XVII. O desejo insaciável

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#ÉPascal

Estar perto de Jungkook é algo meticuloso. Costumo me prender nos detalhes minuciosos dele, em especial, a sua breve mania de coçar o queixo como se houvesse uma barba de quinze centímetros, quando não há nem um pêlo. Além disso, acho um tanto estranho quando seus olhos param em um lugar, como se estivesse cogitando mil formas de reverter algo. Ele continua seus batuques na madeira, pensativo. 

 ― A minha mãe chegou ― tento fazê-lo retornar à realidade.

 ― Eu sei. 

Ele retoma os barulhos, me deixando impaciente. Estamos parados há exatamente trinta minutos.

― E ela está batendo na porta, sabe que está aqui.

Ele me observa, assentindo. 

― Eu sei.

Reviro os meus olhos, pegando a mão dele com brutalidade, para que ele pare de fazer barulho. 

― Então por que não saímos e dizemos tudo? Por que não diz que vai me levar ao inferno junto com você? ― respiro próximo a ele. 

Jungkook sobrepõe suas duas mãos no meu rosto, apertando as minhas bochechas. 

― Se fizer beicinho, eu saio e digo ― responde num tom divertido, sendo repreendido pelo meu olhar. ― Hm. Tudo bem, sem beicinho. 

― Está fugindo. 

― Não estou. Permaneço parado na sua frente. ― Aperta a minha pele, dificultando a minha fala, somente para ter um bico nos meus lábios. ― É uma lástima estar aqui, parado, e saber que você não fará nada para mudar. Quero dizer... ― volta a acariciar o próprio queixo ― Há coisas melhores para fazermos neste escritório. A madeira é maciça e, de certo modo, deve aguentar solavancos.

Paro instantaneamente, entendendo o motivo dele estar demorando. Não reprimo um sorrisinho na boca, o provocando. 

― Tá com medo da minha mãe?

Jei coça a garganta, sério, desviando o nosso contato visual e arrumando o cabelo. É claro que ele está com medo da minha mãe. 

Ponho a mão na boca, gargalhando baixo.

― Não. Apenas acho o lugar aconchegante para ficar por mais tempo.

― Você queria sair antes. 

― Você deveria saber que mudo de opinião rapidamente em algumas ocasiões ― ele diz, dando de ombros.

― Nunca vi um demônio bipolar. 

― É Satanás. E, sim, existem demônios bipolares. 

Quero muito perguntar se ele é um deles, porém evito dizer, pois com certeza irei irritá-lo. Não que eu tenha medo da reação dele, ele fica muito bonito quando está bravo comigo, mas temo que seja demais para ele. Essa situação não parece tão fácil quanto é, e Jungkook compreende cada empecilho. Um deles, que eu tenho completa convicção que seja, é se está forçando a barra. Não faz nem meses que perdi alguém importante, portanto essas dúvidas devem estar matutando a mente dele. 

Nova Salém | pjm + jjkOnde histórias criam vida. Descubra agora