Oi gente!
Esse capítulo é apenas um bônus da história e eu espero muito que gostem! Aliás, me contem o que acharam depois!
Recomendo caso queiram, ouvir a música When I R.I.P - Labrinth
Boa leitura e beijo no coração! 💚
Dick Grayson pov.Dois socos diretos em meu maxilar.
Era a terceira sequência igual que recebia em uma mesma noite.
Isso só me fazia ter um pouco mais de ar em meus pulmões, como se eu lentamente voltasse a pensar por segundos. E então em alguns momentos, eu me afogava de novo.
E então, mais um soco.
- Se não aprender a se controlar, nunca vai conseguir canalizar o que sente. — dizia Bruce.
Raiva.
Isso era tudo o que eu sentia. Todo tempo. Toda hora.
Mais um soco.
Eu já nem sentia onde isso havia sido.
- Você se perdeu por uma noite. — tentava confortar-me ele. – Não entendo o motivo disso, e não gosto disso.
Avanço mais uma vez e propositalmente erro meus passos, ganhando mais um soco.
Desde os doze anos, canalizei toda minha raiva, toda a frustração, apanhando.
Em algum momento, eu só apagaria, nada mais sentido em minhas veias, e eu poderia finalmente dormir.
Enquanto nomes me rodeassem, isso não aconteceria.
Bárbara.
Frank.
Mais um soco no rosto e me curvo, sentindo o sangue jorrar de meu nariz.
Os mesmos cabelos vermelhos.
As sardas no rosto.
O sorriso doce.
Bárbara era impetuosa, inteligente e teimosa. Alguém por quem eu me ajoelharia e até rezaria a uma divindade se em algum momento, eu pudesse trazê-la de volta.
Quando eu a perdi, me afundei.
Dor, cicatrizes, brigas em bares, tentar morrer mais do que algumas vezes.
Um palhaço.
Aquele que havia me tirado meu anjo.
Todas as malditas fotos que eu guardei, antes de caçá-lo em todos os cantos e surra-lo até que tivessem uma camisa de força ao meu redor.
Fotos de meu anjo, ferido e exposto, logo antes de ser levada ao céu novamente.
Coringa havia destruído meu anjo.
Com ela, eu havia morrido também.
Toda e qualquer sensação de amor.
As chances de algum dia me estabelecer com alguém, montar uma família. Tudo aquilo havia morrido com Bárbara.
- Quando esse idiota vai parar ? — pergunta Damian.
O garoto remendaria todos os meus cortes e hematomas depois. Quase sorri com isso.
- Você não quer se matar, filho. — diz Bruce.
Sim, Bruce, eu quero.
Toda maldita vez que as recaídas aconteciam, era isso.
Nos enterrávamos na droga de um esconderijo escuro, onde eu implorava para apanhar até que qualquer merda de resto de memória de uma época dourada, fosse esquecida.
- Não é como se eu não gostasse disso, mas se eu te der mais um soco, você vai morrer. — disse Jason e eu o encaro.
Minhas recaídas eram a única ocasião em que Bruce acolhia a todos nós ao mesmo tempo.
Todos os Robins.
Todos aqueles que em certo ponto, abdicaram de uma vida normal, por Gotham.
O que Gotham deu a nós ?
Morte, sequelas e dor.
Era como a vida que escolhemos, era. Nós fazíamos o que precisava ser feito.
- Ele fala isso porque tiramos ele da janela da preciosa ruiva de vocês. — diz Tim.
Ataco mais uma vez.
Mais uma falha proposital e mais um soco.
- Merda, Tim, tinha que ter dito isso ? — reclama Damian.
- Eu esqueci, idiota. — retruca Tim.
- Não vou mais bater em você. — diz Jason descendo do ringue e se sentando afastado dos outros, tirando as bandagens de suas mãos.
Era como as coisas eram.
Durante todos os dias, todos nós andávamos separados, evitando estarmos juntos, evitando explicações e ocasionalmente, evitando Bruce Wayne.
Quando um de nós estava fodido demais para continuar, era quando voltávamos pra cá.
Um buraco no meio do Alasca, onde Bruce nos colocava para não matarmos uns aos outros.
Era um tratado.
Qualquer implicância, raiva ou magoa, era deixada de lado ao entrar naquela caverna.
Lá éramos apenas: Bruce, Damian, Tim, Jason e Dick.
Cinco fodidos que tentavam não foder tudo, juntos.
Isso se iniciou quando Jason ainda passava por épocas de crise, quando ainda superava os traumas com a liga dos assassinos.
Trazíamos Jason a força até aqui, e ao contrário de mim, a dor dele era intensa demais para alguns socos, isso explicava o porque existir um baú com facas esterilizadas aqui e o porque Jason ter tantas cicatrizes. Segundo ele, os cortes curavam partes do seu cérebro que precisavam ser costuradas, ele não falava muito, e nunca falava sobre o que havia acontecido com Coringa. Os mais jovens nunca recorreram a esse tipo de terapia. Algumas simulações de lutas com protótipos e sacos de pancadas e as vezes acampamentos de treino no norte asiático, eram suficientes para Tim e Damian.
Me jogo no ringue.
Corpo suado e dolorido em mais áreas do que podia ao menos contar.
Mente ocupada demais em processar a dor, tão ocupada a ponto de afastar o que eu não queria que fosse lembrado.
Era o ideal.
Depois que disse coisas horríveis a Frank, fugi da casa de Conner e M'gann, mais bebidas foram tomadas em um bar e uma ligação de M'gann para Bruce foi suficiente para que ele me encontrasse.
Fui colocado em um jato, apagado, e quando acordei, nossa quebrada e fodida família estava unida e em silêncio, sentados no jato de Bruce.
Nenhuma palavra é dita durante o caminho.
Nós apenas sabíamos que não existiam outras pessoas que entendessem o que fazíamos, o que éramos e o que sentíamos.
Esquecíamos as mágoas e funcionávamos como um cérebro, um coração e uma mente, até que a dor estivesse curada e pudéssemos voltar a Gotham, onde seríamos o que escolhemos ser.
Jason e eu não falamos sobre Frank, era nosso segundo dia nesse buraco, mas sabia que ele ligava para ela todos os dias, antes de dormir.
Improvisávamos um alojamento e ficávamos divididos por finas paredes, eu quase podia ouvir a voz doce e a risada alegre de Frank.
De certa forma, eu ficava feliz por ela estar bem, mas uma parte minha, apenas odiava ter entregado ela de mãos beijadas a Jason, que agora era o motivo das risadas da garota.
Mas eu sabia que não podia ser o que Frank precisava, não te consertar toda a merda que ainda existia por Barbara.
Elas eram semelhantes e em parte, foi o que me fez encantar-me por Frank, mas isso durou pouco. Um tempo depois, notei as enormes diferenças entre as duas, Frank era sensível e sonhadora, Bárbara era forte e impetuosa, Frank é como uma boneca de porcelana, Bárbara era construída em aço.
Mas além dos cabelos ruivos, elas compartilhavam minha profunda admiração.
E desejo.
O desejo me deixava fraco, instável e me tornava a pior parte de mim, parte essa que poucos conheciam, apenas os que nesse momento, estavam nesta caverna.
Eu desejava trazer Bárbara de volta a todo custo.
Eu desejava arrancar Frank dos braços de Jason e fazê-la rir apenas para ouvir o som doce.
Ao mesmo tempo, eu só queria a morte.
E nenhuma delas devia lidar com meu desejo de morte. Nem Frank que estava apenas começando sua jornada, nem Bárbara, a quem eu preservava uma linda memória.
No momento, Frank estava bem com Jason, e eu, estava de todas as formas quebrado e destruído.
Começo a descer do ringue e me jogo na cadeira ao lado de Jason.
- Consegue respirar ? — pergunta ele.
- Um pouco. — respondo. — Obrigado. — ele apenas confirma com a cabeça. – Ouvi dizer que te buscaram no quarto de Frank.
Era fácil notar o quanto Jason odiava apenas como o nome de Frank soava em minha boca, seu corpo tornava-se tenso e ele assumia uma postura defensiva.
- Sim, estive lá. — respondeu ele.
- Ela está bem ? — perguntei e pude vê-lo apertar os punhos mas em um suspiro, moderou a voz.
- Passamos por um tempo difícil, mas consegui melhorar as coisas.
- Gosta dela ? — pergunto.
- Você gosta ? — rebate ele.
- Estou quase curioso para saber quem essa Frank é. — diz Tim, aproximando-se de onde estávamos. – É bonita ? — pergunta ele.
- Não. — responde Jason.
- Mentiroso, se ela não fosse, os dois não estariam abalados. — provoca. – Pra informação dos dois, temos a mesma idade e achei ela bem interessante, acham que tenho chance ? — era óbvio que ele já tinha feito suas pesquisas sobre Frank.
- Cai fora, Tim. — dissemos eu e Jason em uníssono. Tim começa a rir e ergue a mão em rendição.
- Acham que ela gosta de caras mais novos ? — pergunta Damian e todos encaramos ele.
- Você não ia aguentar uma mulher daquelas, garoto. — responde Jason. – Um sorriso dela e suas calças já estão molhadas.
Todos começamos a rir da cara de Damian e Bruce se aproxima sorrindo.
- Damian, um Wayne faz sucesso entre as mulheres, não desista. — diz ele unindo-se a nós. – Mas comece a treinar pensar em Alfred de calcinha quando se aproximar delas, ajuda a não subir. — começamos a rir de Bruce e nem mesmo Damian aguenta e une-se a nós.
- Querem apostar que faço ela se encantar por mim ? — diz o garoto irritado.
- Não mexa com a garota de Jason, ele tem o dobro da sua altura e pode te matar. — diz Tim. – Deixa que eu faço isso! — sorri provocativo para Jason que revira os olhos.
- Até eu estou curioso para saber como ela é. — diz Bruce. – A visão da garota em coma não conta para mim.
- Ela é incrível. — confesso a eles.
Para a surpresa de todos nós, Jason tira o celular de seu bolso e mostra uma foto de Frank, em silêncio.
- Ela é bem gata. — diz Tim. – Algum de vocês chegou a...? — deixa subentendido e vejo os punhos de Jason se contraírem.
Dou uma cotovelada nos braços de Jason e ele volta a relaxar suas mãos.
- Ela não é esse tipo de garota. — diz Jason. – E se não quiser aparecer sem seu pau, não faça mais essas perguntas. — ameaça e Tim levanta sua mão em promessa e se desculpa.
As vindas até a caverna eram raras, nossas reuniões que não envolvessem negócios cruzados ou problemas eram ainda mais raras.
Nós esquecíamos os problemas de Jason e o acolhíamos todas as vezes. Sem toda aquela raiva, ele era nosso irmão, e não esqueceríamos disso. Até porque em todas as vezes que precisávamos vir até aqui, ele sempre era o primeiro a subir no jato em silêncio e respeitávamos isso.
- Vamos costurar, Dick e prepararmos algo para comer. — comanda Bruce e nos levantamos.
Jason se levanta e como de costume, coloca meu braço sobre seus ombros e me carrega até a enfermaria, onde me deixa para que Damian, o melhor entre curativos entre nós, me costure.
Nas vindas em que eu precisava de terapia, Jason era sempre quem me carregava. Em suas vindas, eu o carregava. Sem dizer uma palavra, era apenas assim.
- Jason. — digo a ele antes que saia pela porta de madeira lascada. – Obrigado.
Ele havia cuidado de Frank, vindo por mim e respeitado nossos limites de acordos. Ainda que existisse mágoas e conflitos entre nós nas ruas, aqui, éramos irmãos.
Como todas as vezes, Jason apenas confirma com a cabeça e sai da enfermaria improvisada.
- Estou quase achando que vocês estão amolecendo. — resmunga Damian entrando na enfermaria com a caixa cheia de medicamentos.
- Um dia você vai entender. — digo a ele.
- Nunca quero entender, acho vocês dois idiotas moles. — diz ele puxando meu braço. – E seja durão, não temos anestesia. — completa simples e puxa meu braço pressionando a gaze com antisséptico doloroso.
Arregalo os olhos e resmungo palavrões para Damian que apenas permanece quieto e começa a costurar os cortes em meu braço.
A relação entre Tim, Damian, Jason, eu e Bruce, não era uma das melhores.
Mas se existia algo que eu poderia dizer sobre todos eles era que, apesar de nós odiarmos todos os dias, alguns deles, apenas entendíamos o que cada um sentia e ficávamos unidos.
E uma família, querendo ou não, ficava unida, e era isso o que no fim das contas éramos, uma família.
Ou quase isso.
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Time
Fanfiction"I'm the definition of wreck, if you look into my soul Comes out the most when I feel I'm in a vulnerable place Made a lot of mistakes I wish I knew how to erase When I'm afraid, might get distant and I push you away" ...