XXV. O indício incandescente

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#ÉPascal

O escuro torna tudo melhor. Melhor porque você não enxerga nada, mas escuta o som contundente da palpitação amarga no peito. Exceto pelo, enfim, adormecer insalubre, cheio de corrosões e fins. Eu estou tendo pesadelos novamente. O máximo que pude fazer para não me afundar mais neles foi me empenhar nos estudos de magia das Trevas. Entretanto, ocupar a mente não parece funcionar. Tenho pesadelos comigo morrendo, não com Jei desacordado nos meus braços como antigamente, mas comigo. Esses pesadelos se repetem dia após dia. Cada noite, a mesma cena horrenda se desenrola, como um filme sem fim.

Esses sonhos não são apenas imagens distorcidas; são experiências intensas que me consomem. Sinto a dor, a perda e o desespero como se fossem reais, e a linha entre o sonho e a vigília se torna cada vez mais tênue. Acordo ofegante, com o coração acelerado, e percebo que a escuridão que antes me trazia algum consolo agora é apenas um convite para mais tormento.

Presumo que seja um chamado. Um chamado hediondo, onde algo de ruim vai acontecer.

Sinto que não é apenas uma questão de minha mente. É como se houvesse uma força sombria me puxando, tentando alertar-me sobre algo que está por vir, algo que eu não consigo controlar.

Enquanto me perco em estudos, cada novo feitiço parece trazer mais dúvidas do que respostas. Estou em uma encruzilhada, onde a escuridão parece ser tanto meu abrigo quanto minha prisão. E, assim, a cada dia que passa, a expectativa do que pode ocorrer se transforma em um peso que eu carrego. O medo do desconhecido se torna uma constante em minha vida. Em vez de encontrar alívio nos feitiços que pratico, sinto uma pressão crescente. Será que há algo prestes a acontecer, ou tudo não passa de uma construção de minha mente?

A incerteza é o que mais me angustia.

Algo de ruim vai acontecer.

Não quero ser o mestre das adivinhações, muito menos dar uma de bruxo vidente, até porque isso não existe. Entretanto, quando nos vemos em situações perigosas, em especial nos sonhos, definitivamente existe a probabilidade de ser um aviso.

Durante o momento que meus pesadelos tomam o plano físico, que acordo com a garganta seca, com os olhos penumbras, de oxigênio omisso, todos os dias escuto batidas na porta. Eu sei de quem são.

É Jungkook. Ele sabe que não estou bem.

Mesmo colocando uma linha tênue entre nós, entre os nossos corpos, ele respeita, mas deixa uma lacuna de amparo à vista. Nos últimos dias não dormimos juntos, não trocamos frases completas, nem aconchegos. Não trocamos nada além de olhares. Ele segue me dando o tempo que preciso para me encaixar, e também segue se importando. Nos dias que tenho pesadelos, o tatuado bate na porta e sempre diz:

— Trouxe um copo de água.

Eu respondo:

— Obrigado, pode deixar na porta.

Ele geralmente deixa. Não é o caso de hoje, pois sinto sua energia perto de mim.

Ouço um suspiro profundo, anunciando o temperamento tedioso que passa pela cabeça dele.

— Posso me deixar na porta? — questiona, hipotético. — Me desculpe.

Prendo o lábio inferior, calculando os possíveis erros que posso cometer caso o deixe permanecer.

— Eu acho que você pode.

Após a minha fala, caminho até a porta, abrindo devagar. Os sons grotescos da madeira ecoam, e logo vejo a fisionomia corpulenta dele. A roupa amarrotada e os lábios rúbeos denunciam que ele bebeu. Ao fitar-me, tenta ajeitar as roupas, mas não consegue abotoar o cinto de couro. Jungkook desiste da ideia, enfiando a cabeça no batente da porta, mas bate forte e solta um murmúrio de dor.

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⏰ Última atualização: Oct 31 ⏰

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