XI. A viagem Infernal

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#ÉPascal

A quentura do corpo de Jungkook ultrapassa o meu, mantendo as minhas costas em uma temperatura quente. Quero sair da cama, mas o tatuado me impede no instante em que perpetua o nosso contato. Meus pêlos se arrepiam quando a ponta de seu nariz toca o dorso de meu ombro, esfregando-se. Os braços continuam como uma corda ao meu redor, com um nó bem firme e um sentimento exposto aos quatro ventos.

Acho que Jei tem medo que eu me solte dele e que eu vá para algum lugar. Um lugar em que, provavelmente, eu estarei fora de sua vista. Do seu alcance.

Que, talvez — é presumível —, eu estarei em perigo longe de si.

E, sim, talvez eu queira um pouco de distância dele. Talvez eu queira um pouco de espaço para poder absorver tudo, para poder montar um plano que convença os meus amigos que eles estão errados ao me culparem por algo que eu sequer tive a responsabilidade.

Pensar neles deixa um buraco à mostra em minhas entranhas, pois jamais cogitei que um dia poderia acontecer uma coisa semelhante. Caso eles tivessem um neurônio, juntariam peças de que eu seria um desastre tentando matar alguém. Oras! Sou um bruxo iniciante que, embora estude sobre cada mísera partícula do que os feitiços são feitos e tome cuidado, ainda sou estúpido o suficiente para atrair demônios fazendo um feitiço simples como a quebra de laços. Mestiços também são suscetíveis a erros, e eu não vejo-me dessemelhante. Minha pele é feita de escombros defeituosos, minhas ações, assim como os meus pensamentos e atos. Se o erro fosse uma pessoa, eu seria ele. Bem, posso ter um reflexo bom, uma percepção enorme em captar rastros de algo que desejo, mas, com certeza, posso ser péssimo nisso tudo. Posso ser péssimo em não contar com outros obstáculos, porque sempre foco no que está na minha frente. Meu foco muda de rumo somente se houver uma interferência. Exemplificando, posso citar Jungkook.

Minha obsessão interna por ele cegou-me de possíveis ataques, cegou-me de hipóteses que podem vir a acontecer.

Eu posso morrer a qualquer momento. Jei deixou isso claro quando fomos colocados numa situação desafiadora.

Eu não pensei que Wizardius poderia ter sido mandado por alguém, ou melhor, por um demônio forte ao extremo. Não pensei que Junghyun poderia ter dado essa missão à besta.

Não pensei que Junghyun pudesse ser um demônio forte, disposto a ultrapassar qualquer linha imposta para me ter. Afinal, meros vampiros não conseguem ter contato com nenhum demônio, a não ser que não sejam somente vampiros.

Os Jeon's foram excomungados do Clã, eles devem ter uma força inexplicável. Poderes acima dos outros clãs.

É possível que sejam demônios criados no inferno; vampiros infernais, frutos de um demônio sádico e maldoso.

Possivelmente, frutos do diabo.

No entanto, essa hipótese seria maluquice. Lúcifer morreu há anos.

Lilith o derrotou.

Decidido a buscar respostas, faço um movimento brusco, dando de cara com os olhos pretos feito jabuticaba observando-me.

— Jungkook, eu preciso levantar — digo rente ao nariz dele, e ele se move em desaprovação.

— São quatro da manhã. O que diabos fará agora? Vai conjurar feitiços ou transformar o monstrengo em um sapo?

Estreito os lumes, condenando o comentário ridículo dele. Quem ele pensa que eu sou? Se ele acha que minha estupidez é tamanha ao ponto de eu não notar que está subestimando os meus conhecimentos, se enganou.

Nova Salém | pjm + jjkOnde histórias criam vida. Descubra agora