Laços Quebrados Inquebráveis

Capítulo Dezenove

A primeira vez que SiZhui abriu os olhos parecia um sonho nebuloso. Sua cabeça doía e seu peito ainda estava pesado e dolorido. Mas, para além disso, não se sentiu ainda dentro de sua cabeça. Era como se fosse um sonho, algo deslizante de consciência e inconsciência e sua mente não conseguia, de fato, se apegar em um único pensamento fixo. Sua visão também estava levemente embaçada, do jeito que fica quando se abre os olhos com muito sono.

Mesmo por meio da sua visão muito sonolenta, ele conseguiu distinguir um borrão dourado que sabia ser Jin Ling. Apenas vários segundos mais tarde ele notou, por meio da névoa de sua mente, que estava segurando sua mão, embora ainda não conseguisse definir se a sensação era concreta ou apenas um fantasma nebuloso.

De concreto, ele finalmente sentiu — e se tornou difícil de ignorar depois disso — a sede cortante. Fora da névoa, ele conseguia sentir a garganta arranhando, os lábios secos e a desesperadora necessidade água.

— S-sede... — Ele conseguiu dizer, sua voz soando meio débil e fora de realidade.

No momento seguinte, mãos firmes ergueram sua cabeça e um copo estava em seus lábios secos. Ele abriu avidamente e tentou não engasgar enquanto sorvia a água fresca como um bálsamo para o seu estado. Uma vez que ele terminou e finalmente estava satisfeito, o torpor voltou com mais força e o ômega se sentiu, subitamente, exausto, como se todas as suas energias tivessem sido sugadas, arrancadas do seu corpo completamente.

Seus olhos ainda estavam levemente embaçados quando ele se agarrou ao braço de Jin Ling, mesmo em meio ao seu torpor desesperado por uma percepção:

— Meu filhote?! Meu filhote...

— Está tudo bem A-Yuan. O filhote está bem, eu prometo, o filhote está bem. — A voz do alfa soou tranquilizadora, assim como uma de suas mãos quentes deslizando de maneira confortável pela sua testa.

Ainda assim, SiZhui se sentiu, subitamente, desolado, o suficiente para que lágrimas abundantes escorressem pelos seus olhos. Ele sabia, mesmo em meio à confusão mental e cansaço, que algo havia acontecido com ele e tinha colocado em risco a saúde do filhote. E era sua culpa, como ele poderia cuidar direito do filhote se não conseguia protegê-lo mesmo quando ele estava dentro da barriga? Se não conseguia ser um ômega bom o suficiente para manter o pai dele alfa ao seu lado? Ele só havia falhado com esse bebê desde a sua existência.

— Não diga isso. — A voz de Jin Ling soou novamente e soou tremida. Só então SiZhi percebeu que estava falando tudo isso em voz alta e, por algum motivo, não conseguia parar, assim como não conseguia parar de chorar. — Você é um pai incrível, você é incrível, nada disso é sua culpa, nada disso poderia ser sua culpa...

SiZhui, no entanto, estava tendo dificuldades de focar e a voz do alfa ficava ainda mais distante enquanto o seu cansaço se tornava maior. O cheiro de Jin Ling estava ficando mais intenso, embora tivesse notas de angústia e havia uma energia espiritual fresca percorrendo pelo seu corpo que o relaxava o suficiente para ele simplesmente se virar, em meio ao seu choro, e adormecer novamente.

Quando ele acordou novamente, finalmente sua cabeça estava no lugar. Isso é, ele poderia dizer algo assim. Ainda doía e pesava, mas sua consciência era sua e ele se sentia firme na realidade. A sensação era de acordar depois de ser atropelado. Ele piscou algumas vezes para acomodar sua visão à luz e entre a terceira e quarta piscada duas figuras familiares apareceram ao seu redor.

Wei WuXian e Lan WangJi apareceram rapidamente, cada um do seu lado e, de alguma maneira, apesar de tudo, isso fez o coração e o corpo de A-Yuan se sentirem seguros. As faces dos seus pais, o cheiro de ambos os alfas, tudo isso fez com que ele automaticamente relaxasse na cama. De alguma maneira ele sabia, a partir daí, que ficaria bem.