I. O dia das Bruxas

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#ÉPascal

É Halloween.

E, embora a maioria das pessoas pensem que o Halloween faz parte do clube das datas comemorativas mais legais, para mim, não. Em todos os Halloween's sou obrigado a acompanhar a pestinha — melhor dizendo, minha irmã —, a pegar doces.

Pelo menos eu como eles. Confesso que as jujubas são as melhores. Principalmente as de Adalynn.

Essa roupa que uso pinica demais. E, no momento, uso uma capa estranha de vampiro. Meu reflexo no espelho parece patético, como um irmão mais velho que leva os irmãos mais novos para pedirem doces e consequentemente, precisa se fantasiar.

Sério, esse tipo de coisa é patética demais para humanos metade bruxos.

Estou aguardando minha mãe terminar de ajustar a fantasia de Lynn para podermos pegar doces. Ela rodopia, quase cai no chão e, antes que algo aconteça, sorri lançando-lhe um feitiço de levitação. Os fios tingidos de roxo sobrevoam na faceta impassível. Ela adora voar.

Que pestinha.

Mamãe gargalha enquanto apenas permaneço sereno. Quer dizer que ela tinha razão em puxar minha orelha para eu treinar os feitiços, estava me tornando expert no assunto de magia. Não que eu seja igual aqueles idosos macabros que sabem absolutamente tudo sobre poções, feitiços, rituais, pedras e magia.

Pensando bem, até que me encaixo nisso. Se meu rosto fosse mais rabugento, obtivesse várias rugas, conseguiria enganar as pessoas fingindo ser um bruxo de quatrocentos anos.

Mas, na realidade, sou um adulto adolescente — é o termo que usam para quem acabou de atingir a maioridade —, prestes a me tornar um bruxo tedioso que se preocupa mais com possíveis novos pentagramas, os quais mudariam a nossa bruxaria atual. 

Park Lynn me puxa, e antes de fechar a porta, respondo os possíveis interrogatórios de nossa mãe:

— Sim, nada de ir à floresta. Nada de entrar na casa de estranhos e nada de feitiços na rua. Dessa vez eu não jogarei pragas nos vizinhos que recusarem nos dar doces, fica tranquila. — Meu sorriso travesso desmancha-se ao vislumbrar a pose inquieta da mulher. Não contenho a cisma, arqueando as sobrancelhas. Ela esconde algo.

Eu queria saber ler pensamentos. Que inveja do Taehyung.

Da última vez que a vi tão acuada, foi quando a vovó morreu. Consigo notar a postura mais preocupada que o usual. Ela não domina a arte de esconder sua angústia, sempre acaba demonstrando. Ter uma mãe coruja às vezes é sufocante. Certo dia, no meu aniversário de dez anos, ela brigou com o garoto que eu gostava porque ele deixou um pouquinho de catarro no meu presente. Ele estava gripado, o nariz vermelho denunciava tudo.

Depois ficou com remorso por tratar o menino mal e ofereceu-lhe o inalador.

As palmas trêmulas dela tocam minha irmã, pedindo-a para pegar a bolsinha de doces. É só um disfarce, já que hipoteticamente ela me dará más notícias. Sinto uma sensação ruim.

— Os Jeon's voltaram, meu amor. Tenho muito medo do que possa acontecer.

Claro que seria isso.

— Mãe, não vai acontecer nada. Não é como se houvesse uma nova inquisição no século vinte e um, não existem tantas bruxas quanto antes — tento acalmá-la.

Sou surpreendido ao receber um abraço apertado. Ela coloca o queixo na minha cabeça — Sim, eu sou mais baixo do que minha própria mãe —, me acariciando. Mamãe tem medo de me perder, de não ter mais o filho aqui.

Nova Salém | pjm + jjkOnde histórias criam vida. Descubra agora