X. A quase morte

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#ÉPascal

Descer as escadarias me faz reparar cada canto da casa de Jungkook. Lembro-me como se fosse hoje, o meu rosto colado na parede, cheio de linhas vermelhas em volta do papel. Dizer que tenho medo da morte é uma loucura, pois não há temor algum em meu peito. O meu medo é não poder nunca mais ver as pessoas que amo, e isso gera um gás de energia para que eu continue todos os dias. Um dia atrás do outro, venho vivendo bem. Conheci uma das pessoas mais enigmáticas da minha vida, além de ter certeza que novas aventuras virão.

Só não sei se serão ruins.

Refletir sobre aventuras dá arrepios nos meus pêlos do braço, pois a essa altura, compreendo que elas poderão ser muito mais do que aventuras. Poderão significar a minha morte. Morrer ainda não está em meus planos, acabei de dizer mais acima, porém se eu precisar fazer isso por uma escolha maior, então que seja. De qualquer forma, sinto que não é a primeira vez que morrerei. A palavra morte causa um impacto enorme em mortais, porque, oras! Eles são mortais, sabem que um dia morrerão, quer seja depois do trabalho ou no começo do dia. E, se nessa vida eu morrer tão jovem quanto estou, então farei um escarcéu para voltar a viver novamente. Mesmo que possa ser um esforço em vão, perder a minha juventude por uma droga de premonição é uma imbecilidade.

Bravo, escorrego um pouco dos degraus, mas sou parado quando as costas largas de Jei estão bem no meu nariz. É claro que estou com vergonha, a minha face concentra todo o meu sangue drenado. Mas a minha irritação de morrer jovem a ultrapassa, transformando tudo mais caótico do que permanece. Jungkook provavelmente acha que minha irritação é sobre ele, o que se concretiza ao olhar desconfiado que me dá, coçando a garganta.

— Eu te fiz algo?

Ele tenta parecer desinteressado, no entanto, logo noto a sobrancelha arqueada. Não está entendendo o motivo de eu estar bravo, muito menos de eu ter trombado em suas costas.

— Não... É só uma coisa interna — respondo, batucando os dedos no corrimão.

— Hm — murmura, virando as costas.

Antes de pôr os pés a caminhar, ele gira em minha órbita, encarando-me novamente. Ele fisga algumas percepções do meu rosto, querendo decifrar o porquê de eu continuar bravo.

Não quero dizer que estou abalado pela minha possível morte. Deste modo, perderei todo o meu posto de tanto faz.

— Certeza? — questiona.

— Absoluta. Certeza.

Ele balança a cabeça, concentrando-se em mim. Agora usa seus poderes mentais, somente para obter a resposta que tanto quer. Eu não deixo barato, repetindo em minha mente:

Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete. Te peguei.

Jei relincha, igual a um cavalo, odiando ter sido enganado por mim. Eu jamais deixarei ele vasculhar minha mente. Nunca.

A não ser que ele peça com carinho, o que acho difícil de acontecer.

— Adoro quando você me faz de trouxa. Posso pensar por segundos que você é mais inteligente do que eu — exprime, estalando a língua no céu da boca. — Só por segundos mesmo.

— Sabe a puta que te pariu? Então, ela precisa de você.

— Bem, eu não sou parteiro ou coisa parecida.

Eu franzo o cenho, não entendendo o humor requintado do vampiro. Às vezes — quase sempre — ele fala grego, pois sou incapaz de decifrar o que ele fala.

E, bem, eu gosto disso nele. O deixa mais interessante e atraente. Além do mais, pessoas com humor duvidoso são as melhores pessoas para se conversar. Com ele não é desigual.

Nova Salém | pjm + jjkOnde histórias criam vida. Descubra agora