Capítulo 32

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Os dois ficaram parados se fitando em uma bela distância. Como se eles se movessem, ou deixassem de se olharem, fossem desaparecer, e o mundo ruiria novamente.

Foi Lucien quem conseguiu achar voz pra dizer...

- Você está bem? – Ele notou que ela ainda tinha algumas ataduras no braço...Lucien sofreu por vê-la assim...se ele pudesse, teria trocado de lugar com ela.

Gwyn pareceu despertar da visão que ela teve dele. Ela o achou mais magro, parecia cansado, e ela achava que não estava muito diferente.

- Estou...melhor. E você?

- Eu também... Sua voz mudou...

Gwyn tentou não demonstrar emoção ao falar:

- Ele tirou minha voz, pra te prejudicar.

Lucien fechou os punhos pra não extravasar sua raiva...Ele se lembrava desse momento. Mas não sabia que Beron tinha ido tão longe...deuses...O que sua Gwyn tinha sofrido?

Lucien engoliu em seco quando ela se aproximou de onde ele estava, perto da sacada.

- Fiquei sabendo... – ela disse – que seu pai é o Helion – Lucien apenas assentiu, ainda fascinado por ver Gwyn viva e perto dele – Como você está se sentindo...realmente? – Ela queria tocar nele, mas por algum motivo, não conseguiu.

Lucien suspirou.

- Me alivia saber que não somos irmãos... – Gwyn não podia concordar mais – Mas é como se eu tivesse vivido uma mentira. Na verdade, eu vivi uma mentira.

- Eu entendo você...

- Gwyn – Lucien suspirou – O que você viveu...Me perdoe por não ter chegado a tempo...Me perdoe.

- Lucien, por favor. Você prometeu que não se culparia pelo que não tinha culpa...se lembra disso? – Lucien assentiu ainda amargurado – O que eu vivi, foi algo que nunca poderei esquecer – ela disse com uma dor que era palpável – Mas jamais foi sua culpa. Os maiores culpados se foram... – o semblante dos dois ficaram sombrios. Embora pra Gwyn ainda restava uma que ela guardava em seu íntimo – E se estou aqui viva, foi por sua causa. Você me salvou. Sua Luz que passou a me guiar, me salvou – Lucien mordeu os lábios pra não desabar, e Gwyn parecia conter as mesmas emoções – E você quase morreu por isso. Então, estar aqui, perto de você... é um milagre.

O coração dos dois batiam fortemente.

-  Eu digo o mesmo, raposinha. Não sabe o quanto me preocupei com você. O quanto morri por dentro cada vez que pensava no que podia estar acontecendo com você  – Lucien disse com a voz embargada, e a dor no coração de Gwyn se apertava um pouco mais  – O quanto queria estar perto, e não pude estar... – Lucien parecia querer tocar nela, mas desistiu – Mas você também me salvou com suas chamas – Jurian e Vassa contaram em detalhes o que tinha acontecido pra ele, por isso Lucien sabia de tudo. E agora entendia melhor o poder de Gwyn. E mesmo o seu poder –  Eu poderia ter morrido, mas lutamos juntos. Você é uma heroína, Gwyn.

Gwyn corou, e ficou ao lado dele na sacada. A luz do sol da Corte Outonal infiltrava os cabelos ruivos dos dois, enquanto eles fitavam o horizonte através das árvores.

- E você é um herói, mesmo que não ache ser. – Lucien deu um meio sorriso que não chegou aos olhos, mas não disse nada.

- Eu vim aqui – ela disse – pra saber como você estava, e porquê...eu preciso te passar um recado.

A voz de Gwyn parecia fria e distante. Lucien até a fitou preocupado. Mas ela não o olhou de volta.

- Eu permaneci com Eris até a momento de sua morte – Lucien fechou os olhos pela dor que o invadiu – Não me pergunte o que eu vivi com ele, não sou capaz nem de lembrar. – Havia amargura e raiva em suas palavras. Lucien nunca a tinha visto assim, tão sombria...– Mas antes dele ir, nosso irmão – Lucien se surpreendeu pela forma como Gwyn falou carinhosamente a palavra "irmão" – me fez prometer que eu falaria com você sobre duas coisas.

Corte em ChamasOnde histórias criam vida. Descubra agora