Os gêmeos - Timothée Chalamet

𝐈𝐗

Capítulo IX
TIMOTHÉE CHALAMET

Imagina a cena: dois pestinhas de cabelo encaracolado, o nariz fino, a pele branca, boca rosada e rasa, correndo pela casa. O maior se chamaria Joel Friedrich, teria o estilo sub-urbano despojado, sem camisa, uma calça de moletom, pés descalços, o mais novo, engomadinho pela mãe, mas com as fraldas cheias de urina, um problema para conseguir usar o penico, chamamo-o de Francisco Silveriano. Dois meninos aparentemente saudáveis e terrivelmente pilantras, como o Tio. Eles perguntaram a mim: "conte mais uma vez aquela história Tio Lil Timmy Tim?", faria-me de besta e esqueceria por uns instantes, encostando a cabeça na parede e negando que em algum dia isso aconteceu. Então, vencido pela juventude e as risadas, implorando pelas minhas palavras, o conto da vez, a história de ninar, com o objetivo de afastá-los das tecnologias futuristas, como um bom rapaz, dono de uma fortuna avaliada em 500 gatos, diria: "essa é a história de quando o seu pai pediu para namorar a sua mãe", "Ou melhor, quando o Tio Chalamet fingiu ser o Paulinto", lindo não? PATÉTICO! Isso somente funciona naquela série de comédia em que insisto em continuar na segunda temporada, "como eu conheci a sua mãe".

Controlo os impulsos nervosos, a respiração e o caminhar. Sou todo desajeitado, lembro que no colegial meus amigos me zoavam por andar de um jeito desconexo, não consigo equilibrar o peso do corpo em apenas uma das pernas, me deixando desengonçado como boneco de posto. A mão livre, enfio no bolso da calça, e a outra, Genevieve balança felizmente, como uma criança que acaba de ganhar um doce.

Vou sair dessa é processar o meu irmão! Se é que existe uma justiça entre o planeta terra e a ficção que estamos criando aqui. Genevieve é bem espantafaiosa, oferecida, dedicada, mas, sinto que isso é uma personalidade que ela criou apenas para agradar as luxúrias de Paul Chalamet. Ninguém em sã consciência deve mudar a sua personalidade, suas atitudes, seus gostos, ou se submeter a não ter os seus desejos para manter um relacionamento. Não existe isso! Ainda mais para uma mulher tão linda, dedicada e inteligente como a garota que está ao meu lado. Vou processar! E ele que aguente as consequências de seus atos. Quanta injustiça no universo? Era assim que você gosta de conduzir as coisas? Deixando uma mulher aparentemente boa, com um cara terrivelmente chato e manipulador como Paul? Ele pode ser meu irmão, mas nessa cena não vou passar pano. Não passo, não passarei, ele que lute.

— No que está pensando? — Eve luta contra o silêncio entre nós, consigo perceber que durante todo o caminho seu olhar ia até mim, sua boca se abria, depois pensava melhor e desistia. A chuva também não colaborou conosco, os pingos ficam mais intensos e vejo que não a agrada, deixando sua expressão um tanto quanto diabólica – não sei se consigo me acostumar com você caladão, e sem sexo...deve querer realmente alcançar um bom objetivo – rebate, vendo que de minha boca não saem nem murmurios.

Olho para frente calculando mentalmente quantos passos ainda faltam para chegar ao cinema. Um mapa mental se forma, e presumo que vamos chegar em pouco tempo.