VII. O show inesperado

38.7K 4.5K 14.6K
                                    

#ÉPascal

— Já é a quarta vez que você erra o tom, Jimin — ouço Yoongi falar, bravo. — Se você não está bem, nem deveria ter vindo ao ensaio.

Aborrecido, concordo, largando Judith na poltrona velha. Eu não tenho estado bem desde que... Bem, desde que aquela tragédia acabou acontecendo. Minha garganta parece estar sendo perfurada por mil pregos, mas nenhum me incomoda tanto quanto a pulga atrás da minha orelha implantada pelo sermão nada normal que mamãe me dera.

Contando com hoje, três semanas se passaram e em nenhuma delas eu vi Jungkook. Faz um bom tempo desde que pude testemunhar as têmporas franzidas e o sorrisinho usual que costuma me dar.

— Me desculpem, eu estou ruim — digo, me sentindo realmente mal.

Taehyung nota a minha letargia e passa um dos braços por cima do meu ombro, abraçando-me de lado. Claro que entendo a chateação de Yoongi comigo, afinal falta apenas um dia de ensaio para finalmente tocarmos na festa. Vai ser a primeira vez em que iremos nos apresentar para um público grande, então deve estar tudo nos eixos. Do contrário, passaremos uma baita vergonha. A banda Ravenna é reconhecida por todos os alunos do colégio.

E, além do mais, acredito que Jungkook estará lá para nos prestigiar. De certo modo, nada pode dar errado.

— Se for nos seus sonhos, talvez ele apareça mesmo — Taehyung diz rindo, pegando no meu queixo.

— Quantas vezes eu já não disse para parar de ler os meus pensamentos? — esbravejo, chateado. Essa mania dele precisa acabar, ou eu estarei em apuros.

— Não é bem ler os pensamentos, eu só os ouço. Não tem uma televisão que anuncia eles, tipo: "Olhe, ele está pensando nisso e aquilo..." — O Kim refuta, fazendo-me rolar os olhos.

— É a mesma coisa! — Yoongi e eu dizemos em uníssono.

— Caramba, foi mal. Vocês estão precisando de uma boa tragada para acalmar os ânimos. — Tae levanta as mãos em rendição.

E, sem mais nem menos, fomos até a parte de trás do jardim da escola. Nem preciso dizer em boas palavras para o quê, mas posso me defender dizendo que não, eu não fumo. Nunca vou fumar. Sou traumatizado com pessoas que fumam, apesar de algumas serem meus amigos, assim como Taehyung, Rosé e o Min. Ainda me faltam neurônios que, na maioria do tempo, decidem me trair, mas nunca neste momento. A adrenalina de ser pego pela diretora corrói o meu corpo. Era para estarmos na aula de química molecular e estamos aqui, encostados na parede velha enquanto encaramos os túmulos espalhados na frente do jardim.

Sei que é nojento e bizarro ter um cemitério — meio longinho, mas perto o suficiente — na escola. Entretanto, moramos em Salém. Tudo é possível nessa cidade pacata e assustadora.

Sou surpreendido quando Taehyung me oferece um pouco do beck que está fumando, mas nego, inflando as bochechas. Lilith que me livre destes vícios humanos. Sei que posso parecer certinho demais para eles, porém quero o meu pulmão intacto.

Rosé me cutuca, apontando para Yoongi, que está emburrado por inteiro. Pergunto-me se ocorreu algo com ele, mas minha resposta é dada quando Taehyung tenta abeirar-se dele e sai sendo jogado de escanteio.

— O que houve com vocês dois? — questiono, inabalável. Duvido muito que Yoon admita que está bravo com o Kim.

— Nada — como dito, o branquelo responde.

— Eu sem querer querendo acabei lendo a mente dele — Tae explica-se. — E não foi numa boa hora.

— Claro que não foi uma boa hora. A gente tava transando, porra! — Min explode com o linnguajar inadequado, arrancando-me olhos esbugalhados.

Nova Salém | pjm + jjkOnde histórias criam vida. Descubra agora