FRIENDS • Sunki

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Cheguei em casa e como sempre meus pais nunca me dão atenção alguma, eles nem perceberam a minha presença por estarem ocupados com coisas da empresa. Porra, se não queriam ser pais poderiam ter me deixado com algum parente meu que realmente gosta de mim!

Meu maior desejo é poder odiá-los e desabafar tudo o que eu sinto, como a raiva, tristeza e solidão. Desde os meus 14 anos sofro de ansiedade e tenho algumas crises durante a noite. E o pior mesmo é a mesma frase que eles falam quando minhas crises acontecem:

"Foi só um pesadelo querido, não se preocupe"

Como se eles realmente soubessem a dor que eu sinto quando tenho meus surtos, isso é horrível e eles agem como se eu ainda fosse uma criança que toda noite sonha com coisas ruins. Tá, não vou discordar da parte de parecer uma criança por eu ter 16 anos e ser magro demais para a idade que tenho. Se é errado já não sei, mas invejo as outras crianças, não pelo que elas tem e sim por terem pais que se importam, cuidam e dão muito carinho e amor a elas.

"É pedir muito ter a atenção dos meus pais e receber amor e carinho, os quais nunca recebi quando criança até hoje? Infelizmente parece que é... "

Fui direto para o meu quarto me trancar lá, assim não iria ter que olhar para eles ou ter que falar. Se não fosse o meu pai entrar no quarto antes disso teria trancado. 

Ele está sério e evitava olhar para mim a todo momento

- Podemos conversar? - meu pai perguntou e eu assenti - Ótimo, vamos até a sala - ele disse e eu o acompanhei até a sala

Na sala vi a minha mãe sentada em um dos sofás ainda no computador. Passei os primeiros minutos observando os dois esperando e pelas expressões sérias o que querem me falar deve ser sério.

Eu não suporto sentar tão próximo, me sinto tão desconfortável com a presença deles que nem parecem ser meus pais e sim estranhos. Então eu me afastei um pouco. 

- O que vocês querem? - falei irritado e assim que eles falarem quero voltar logo para o meu quarto.

- Não gostamos de enrolação então vou direto ao ponto - ele suspirou e eu bufei, se não gosta de enrolação por que a demora? - Vamos nos mudar para outra cidade.

- O quê? Mas... por que? - perguntei confuso mas não mostrei tanto entusiasmo e interesse sobre o fato de eu ter medo de avião e não queria ir embora da minha cidade natal. Cresci sem receber atenção deles e passei por momentos ruins estando sozinho, mas mesmo assim eu sentiria saudades. Okayama para mim sempre será a minha casa.

- Segundo o chefe do seu pai, se nos mudarmos para a Coreia o salário dele irá aumentar e de brinde recebemos uma boa moradia por lá sem precisar pagar aluguel. - minha mãe explicou.

- Quando nós vamos? 

- Nesse sábado, e não demore a arrumar as suas coisas e não esqueça de colocar o alarme no seu celular para despertar as seis da manhã. 

- Só isso? Ou querem me falar mais alguma coisa? - disse bufando com raiva e revirei os olhos. 

- É só isso, se faltar algo avisamos depois - meu pai falou antes de se levantar e ir até a cozinha.

Logo eu voltei ao meu quarto e decidi começar logo a arrumar minhas coisas. Faltam 3 dias para o sábado chegar e é bom eu já ir adiantando para não ter nenhum atraso ou problema no dia.

Apesar dos meus problemas sou meio perfeccionista, gosto de arrumar tudo ou por cor ou em uma ordem que me agrade, e se não me agradar me estresso com facilidade ou me machuco fisicamente e mentalmente. Sei que agindo assim só irá piorar a situação, mas essa foi a melhor maneira que encontrei para aturar eu mesmo, os meus pais e a minha mente.