XII. A atração errônea

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#ÉPascal

Os meus pulmões estão repletos de água. Se tento gritar, minha voz sai extremamente silenciosa. O fundo do lago é revestido de um preto obscuro, e notar isso faz com que eu me desespere mais. Da primeira vez em que ameacei ficar desacordado, recobrei os meus sentidos e retornei a enxergar tudo que me rondava. Fazer isso agora é difícil.

Meu corpo pesa.

Minhas mãos param de se mexer.

Minha temperatura esfria.

Minha respiração para.

E eu desacordo por completo.

Um feixe de luz sobrevoa no meu rosto, e eu escuto vozes como se estivessem dentro do meu ouvido, soando calmamente. Bem, calmamente não seria o advérbio certo, visto que uma das pessoas aparenta estar nervosa e, bastante zangada com o que presencia. No momento, não consigo distinguir a voz, mas sei que ela é de algum conhecido.

— Ele morreu!

— É claro que não morreu, seu idiota. Ele ainda tá respirando — uma voz mais rouca contrapõe a outra, meio enervada.

— Lembro do meu avô que ficou exatamente desse jeito quando morreu — alguém explica.

— Assim como?

— Com cara de trouxa e cadáver ao mesmo tempo.

O meu sangue ferve, e eu tenho vontade de me levantar de impeto para assustá-lo. Seja quem for, esse idiota vai pagar pelo que disse.

Ao abrir os lumes, a primeira pessoa que entrevejo é Jungkook, o qual segura-me pelos ombros, batendo fraco no meu rosto para eu acordar. Quando ele nota que estou acordado, os resquícios de preocupação em seu rosto transformam-se em irritação. Ele deve estar irritado por eu ter desobecido a ordem de vir para o lago, mas não tenho culpa se a minha curiosidade foi tamanha. Sem contar que foi por um motivo bom.

Sorrio, meio tocado dele ter vindo me salvar. Se ele não estivesse aqui, eu morreria afogado. Mas, escuto um barulho de espanto, e ao girar a cabeça, posso vislumbrar os meus antigos amigos. Taehyung sobrepõe a mão na boca, vindo até a mim. Yoongi faz o mesmo, se aproximando, induzindo Roseanne.

Também nutria algumas esperanças deles virem me ajudar, e com tudo isso, talvez possamos voltar a ser amigos. Sendo sincero, perdê-los por alguns dias já foi ruim o bastante. Não quero piorar.

— Você acordou — Yoongi diz, aparentando estar aliviado.

— Ai, merda! Eu disse que ele era capaz de fazer uma loucura dessas — Taehyung fala, quase arrancando os fios.

— É. Mas agora já foi. — Rosé toma a frente, pronunciando. — Que bom que acordou, Bruxinho. — Sinto a palma quente e aveludada dela passear na minha bochecha.

Eu senti muita falta desse apelido.

— Eu... Olha só, queríamos te dizer uma coisa e — Tarhyung pausa, encarando Jungkook. — Viemos te pedir desculpas.

— Principalmente eu — Yoongi revela, segurando a minha mão fria. — Me desculpe.

Assinto, ainda sorrindo. Estou melhor. Bem melhor do que semanas atrás. Esse episódio meio traumático ocasionou coisas boas, e eu sou imensamente grato por isso. Afinal, temos que ser gratos por tudo. Inclusive eu que desafiei as consequências que já sabia que viriam. No final de tudo, sou grato.

Estranho o silêncio repentino de Jungkook, e estranho mais quando ele se levanta da cama em que repouso, indo para fora do quarto. Esse quarto é do senhor Raoni. As mobílias são antigas, assim como o assoalho velho.

Nova Salém | pjm + jjkOnde histórias criam vida. Descubra agora