.
Os dois se mantém ao lado da rede, de mãos dadas, enquanto bebem água.
— Vamos fazer disputa de casal, que acham? — sugere Ana, empolgada.
— Ótima ideia. — concorda Adam, Erick dá um passo a frente e parece pronto para falar algo, mas ele continua. — Vai ser Emily e eu contra você e Erick. Pode ser?
— É claro. — Ana sorri e saltita até o outro lado da quadra, enquanto Adam fica ao meu lado.
— Tudo bem por você? — pergunta, vendo que fiquei calada.
— Tudo sim. — concordo, balançando a cabeça.
— A Ana vai ficar mais competitiva agora. — fala, e nós dois observamos quando ela troca um aperto de mão com Erick. — Vamos derrotar aqueles dois.
Ele ergue uma das mãos para fazer um high five e retribuo, lhe arrancando um sorriso largo.
— Prontos? — pergunta Ana, do outro lado.
— Pronto.
— Vamos ser os juízes, então nada de roubar. — fala Chloe, ao lado de Nate, apoiada na rede. — Ouviu, Ana?
— Vocês têm é que ficar de olho naquele ali. — rebate, apontando para Adam.
— Vamos começar logo, chorona. — provoca, e pisca para mim logo em seguida.
A provocação parece fazer surgir uma resposta de Ana que começa logo em seguida. Recebo com dificuldade fazendo a bola subir alto e Adam ter que fazer um milagre para jogar ela de volta. Passo a bola depois para o outro lado com uma manchete que Erick recebe facilmente. Ana a encaixa perfeitamente e meu chefe ataca rapidamente, pulando alto e fazendo a bola acertar em cheio o peito de Adam.
— Caralho. — fala ele, massageando o lugar do golpe certeiro e apoiando a mão livre no joelho.
— Foi mal. — pede Erick, apesar de estar sorrindo.
— Essa foi boa. — Ana está rindo e troca um soquinho com Erick, que volta a ficar ao lado dela.
— Você está bem? — pergunto, vendo a pele branca de Adam ficar vermelha.
— Eu não fazia ideia de que seu amigo também era competitivo. — ele sorri, fazendo uma careta, e joga a bola de vôlei de volta até o outro lado. — Mas eu estou bem.
— Ok. — sussurro, não muito convencida.
Nem mesmo eu sabia que Erick podia ficar tão competitivo a ponto de acertar Adam desse jeito.
— Já parou de chorar, Adam? — provoca Ana.
Ele mostra o dedo do meio para ela, fazendo apenas que ria novamente, enquanto observo Erick ficar sério ao encarar Adam.
Ana faz o saque, mirando em mim novamente, mas desta vez eu consigo receber sem dificuldade e Adam a ergue, fazendo com que eu consiga atacar com apenas uma mão para o outro lado. Erick recebe e Ana ajeita para ele.
Vejo Adam correr até a rede e pular para bloquear o ataque, ao mesmo tempo em que Erick muda sua tática e passa facilmente a bola. Eu consigo impedir que ela não caia no chão e Adam a ajeita novamente para eu atacar. Estou tão empolgada pelo jogo que quase não percebo o meu pequeno pulo ao passar a bola, fazendo com que caia bem aos pés de Ana.
— Boa! — comemora Adam.
Troco um toque e sorrisos com ele, enquanto observamos Ana se erguer sob os joelhos, desapontada.
— Eu achei que você não sabia jogar, Emily. — fala ela, parecendo soar como uma brincadeira, mas algo me diz que atiçamos ainda mais o lado competitivo dela.
Nós decidimos fazer três rounds com 15 pontos para ver quem ganha. Até agora, Adam e eu vencemos o primeiro set e Erick e Ana ganharam o segundo.
Estamos nos primeiros pontos do terceiro e parece que Erick e Adam estão em meio a uma briga de machos alfas, enquanto Ana parece ter decidido que me odeia. Todos as vezes em que é ela no saque, a bola vem direto até mim e quando é Erick no saque, vai direto até Adam, sempre com a mesma força em que depositou no ataque contra o peito do garoto da primeira vez. Mesmo assim Adam consegue receber muito bem algumas vezes o golpe, apesar da sua pele perto das mãos estar toda vermelha pela força.
— Certo, galera, é o último ponto. — anuncia Nate.
— Eu sei que você consegue, Emily. — fala Chloe, torcendo por mim, e fazendo um joinha na minha direção.
Sorrio, grata por isso e por saber que pelo menos ela ainda gosta de mim.
— Vamos lá, Erick, acabe com eles. — diz Nate. — Pode continuar acertando o Adam até ele virar um tomate.
— Obrigado pelo seu apoio, irmão. — fala Adam, com as duas mãos na cintura e olhando feio para o garoto ao lado de Chloe.
— De nada, maninho.
— Eu não sabia que vocês eram irmãos. — sussurro, perto de Adam.
— E agora você sabe porque eu não te contei. — sussurra de volta, rindo.
É a vez de Erick no saque e a tensão é apenas em saber se Adam vai conseguir receber e fazer o jogo seguir em frente. Erick me lança um olhar antes de jogar a bola para o alto e acertar ela, a fazendo voar direto até o peito de Adam. Dessa vez, por algum milagre, a bola sobe, fazendo os dois juízes soltarem um "Oh", surpresos. Ajeito a bola para Adam que ataca de volta até Erick. Ele recebe facilmente com a manchete e espero ver Ana erguer a bola para jogar de volta, mas ela a passa rapidamente com uma das mãos.
Começo a ir para trás, vendo aonde ela irá cair, mas sem perceber que Adam também já a está esperando no fundo da quadra improvisada. Esbarro contra o seu peito, o pegando desprevenido, e nós dois caímos sobre a areia quente.
Podemos ouvir a comemoração de Ana, enquanto começamos a rir.
— Você está bem? — pergunta ele, se sentando.
— Só fiquei coberta de areia. — digo, me sentando também.
— Tem até no seu rosto. — fala, sorrindo, e ele tira rapidamente um pouco que está na ponta do meu nariz.
Adam se levanta, sem me dar tempo de processar o que acabou de fazer, e me ajuda.
— Eu sabia que no final você iria fazer alguma burrada, Adam. — fala Ana, atravessando por debaixo da rede e parando na nossa frente. — Bom jogo, Emily.
— Obrigado. — digo, chacoalhando meu cabelo e fazendo a areia sair um pouco.
— Você é muito bom nisso, cara. — fala Adam, enquanto Erick também se aproxima de nós, ficando ao meu lado.
— Você também não é ruim, Adam. — fala, parecendo contente com o elogio.
— Acho que foi o melhor jogo que já tivemos. — Chloe e Nate também se juntam a nós.
— Concordo.
Ouço eles conversarem sobre os jogos anteriores em que tiveram no final de semana passado, enquanto espio Erick, ao mesmo tempo em que limpo meu cabelo.
O peito musculoso e definido dele está todo suado e cheio de areia, apesar de não ter caído no chão igual a mim. Os pequenos grãos quase parecem fazer a pele dele brilhar quando o sol o acerta em cheio. Erick está respirando pesadamente, enquanto observo os jovens ao redor dele. As mãos dele estão na cintura, um pouco a baixo da marca do osso do quadril bem destacada pelos esforços de academia.
— Tudo bem? — o ouço perguntar.
Ergo a minha cabeça rapidamente, percebendo que ele está olhando para mim e que meu rosto está começando a ficar vermelho.
— Sim, está sim. — digo, ao mesmo tempo em que viro a minha atenção de volta ao grupo, tentando não ficar ainda mais envergonhada pela minha encarada super discreta.
— Foi ótimo jogar com vocês, pessoal, mas precisamos voltar agora pra almoçar. — fala Erick, chamando a atenção dos adolescentes.
— Já? — pergunta Ana.
— Vamos precisar reabastecer a energia depois desse jogo.
— Pois é. — concordo, vendo Adam olhar na minha direção.
— Vocês costumam vir aqui? — pergunta ele, ainda me encarando.
— Não muito, estamos sempre rodando e buscando os melhores lugares para ficar. — responde Erick.
— É uma pena. — fala Nate. — Mas se vierem aqui de novo no final de semana com certeza vão encontrar a gente jogando por essa área.
— Foi um prazer conhecer vocês. — Chloe se aproxima e me abraça.
— Vocês também. — retribuo o gesto.
Nós nos despedimos deles com alguns abraços e apertos de mãos e me aproximo de Adam para fazer o mesmo.
— É uma pena que já tenham que ir. — fala.
— Pra ser bem sincera, eu estou morrendo de fome. — digo, fazendo ele rir.
— Não é à toa, você jogou muito bem pra uma primeira vez.
— Obrigado.
— Então. — sussurra, dando de ombros discretamente e franzindo os lábios.
Faço o mesmo e estendo minha mão a ele.
— Foi bom te conhecer. — diz Adam. — A gente se vê por aí.
— A gente se vê por aí. — repito, sorrindo.
— Emily? — chama Erick, e me viro para ele. — Vamos?
— Sim. — olho para Adam de novo. — Até.
— Até.
Aceno para o resto do pessoal e sigo Erick de volta até Eva e Berta.
A adrenalina do jogo começa a baixar durante o caminho até elas e sinto minhas pernas fraquejarem sempre que meus pés afundam na areia quentinha.
Nunca fiz tanto exercício como hoje em apenas um dia e em um curto espaço de tempo, e tenho quase certeza de que vou sentir as consequências amanhã de manhã. Por outro lado, não lembro quando foi a última vez em que me diverti tanto. Apesar de estar coberta de suor, morrendo de sede e de fome, ainda valeu a pena conhecer esse pessoal hoje. E pensar que eu quase não vim.
— Achei que tinham esquecido da gente. — fala Eva, e eu me sento, sentindo o molejo nas minhas pernas.
— Se divertiram? — pergunta Berta.
— Muito. — sorrio.
— E aquele gatinho? — questiona Eva, enquanto Erick se senta ao seu lado.
— Ele é legal. — respondo.
— Não rolou nada? — ela deixa a cabeça cair de lado, quase que desapontada.
— Mas acho que fiz um amigo. — digo, encolhendo os ombros.
Berta segura a minha mão, sorrindo.
— E a senhora não vai me perguntar quem era a loira dando em cima de mim? — questiona Erick para Eva.
A senhora balança a mão, como se espantasse algum inseto.
— Você não vai ficar com ela de qualquer jeito, vai?
Erick revira os olhos e depois coloca os óculos de sol.
— Não.
— É por isso que eu não pergunto. — Eva dá batidinhas no joelho dele.
— Mas a Ana era muito bonita. — digo, chamando a atenção dela.
— Beleza não define uma pessoa, meu bem. — e sorri. — Infelizmente.
— Estão com fome? — Berta aperta meus dedos.
— Muito.
— Pegue algo pra vocês comerem, querido. — Eva arruma o cabelo molhado de suor de Erick. — Nós almoçamos enquanto vocês jogavam.
— Tem alguma preferência, Emily? — questiona ele, olhando para o mar.
— O que você quiser. — respondo.
Ele se levanta, suspirando, e caminha até o restaurante.
Antes que eu tenha a chance de colocar meus óculos e meu chapéu de volta, Berta fala.
— Por que você não se refresca um pouco antes de comer, querida?
— Você parece bem cansada. — concorda Eva e aponta para o mar à nossa frente. — Peço pra Erick te chamar quando a comida chegar.
— Tem certeza? — pergunto, apesar de já estar me levantando.
A ideia delas com certeza não é nada mal.
— Aproveite. — fala Berta.
Sorrio e caminho até a água, soltando meu cabelo e guardando o elástico no pulso.
A água está morna quando entro e sem dificuldade consigo mergulhar o corpo inteiro, molhando meu cabelo e o fazendo flutuar ao redor de mim. Decido ficar até onde a água do mar bate em meus ombros, aonde meus pés ainda conseguem sentir a areia, já que não sei nadar.
Curvo minhas costas para trás, molhando meu couro cabeludo e olhando para o céu claro e limpo, apesar de algumas nuvens escuras estarem surgindo no horizonte.
Quando me ergo novamente, vejo Erick se aproximar de onde estou parada. Seus braços musculosos abrem caminho em meio as ondas com braçadas longas e suaves até parar na minha frente.
— Veio se refrescar também? — pergunta, passando a mão molhada pelo cabelo suado.
— Berta e Eva que deram a ideia. — digo, vendo que a água, mesmo nessa profundidade em que estamos, mostra sua bermuda. Se eu consigo vê-lo, ele também consegue me ver.
— Você não sabe nadar, não é? — pergunta, e noto que a água aqui chega até a metade do seu peito.
— Não. — respondo, envergonhada.
— Devíamos ter trazido uma boia pra você. — fala, olhando as que estão ao nosso redor.
Há algumas crianças perto do raso que estão brincando e correndo de um lado para o outro, algumas carregando as boias ou as deixando de lado. Vejo todos os tipos interessantes delas: há um cisne, um jacaré, um unicórnio, uma lhama a até um dinossauro.
— Qual que você gostou? — pergunta Erick, vendo que eu também estou encarando o mesmo ponto que ele.
— Você não vai pegar os daquelas crianças, vai?
Ele ri, um riso baixo, mas ainda assim bem-humorado.
— Eu estava pensando em comprar uma, mas a sua ideia também não é ruim. — fala, me fazendo sorrir também.
Desvio o olhar dele rapidamente, esperando que meu rosto não esteja vermelho, sem querer que me encare. Minha visão vai até onde Adam e os outros continuam jogando, e me pego encarando Ana.
— Posso perguntar algo? — questiono, fazendo com que Erick se vire para mim.
Percebo a água se agitar quando seu corpo se aproxima.
— Sim.
— Por que o senhor não ficou com a Ana?
Ele fica em silêncio por um momento e tenho certeza que quer brigar comigo novamente por chamá-lo assim ao invés do seu nome, mas Erick apenas suspira, virando a cabeça para o outro lado.
— Eu não sei. — responde, voltando a me encarar. — E por que você não ficou com o Adam?
A pergunta me pega de surpresa e preciso me esforçar para lembrar de respondê-lo.
— Não sei.
— Foi por isso. — fala, fazendo com que eu não entenda o que quer dizer mais uma vez.
— Ela é bonita. — resmungo, sem saber porque não calei a minha boca ainda.
— É sim. — concorda, olhando para os adolescentes jogando vôlei. — E o Adam até que é um cara legal.
— É. — sussurro.
Observo quando os olhos de Erick me espiam rapidamente de canto e depois ele suspira, passando a mão pelo cabelo encharcado.
— Preciso te contar uma coisa. — ele fecha os olhos, parecendo arrependido por ter dito isso.
— O quê?
Ele fica de frente para mim e posso ver seu peito subir e descer rapidamente.
— Eu ouvi a sua conversa ontem com a minha mãe e Berta.
Paraliso.
— O que você ouviu? — tento me manter firme sem que as ondas levem meu corpo quase estático.
— Tudo. — responde, desviando o olhar, e sei que estou corando. — Eu apenas ia pegar alguns doces, quando ouvi vocês conversarem. — continuo em silêncio, encarando o fundo negro da água a minha frente. — Eu sabia que o que estava fazendo era errado, mas mesmo assim fiquei pra ouvir o resto.
Eu não podia estar mais envergonhada e com ainda mais vontade de mergulhar e permanecer debaixo da água para sempre se isso fizer com que Erick pare de me encarar.
Ontem à noite contei coisas pessoais as duas mulheres que jamais havia dito para alguém, principalmente sobre Gabriel. Por anos apenas eu mesma superava a minha paixão por ele sem que ninguém ao nosso redor sequer reparasse como eu ficava ao lado dele. E agora, não só elas sabem, como Erick também sabe. Eu devo parecer uma adolescente apaixonadinha aos olhos dele.
— Entendo. — sussurro, finalmente.
Ele continua me observando, esperando que eu, provavelmente, diga algo mais. Mas o que diria? Sim, estou doida para gritar e berrar sobre a minha estúpida ação de me abrir ontem a noite e de brigar com Erick do porquê ele ter ouvido a conversa, mas ele é meu chefe. Por si só isso já diz muita coisa e prefiro manter o meu emprego.
— Não sabia que você gostava do Gabriel. — ouço Erick sussurrar, parecendo tão envergonhado quanto eu. — Se eu soubesse, teria dito que iria trazer ele antes pra acalmar você.
— Está tudo bem, isso foi há alguns anos. — digo, tentando amenizar a minha vergonha. — Mas e você?
— O que tem eu? — pergunta, franzindo o cenho.
— Você nunca teve o primeiro amor? — a curiosidade vai me matar.
— Eu era pequeno. — responde, e vejo um pequeno sorriso triste no seu rosto. — Já faz tanto tempo que eu tenho certeza que ela nem lembra de mim.
— Talvez, nunca se sabe. — dou de ombros. — Mas eu tenho certeza de que se um dia ela te encontrar, vocês vão ficar juntos.
— Você tem certeza? — sussurra, apesar da sua pergunta parecer meio sarcástica.
— Mesmo com as histórias que a sua mãe e Berta me contaram ontem, ainda acho que alguns amores são destinados a ficar juntos.
— Tipo Gabriel e você?
— Não, eu não quis dizer nós dois. — respondo rapidamente, surpresa pela mudança no tom da sua voz.
— Você disse que não podiam ficar juntos por causa de onde você mora, mas ele ainda assim parecia bastante interessado em tentar.
Fico em silêncio, olhando para qualquer outro lugar que não sejam os olhos intensos de Erick.
— Esquece. — resmunga, passando a mão pelo cabelo novamente. — Eu venho te chamar quando a comida tiver chegado.
Ele começa a nadar de volta até a praia.
— Espera. — peço, tentando caminhar rápido até ele e fazendo com que se vire de novo. — Eu fiz algo errado?
— Não, você não fez. — sussurra. — Você nunca faz.
Tento dizer algo, ou pelo menos conseguir perguntar dessa vez o que quis dizer com isso, mas não falo nada e o deixo voltar até Berta e Eva.
Não sei explicar em que ponto o irritei ou o que quer que tenha acontecido aqui que o fez dizer algo assim para mim, mas isso me atinge mais do que eu realmente queria.
Observo ele chegar até a praia e ser interrompido por uma garota, que eu percebo logo em seguida ser a Ana. Ela está sorrindo e gesticulando com as mãos, enquanto Erick apenas a encara e vejo quando seus dedos penteiam os cabelos novamente.
Eu paraliso quando Ana se inclina para frente e dá um selinho em Erick, fazendo meu chefe apenas ficar parado.
Ouço a água se agitar ao meu lado e me viro, desviando a atenção de Erick, dando de cara com um rapaz jovem. Ele está usando uma camisa preta e, por mais estranho que pareça, um boné também preto. Os olhos castanhos dele me examinam de cima a baixo e depois sorri, me mostrando seus dentes amarelos.
— Oi. — diz, e me afasto, sentindo que eu deveria fazer algo mais do que isso.
— Quem é você? — pergunto, recuando lentamente, tentando não deixar isso óbvio a ele.
— Eu achei você muito bonita e te vi sozinha — ele suspira. —, e pensei em conversar com você.
— Eu não estou sozinha. — sorrio, tentando não deixar transparecer meu medo e os tremores da minha mão, que não são pelo frio.
— Você quer dizer aquele homem que estava com você antes? — ele olha em direção a Erick, e percebo que ele e Ana já não estão mais lá. — Agora ele está muito longe, não acha?
Dessa vez não tento disfarçar e me viro rapidamente, pronta para correr até a praia.
Um barulho estranho ecoa por toda a praia, me paralisando e fazendo as pessoas começarem a correr e a gritar.
Um tiro.
Tenho certeza de que foi um tiro e o desespero dessas pessoas apenas confirmam isso. As crianças estão correndo de volta até seus pais, que os pegam no colo como se isso pudesse protegê-los do mundo, e começam a correr de volta até a estrada.
Eu perco de vista Berta e Eva em meio a multidão que está se formando.
Quando minha consciência finalmente retorna e consigo me mexer, é tarde demais. Sinto algo puxar meus cabelos com força para trás e esbarro contra o peito de alguém.
— Você não vai a lugar nenhum, vadia.
Reconheço a voz do jovem sussurrando no meu ouvido e meu coração acelera quando percebo que o que eu mais temia acabou de acontecer.
Sinto um dos braços dele ao redor do meu pescoço e o outro ao redor de mim pressionando meus braços para baixo, me mantendo colada contra o seu peito.
Tento me debater, fazer força nas minhas pernas ou até mesmo nos meus braços presos, mas meus movimentos saem lentos devido à pressão da água.
— Eu sei o que o idiota do Gabriel fez e de que isso convenceu aqueles imbecis, mas não a mim. — sussurra com raiva. — Ele não conseguiu terminar o trabalho, mas eu faço esse favor pro meu querido amigo.
Ele força seu corpo para baixo, empurrando minha cabeça e fazendo com que submerja. A água salgada invade minhas narinas e minha boca e fecho meus olhos com força. Não suguei ar o bastante para mergulhar e durar muito tempo embaixo da água.
Forço as minhas pernas para que me ergam, mas meus dedos não sentem mais a areia. Ele é muito mais forte do que eu e está em grande vantagem sobre mim.
Percebendo que não há chances de eu conseguir fazer algo, penso em Gabriel, Berta, Eva e até em Erick quando meus pulmões começam a doer e clamar por ar. Queria ter ficado mais tempo com eles, ter dito o quanto foram importantes na minha vida e de eu jamais os esqueceria. Minha vida foi uma droga, preciso admitir isso, mas melhorou depois que Erick me encontrou, depois que recebi o amor de Berta.
Sei que não vou mais poder dizer a Gabriel o que eu senti de verdade por ele e de que não consigo mais ajudá-lo a ter uma vida longa, mas espero que ele possa me contar todas as coisas boas na sua vida de que foram dignas de serem lembradas.
Queria ter pedido desculpas a Erick pelo que eu disse que o deixou estressado e o fez se afastar. Sim, ele era fechado e solitário quando o conheci pela primeira vez, exatamente como Berta e Michael disseram, mas percebi logo em seguida o seu jeito gentil e carinhoso. Queria ter sentido pelo menos o gosto do seu beijo antes de morrer.
Os braços do garoto se apertam com mais força ao redor de mim, apesar dos meus braços estarem fracos e minhas pernas terem desisto.
Abro os olhos, sentindo a queimação da água salgada, mas vendo a luz do dia através das ondas turvas uma última vez.
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Uma Nova Chance
Lãng mạn🥇LUGAR NA CATEGORIA MELHOR FINAL DO PROJETOCOSMICO 🥇LUGAR NA CATEGORIA MELHOR RESSURREIÇÃO DO LEAGUE OF LEGENDS 🥈LUGAR NA CATEGORIA ROMANCE DO CONCURSO LEAGUE OF LEGENDS 🥈LUGAR NA CATEGORIA ROMANCE DO CONCURSO BELAS FLORES 🥈LUGAR NA CATEGORIA R...