Epílogo 1 - Cortesã

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- Não. – Vanessa riscou em sua caderneta o nome Jasper – Esse macho é nojento. – Ela estremeceu.

Vanessa foi olhando para a lista de nomes...

- Não. E não...não mesmo! – Ela foi riscando cada um – Que safra ruim, não é Godofredo?

O gato preto se aninhou em seus pés, e Vanessa descalça fez carinho com um dos pés nos pelos dele, enquanto estava deitada no divã, com a caderneta a sua vista, e a lista de nomes que compareceriam na festa da Corte Estival, na sua barriga.

Vanessa sempre se garantia, fazia parte de sua profissão. Por mais que fosse amante exclusiva do atual Grão- Senhor, Tarquin, tudo poderia mudar de um dia pra noite. E se ele morresse? Ou se enjoasse dela? Vanessa tinha sempre que se garantir. Por isso apesar de ela vender sua exclusividade em quem pagava mais, jamais seria exclusiva de ninguém, há não ser dela mesma. Poderiam ter seu corpo, mas jamais sua alma.

Então Vanessa não tinha escrúpulos pra chegar onde queria. Passaria por cima de qualquer coisa, ou qualquer um que estivesse atrapalhando seu caminho...Veja bem, não é que ela era má, só aprendeu a duras penas, que ou você seria a trouxa ou faria os outros de trouxa... Ou as pessoas se aproveitariam de você, ou você se aproveitaria deles. Ou seu coração seria partido, ou você partiria o coração alheio...Ou você era ferido, ou feria...E Vanessa preferia ferir, do que ser machucada. Era assim que as coisas funcionavam no mundo dela, e era assim que você conseguiria sobreviver pra obter sucesso, poder e prestígio.  – Vanessa parou de escrever, e ficou olhando para a janela com a vista de frente para o mar, que exigiu que Tarquin lhe desse – Se todas essas coisas a fariam vilã, que assim fosse. Ela preferir ser vilã, do que a mocinha pobre coitada que sofre de amor, chegando a morrer por ele. Não, ela não faria tal sacrifício por ninguém, há não ser por ela mesma. Ninguém nunca pensou nela, por que ela teria que pensar nos outros? Ela via os feéricos brigando por amor...Ela mesmo já deu umas vaciladas, mas sempre conseguia parar antes que fosse tarde demais – Vanessa sorriu sem humor – Ela só abria uma exceção para Lucien, aquele macho sim amava... ela pode provar isso muito bem...Mas os feéricos não amavam, e não sabiam amar...Vanessa sabia muito bem disso... – Ela desvencilhou os pensamentos sombrios quando a porta foi aberta para sua dama de companhia.

- Tarquin pediu pra que eu a arrumasse.

- Ótimo. – Disse Vanessa, se levantando do seu divã – Hoje será meu dia. – A dama de companhia sorriu para a Vanessa, e as duas começam a conversar sobre tudo enquanto se arrumava... Vanessa era assim, tinha uma astúcia tanto pra fazer amigos como...inimigos.

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Vanessa desceu as escadas que davam bem em frente ao trono de Tarquin. Ela vestia uma top encrustados com rubis, que marcavam seus seios voluptuosos. Sua barriga trincada estava a mostra, e sua saia eram várias faixas vermelhas, com um cinto incrustrado de joias segurando-os pela cintura. Seu corpo estava brilhante com luz de ouro em sua pele de mogno. Seu rosto estava escondido, aparecendo somente seus olhos cor de âmbar, como olhos de gato...perigosos e hipnotizantes. A visão era tão estarrecedora, que todos ao seu redor pararam de falar, vendo o poder daquela fêmea de vermelho andar como se fosse dona de um império.

Automaticamente abriram espaço pra ela passar, e fez-se um círculo em sua volta. Tarquin parecia nem respirar, assim como Vanessa havia previsto...Machos são tão previsíveis.

A música começou a tocar, e ela tirou o véu que cobria seu rosto, começando a dançar a dança do ventre escandalosamente e exclusivamente para Tarquin. Vanessa girava com o tecido vermelho por todo o seu corpo, enquanto sua barriga fazia movimentos sedutores de acordo com a batida da música. Vanessa sabia que estava sendo alvo de cobiça e inveja, e aquilo só fazia ela querer ser ainda mais sedutora. Ela deixou o tecido cair no chão, e sem parar de olhar para Tarquin, pegou a espada que sua dama de companhia lhe deu, embora ninguém tenha notado de tão hipnotizados que estavam nela, e começou a fazer movimentos com a espada, junto com o seu corpo. Colocando-a em um dos seus quadris, enquanto sua perna musculosa aparecia... Ela dançava com a espada, como se fizesse parte dela.

Ninguém respirava, e Vanessa dando seu gran finale, ficou de costas, e colocando a espada em sua barriga, ela foi descendo ao contrário, com a cabeça virada para Tarquin, até ficar no chão, e seus cabelos brancos se confundirem com o piso da Corte. A música parou, e Vanessa, com uma destreza, se levantou calmamente. Ela fez uma mensura, dando um piscada a Tarquin, que parecia estar fazendo um esforço hercúleo pra não correr atrás dela, e sair dali...

Depois que pareceram uma eternidade, todos começaram a se movimentar, e a festa prosseguiu....mas não como antes...

Vanessa pegou uma bebida, e a tomou com delicadeza, afinal ela sabia se portar em vários tipos de ambientes. Ela fora treinada pra isso.

Tarquin apareceu atrás dela, e disse:

- Deuses...Preciso de você.

Vanessa se virou pra ele deliberadamente devagar, com uma falsa modéstia.

- Você tem suas obrigações meu Grão-Senhor. Não posso tirá-las da você.

- Você agora é minha obrigação – tinha malícia em seu olhar – Mas primeiro tenho que te tirar daqui, todos estão olhando pra você como se fosse...

- Uma cortesã? – Ela sorriu ao ver o semblante endurecido dele – Não vou sair daqui. Não está no contrato que sou proibida de frequentar festas. Há não ser – ela passou com os seus dedos pelo vale dos seios, atraindo a atenção de Tarquin  – que você não me queira mais... – ela fez um biquinho falso.

- Nunca mais diga isso. Tudo bem – ele suspirou resignado – Mas depois dessa festa quero você no meu quarto.

- Você que manda, meu Senhor. – Ela sorriu, e ele correspondeu.

- Não vai nos apresentar? – Disse um dos amigos de Tarquin. O mesmo parecia não gostar muito da ideia, mas apresentou Vanessa a todos eles. Todos elogiaram sua apresentação, e  Vanessa sorriu sedutoramente, embora soubesse do histórico de cada um.

- Ah...Quase me esqueci, tenho um convidado de honra – disse Tarquin, enquanto guiava Vanessa pra esse tal convidado...Se estivesse naquela lista que ela vira cedo, já era, pensou consigo.

Eles se aproximaram do macho que estava de costas para Vanessa... e Vanessa começou a sentir frio na espinha...Aquele cabelo, aquele porte...aquele cheiro...

O mesmo percebeu a aproximação deles, e se virou de frente para os dois.

- Vanessa esse é o meu convidado da Corte Noturna, Azriel – disse Tarquin – E Azriel, essa é Vanessa...minha...amiga.

Vanessa ficou petrificada.

Azriel deu um meio sorriso, e estendeu a mão pra ela. Vanessa mascarando as emoções, lhe de a mão, e Azriel beijou o dorso de sua mão, embora não tirasse os olhos dos dela.

- Prazer em te conhecer, Vanessa.

Ela piscou algumas vezes, e saiu do toque dele. Foi questão de segundos, mas conseguiu se recompor a tempo, e entrou na atuação.

- O prazer é todo meu, Azriel. – Ela disse com sua voz mais doce.

Corte em ChamasOnde histórias criam vida. Descubra agora