Epílogo

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Um mês atrás...

A cadeia estava sendo uma das piores coisas que Leonard já teve que enfrentar em sua vida. Nem mesmo os ladrões, os traficantes ou Thomas se comparavam a isso.

Seu companheiro de cela era um homem de 60 anos que havia matado seu filho com mais de 20 facadas, pois descobriu que o garoto de 17 anos estava fumando maconha. O próprio homem quem chamou a polícia no fim de tudo e que pediu para ser preso por um longo tempo.

Isso fazia Leonard ponderar sobre o assunto e refletir no estado em que está a saúde mental de um homem como esse senhor.

Por que alguém iria querer ficar preso em um lugar que você não tem privacidade nem mesmo para urinar ou para bater uma no meio da noite com saudade e tesão de alguém? Por que alguém iria querer comer uma comida que mais parece ter sido regurgitado por um animal e depois ser servida aos prisioneiros?

Mesmo que Leonard soubesse que essa situação não fosse durar muito, já que o seu advogado estava trabalhando para tirar ele da cadeia, aturar a cara feia de tanta gente todos os dias e a quantidade absurda de pessoas querendo matá-lo o estava deixando louco. É claro que ele já estava acostumado com a última parte, afinal, até mesmo fora dessa cela muitas pessoas já tentaram matar ele. O problema era que dentro dessas paredes de concreto Leonard não tinha os seus seguranças pessoais para protegê-lo e até mesmo os guardas que vigiam os prisioneiros não dariam a menor bola caso alguém como ele morresse.

Uma notícia pelo menos era boa: hoje é dia de visita.

Se tudo desse certo, o seu advogado aparecia e lhe traria notícias que finalmente o tirariam desse lugar imundo e fedorento.

Leonard já estava na fila com os outros prisioneiros para ir até as mesas e esse era o único momento em que os guardas prestavam atenção nele para garantir que sua cabeça ficasse segura, afinal, na frente das câmeras todos deveriam pagar de bonzinhos.

Leonard já havia avistado Karen, sua mulher, sentada em uma das mesas e isso já o estava incomodando como uma pulga atrás de sua orelha. A coisa piorou quando ele avistou um homem vestindo terno ao lado dela e com uma maleta à sua frente, que deveria ser muito mais novo que o homem de macacão laranja caminhando em direção aos dois.

Assim que Leonardo parou em frente a eles, o homem se levantou, seguido de Karen, que mal encarava o marido. Ela estava usando um vestido longo e vermelho que Leonardo já a viu usando milhares de vezes e que adorava, mas a expressão em seu rosto o estava angustiando.

— Bom dia, Sr. Clifford, eu sou o Victor. — se apresenta o homem de terno, segurando a maleta ao seu lado. — Sou o advogado da senhorita Karen.

Senhorita?

Karen é sua esposa, sua mulher, como esse homem pode estar usando uma palavra dessas?

— Por que você trouxe um advogado, Karen? — questiona Leonard.

Tudo o que ele recebeu da esposa foi o silêncio e apenas por um breve segundo ela finalmente o encarou nos olhos.

— A senhorita Karen pediu que eu a acompanhasse para prosseguir com os papéis do divórcio. — continua o advogado, com uma expressão convencida em seu rosto que estava começando a irritar Leonard.

— Divórcio? — repete o homem, rindo em meio o discurso do advogado. — Do que esse babaca de terno está falando?

— Por favor, Sr. Clifford, eu estou aqui para representar apenas a Karen, mas peço que trate os nossos assuntos seriamente.

— Você só pode estar de brincadeira! — grita Leonard, olhando furioso para a sua futura ex esposa.

A confusão já estava chamando a atenção de um dos guardas perto deles e os olhos do homem começaram a fitar o prisioneiro de macacão laranja que parecia a beira de um ataque de raiva.

— A senhorita Karen e eu já conversamos sobre a divisão de bens e os móveis que vocês dois possuem e de como eles serão divididos aos seus filhos. — o advogado abre a pasta que está segurando e tira de lá alguns papéis, os colocando na mesa à frente de Leonard. — Peço que fale com o seu advogado e que, se for preciso, renegociem os termos e voltem a nos contatar. Essa separação pode ser feita com calma e sem brigas, tudo irá depender de como o senhor vai querer prosseguir.

Leonard havia parado de ouvir o homem desde o momento em que ele proferiu a primeira palavra e tudo o que ele estava escutando era um barulho fino e irritante em seus ouvidos.

Por um impulso de raiva, Leonard se jogou para a frente com a intenção de agarrar o pescoço do homem e matá-lo aqui mesmo em cima da mesa em que está os papéis do divórcio. Mas antes que ele pudesse prosseguir com o plano, o prisioneiro sentiu um forte golpe em suas costas e depois nas suas pernas que o fizeram cair no chão. Os guardas o estavam cercando e batendo nele com os cassetetes, em busca de mantê-lo quieto e servir de exemplo para o resto dos prisioneiros que estavam ao seu redor.

Os guardas ergueram o homem pelos dois braços e o empurraram de volta, enquanto Leonard se debatia e gritava palavrões para o advogado que ajeitava a sua gravata e para sua esposa que chorava. Eles passaram por alguns corredores, corredores suficientes que fizeram a consciência e a raiva de Leonard se dissipar e abandoná-lo, até que o corpo magro e alto dele fosse jogado em uma cela escura. O medo de todos os prisioneiros.

A solitária.

Os segundos se tornaram horas e as horas dias e em pouco tempo os pensamentos de Leonard os estavam provocando para ele botar seus planos de vingança em ação.

Finalmente alguém veio tirá-lo de lá, um homem de terno acompanhado por dois guardas. Eles o guiaram pelo mesmo corredor que a um mês atrás Leonard estava sendo carregado, se debatendo e chutando em completa fúria, e o fizeram parar diante de uma porta. Quando o homem de terno a abriu, Leonard pode ver uma sequência de cabines do outro lado e alguns prisioneiros sentados nas cadeiras de estofado duro falando com seus familiares.

Eles empurraram Leonard pelo ombro, o forçando a entrar naquele cômodo apertado e ocupar uma das cadeiras livres.

Mas as pernas do homem o traíram quando ele viu a silhueta sentada do outro lado do vidro, segurando o telefone perto do ouvido.

Com um esforço que finalmente fizeram seus pés se mexerem, Leonard se sentou na cadeira e pegou o telefone com os dedos magros, quase esqueléticas, e o levou até a orelha.

Essa era uma visita que ele preferia não ter mais em toda a sua vida.

— Você está horrível. — fala a silhueta do outro lado, abrindo um sorriso que fez os pelos do corpo de Leonard se arrepiarem.

— O que está fazendo aqui? — questiona o homem, a voz tremendo de medo.

O sorriso da silhueta se alargou ao perceber o estado do velho e ele se curvou para a frente, apoiando seus cotovelos na madeira.

Quando Leonard viu de perto o rosto do homem, ele se afastou e quase caiu da cadeira, a respiração ofegante e o coração disparado em completo horror. Metade do rosto dele estava queimado e quase irreconhecível, uma grande parte dos seus lábios haviam sumido e um tapa olho estava cobrindo algo que Leonardo estava torcendo para nunca ver.

— O que você quer de mim? — perguntou Leonard, os dedos tremendo enquanto seguravam o telefone.

— O que acha de me ajudar em algo? — questiona a silhueta com um sorriso macabro em seu rosto deformado. — Algo que vai satisfazer nós dois e que envolve o seu querido genro e a namoradinha dele.

Apenas a menção de Erick fez os dentes de Leonard rangerem e sua mandíbula tensionar até doer.

Vingança.

Vingança era tudo o que ele conseguia pensar. Tudo o que rondou a mente do homem durante o tempo em que ficou trancado na solitária.

Vingança era tudo o que Leonard queria.

— Como planeja fazer isso? — perguntou o homem, o rosto enrugado de determinação.

O sorriso da figura à sua frente se alargou.

— Acredita em fantasmas?

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