IX. A des(confiança)

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Aviso: Capítulo não revisado.

#ÉPascal

Dormir é uma tarefa fácil, exceto se você estiver com medo de ter uma paralisia de sono novamente. E, apesar de eu querer dizer que não é o que penso, estou com um pavor imenso daquilo ocorrer de novo. Só de recordar das garras envoltas no meu pescoço, minhas palmas suam por inteiro. O fato de meus esforços serem desnecessários para cessar o tormento que passei, já atrai aflições ao meu corpo e mente. Portanto, a minha única companhia é o meu livro de feitiços e Pascal, que está sentado de barriga reta, como se fosse um humano verdadeiro no corpo de um animal. O meu familiar costuma tirar cochilos por cima dos livros, piora se forem macios. Ao tentar virar a página, sou contido por um resmungar nada fofo dele. Resolvo deixá-lo dormir. Além do mais, caso eu ouse acordá-lo na hora da soneca, posso esperar por uma travessura pior do que ter uma paralisia do sono.

Disperso nos meus transes, acabo tomando um susto quando a cortina da minha janela balança. Estendo a mão, alcançando a escova de cabelo em cima da mesinha do lado da minha cama. Claro que não vou poder atirar a escova no intruso, muito menos o ameaçar, mas vai que ele tenha medo de objetos.

É só um palpite.

Pode ser Junghyun, visto que ele quer, de qualquer jeito, a minha cabeça pendurada em alguma árvore de Salém. A ideia de decorar as árvores com cabeças não é tão estranha — papai me diz que antes era assim. Contudo, conforme os anos se passaram e a cidade conquistou novos moradores, tiveram que mudar tudo.

Preparo-me para atacar, firmando as pernas e apontando a escova na direção da sacada. Lilith, por favor...

Já não sei o dia em que me tornei tão covarde ao ponto de usar uma escova, a fim de me defender de algo que sequer sei o que é. Minha tática aparenta funcionar, pois o indivíduo recua um pouco. Crer que a escova o assustou, faz com que eu volte a atenção no objeto que seguro. A partir de agora, minha arma letal será ela.

Se eu conseguisse lançá-la e fazê-la atingir a testa de alguém, com certeza daria traumatismo craniano.

Seguro-a firme, recuando ao ver a figura se aproximar mais, esgueirando-se. Por conta do escuro, captar os traços do rosto desconhecido é um nó sem fim. De modo instantâneo, recuso-me a continuar resistindo, passando a espreitar os lumes e sentir a mão molhada de tanto suor.

Se fosse atacar, já teria feito.

A sombra do brutamontes surge, e eu me contenho aterrorizado. Para quem não sabe, eu odeio o escuro. É por esse motivo que me retenho tremendo de medo. Também, é por esse motivo que tomo a decisão de encerrar a nossa ameaça imposta, dizendo:

— Não se aproxime, estou com uma escova nas mãos.

— É uma pena que eu tenha penteado o meu cabelo — a voz soa bastante rouca.

— Por que está aqui? Quer a minha alma? Ou melhor, veio a mando de Junghyun? — digo com a mão tremendo.

— Eu não sou o Junghyun, se quer saber — fala convencido, me induzindo a concordar.

Fui enganado repetidamente, o que garante que isso está imune de ser uma armadilha?

— Prove — falo.

— Sei que tatuou algo no corpo. Em um lugar diferente do usual.

Entorto os meus lábios, e quando ele percebe que minha postura mudou, tenta se aproximar, entretanto, seguro a escova na direção dele, precisamente na cabeça. Qualquer movimento em falso, irei jogá-la nele. Uma escova é a melhor arma que tenho, visto que estou cansado demais para conjurar feitiços. E nem ao menos sei quem é. Possuo um pavor interno, talvez eu fique distante de ocasiões deste modo; que ocorrem no escuro. Por causa do meu medo do escuro, tudo aparenta mudar de frequência, até mesmo o ritmo em que sinto as minhas emoções.

Nova Salém | pjm + jjkOnde histórias criam vida. Descubra agora