II. O encontro desagradável

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#ÉPascal

Sentado na cadeira, observo minha mãe sorrir. Ela sorri na direção de meu pai, que também retribui beijando o topo da cabeça dela. Eles são o casal perfeito, o que eleva as minhas expectativas de eu ter um relacionamento bom e saudável.

Se algum dia eu estiver me relacionando com alguém, espero que ele me veja como meus pais se veem; repletos de conforto e admiração. Não sou um cara que se apaixona fácil como a maioria, eu preciso reconhecer segurança na relação e é notável que quase ninguém possui essa qualidade. Especialmente em Salém.

Acontece que as pessoas aqui são relutantes e medrosas demais. Todos moradores que possuem relações verdadeiras em Salém, consequentemente foram constituídas em outro local. Dizem que essa cidade é amaldiçoada e eu não nego, há sim vários traços de maldições.

De imediato, quis perguntar ao meu pai se realmente essa cidade amaldiçoa relacionamentos amorosos. Mas, contenho o meu questionamento ao vê-lo abrir a boca para me indagar algo que, sem dúvidas, seria sobre o colégio.

Não sobre magia, como eu desejo.

— Como está a banda? — demanda, tomando um gole de café. — Ouvi dizer que estão trabalhando em uma nova música.

Estreito meus lumes. É óbvio que ele ouviu dizer. Óbvio que perguntaria sobre minha banda, não a respeito dos meus conhecimentos sobre os feitiços que eu andava adquirindo nesse meio tempo estudando sozinho com aquele livro grosso e, deveras, pesado.

— Sim, nós estamos trabalhando bastante. — Faço beicinho, jogando um sorriso de lado. Agora, Park Jimin! — Aliás, eu estou treinando uma coisa nova, tenho certeza que me ajudará na prova para passar no Coven, e seria legal se o senhor pudesse me ens-

— Adalynn me disse que ontem estavam a centímetros da floresta — me corta. Eu desisto de falar, logo em seguida, enterrando o rosto na mesa.

No mesmo instante que pronuncia o nome de minha irmã, ela entra na cozinha para pegar os biscoitos dentro do pote de vidro. Lynn não mede as palavras, como é uma criança, não compreende os acontecimentos que poderia omitir para não se encrencar. Tentei ensiná-la a mentir um pouco, mas não adiantou. Mamãe sempre acaba descobrindo.

— A pestinha disse?

Tento ao máximo não olhá-lo nos olhos, senão, ele saberá que estou mentindo na cara dura. Respaldo-me na cadeira, engolindo a saliva a seco. Ele soube que quase entramos na floresta.

Meu pai não gosta muito da ideia de eu estar estudando para entrar no Coven, ele foge da conversa quando toco no assunto e faz trajetórias diferentes das iniciais. Ele parece ficar receoso nessas vezes e então eu não converso novamente, apenas deixo meus argumentos morrerem. Eles são refutados de um modo que nem mesmo o Senhor Raoni seria capaz de refutar.

Porque, veja bem, Jean é uma pessoa profundamente inteligente. Sinto orgulho de tê-lo como pai, tê-lo ao meu lado. Porém, há ocasiões em que ele prefere se esquivar de falar comigo, gerando-me um temor. Eu não quero desapontá-lo.

E quando nota rastros de frustrações expressos no meu rosto, a primeira reação que tem é de se aproximar de mim, agarrando minha bochecha gorda — ele ama dizer isso. Sustento meu fitar no pano escuro, enxergando as linhas no artesanato feito à mão. Eu não consigo lidar com as esquivanças que meu pai insiste em manter.

Se ele se formou no Coven, por que tem tanto medo de eu ir à universidade onde estudou?

— Eu sei que talvez esteja curioso sobre o que aconteceu na floresta, mas o perigo ainda está à solta. Não quero que entre lá. — Como se já adivinhasse que estou negando interiormente a advertência, ele respira fundo, retirando a palma que me acariciava para a colocar nas têmporas. Eu não vou obedecer, e ele sabe. — Desde que prometa não se machucar.

Nova Salém | pjm + jjkOnde histórias criam vida. Descubra agora