IV. A manhã conturbada

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#ÉPascal

Meu pai está indo embora.

Ele põe as malas no enorme carro preto, o qual por sua vez, possui dois chifres no capô. Jean gira o corpo para vir em minha direção. Antes de dizer-me algo, mamãe o abraça forte, e Adalynn também, mas devido a baixa altura, ela somente circula seus bracinhos pelo quadril do homem. Desejo que ele fique por mais tempo, no entanto, a buzina lhe tira a concentração de nós. Eu espero que meu pai se cuide enquanto estiver no inferno; ele está indo para uma missão secreta junto de Lilith. Uma oportunidade dessa não pode ser negada, é uma ocasião única.

Diante disso, tento reprimir a umidez dos meus olhos, que estão denunciando que eu chorarei caso fique pensando muito. Não posso ser egoísta ao ponto de fazê-lo recusar uma oportunidade que espera há tempos.

A partir de hoje, eu serei o homem da casa.

Papai ri alegremente, mirando seus orbes na minha face. As mãos pesadas dele são direcionadas ao meu cabelo, onde faz um cafuné gostoso no meu couro cabeludo.

Esqueci que ele é capaz de ler pensamentos, merda!

Os bruxos veteranos conseguem fazer várias coisas assim, meu pai é um deles.

— Como será o homem da casa se agora mesmo está chorando, Park Jimin? — questiona, imitando um semblante sério.

Só então reparo nas minhas bochechas molhadas, que pegam fogo por conta do meu choro estridente. Eu não quero que ele vá, porém não quero prendê-lo aqui.

— Ah, qual é, Jean? Seu menino ficará bem — dita uma voz feminina de dentro do carro.

Engulo seco e a minha saliva aparenta rasgar minha garganta fora, como se navalhas estivessem fincadas no meu pescoço, evitando-me falar.

A porta do carro se abre, e a calçada de casa é chicoteada pelo salto alto da mulher corpulenta e linda. Seus cabelos são pretos, eles contêm ondas fenomenais. Já os olhos são esverdeados, pequenos, mas capazes de perfurar qualquer rosto. Seu tom de pele brilha na lua; é marrom retinto. As unhas pintadas de vermelho passeiam pela minha clavícula exposta.

Lilith permanece impassível em minha frente, expondo seus lumes grandes, os quais mudam de cor. Agora eles estão vermelhos, vermelhos como rosas. Um misto de pavor e excitação me alcança, sendo capaz de gerar-me uma inquietude inigualável.

Ela é tão bonita pessoalmente. Demonstra tanto interesse em mim; um interesse que não consigo decifrar. Mesmo que ela seja a rainha do inferno, a nossa rainha, papai retira as mãos da mulher de mim, falando indiretamente que ficasse longe do meu físico. Minhas pernas bambeiam.

Como ele pode agir com essa insolência?

— Bem, eu preciso ir. — Meu pai me abraça, cheirando meus fios loiros, posso julgar que ele está quase chorando. — Proteja-os, Jimin. Você é forte e destemido — murmura no meu ouvido. — Cuide de Lynn e sua mãe enquanto eu estiver fora. — Afasta-se sutilmente, sorrindo. — Lembre-se que pode me contatar via projeção.

Assinto, encarando o chão. Não quero vê-lo partir. Apesar de eu tentar parecer forte, o bolor na minha garganta aumenta, e eu choro com intensidade. Tenho medo do que pode acontecer.

Não sou capaz de esboçar surpresa ao ter Lilith olhando-me, pois minhas energias se mantêm drenadas em meu pai. Espero que ele não se machuque. Minha relação com papai é grotesca e pegajosa. Ele faz questão de me ensinar coisas imensuráveis para que um dia eu possa usar, sempre me ensina uma quantidade variada de conhecimentos. Vai ser difícil aprendê-los sozinho, mas de certa forma, terei que dar conta disso. Embora eu estude sobre magia sozinho, é costume perguntar para meu pai sobre os assuntos. E ele explica bem, é fácil de compreender. Pelo menos poderei comunicar-me com ele.

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