Os gêmeos - Timothée Chalamet

𝐈𝐕

Capítulo IV
TIMOTHÉE CHALAMET

Exuberante e exagerado é como descreveria o prédio onde Genevieve mora.

Mas, é o único meio de encontrar a garota. Respiro fundo e busco pelas forças  que não tenho para encarar a atuação que passei o dia treinando. Não sabia que seria tão difícil interpretar o meu próprio irmão, ou que, em algum momento na vida viveria essa fanfic de troca de papéis.

A cena de nossa última conversa ainda ronda a minha mente, o momento em que Paulinto mexia nos legumes ao prato querendo esquecer que estava realmente recorrendo a mim como sua única ajuda. Sua única salvação! Apesar de gêmeos, e a boa convivência na infância, a vida adulta fez com que eu e Paul assumíssemos caminhos um pouco distante um do outro. Lógico que sempre sabemos de algo relevante em nossas vidas como: que curso está fazendo, boas indicações de filmes e séries, algum lugar para conhecer, se pegou uma gripe ou virose, mas nada que não passasse de apenas mensagens instantâneas sem muita afinidade. A verdade nua e crua era que Paul sabia que existia seu irmão gêmeo, porém, pelo andar da carruagem, não comentava com os seus "namoridos" sobre a família ou sequer considerava falar sobre minha existência, uma vez que, ele realmente me pediu para cuidar de sua namorada fingindo ser ele.

Eu juro que gostaria de ter recusado. Tentei. Mas, o olhar de gato pidão desesperado de Paul comoveu meu coração enferrujado. Sei que parece loucura trocar de lugar com meu irmão gêmeo por uns dias, a autora da nossa história também pensa assim, mas convenhamos: "não tenho nada para fazer! E uma das coisas que mais amo na vida é atuar! Subir aos palcos, ter a sensação de frio na barriga, entregar o meu melhor personagem para a plateia em troca de tirar sentimentos, sorrisos, choros e eles, os aplausos!". Porém, a vida nos palcos passou de paixão para um amor para recordar, já que, por fazer algo que gosto e entregar o melhor de mim, as pessoas estão sempre cobrando que faça mais, que entregue mais, que me submeta a papéis e peças pejorativas ou que siga a carreira de novelas, que é o ramo da atuação que paga mais. Hoje em dia, a arte é algo superestimado: ou você faz por dinheiro ou você faz por terapia. Não existe meio termo. Fui atingido pela contemporaneidade e estou longe de fazer aquilo que realmente gosto apenas por fazer. Então porque não atuar e treinar o meu potencial através da vida real? Fingir ser o Paul vai me trazer um grande ensinamento, ou memórias de como tudo deu errado pra caralho!

Não tive criatividade para pensar em qual roupa meu irmão usaria no encontro na casa de Eve.Paul não faz a linha certinho. Sei de históricos do meu irmão que às vezes repenso a decisão de me submeter a esse evento. Talvez tenha que tomar um bom chá de funcho para sobreviver ao caos.

Também não conheço a Genevieve, apenas por fotos, e porra! A mulher é uma tremendamente linda, com todo respeito. Por segundos posso reconhecer porque meu irmão está em cima do muro com toda essa situação. Seus olhos aflitos o entregava na noite passada quando pediu o favor. Fico repetindo essa cena para justificar a minha decisão. Aceitei, né? Até porque, a visão da sua cobertura deve ser muito agradável para pintar a noite. Sim, mesmo resistindo e sendo contra a minha vontade sair do meu habitat natural, ele me deu acesso livre ao seu apartamento de luxo, carro, um celular novo, dinheiro, tudo para parecer real, tudo para entrar no personagem. Voltando para Eve, ela parece ser uma garota tradicional burguesa em que os pais são riquíssimos e sustenta a filha em outro estado para estudar. Analisei o seu perfil no Instagram e cheguei a conclusão que estou fudido! Não tenho habilidade com garotas quem dirá com uma filhinha de papai patricinha. Teoricamente, não conhecia nem meu próprio irmão, as pessoas com quem ele se relaciona, seus modos de pensar, seu posicionamento político... como passaria a perna em uma garota que está no mestrado em uma universidade conceituada? A noite seria um fiasco! Essa é a única certeza que tenho.