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ㅡ Mãe! ㅡExclamei assustada.

ㅡ Eu nasci em uma família pobre, Lili. Minha mãe morreu quando eu tinha quatro anos e meu pai morreu de uma overdose quando eu tinha dezessete. ㅡEu estava estática. Tentando digerir tudo com cuidado. Sem cair no choro. ㅡ Foi quando eu conheci um cara mais velho, que me ofereceu emprego na boate dele. Paul frequentava essa boate e eu o vi em uma noitada comum, aí minha vida se tornou um inferno. Ele ia me ver todas as noites e no começo, eu adorava. Eu comecei a me apaixonar. Eu amei o Paul com todas as minhas forças. Mas ele não queria me assumir por conta da situação em que ele me conheceu, mesmo me jurando amor todas as noites.

ㅡ Como? ㅡBalbuciei, tentando construir uma frase mas não conseguindo.

ㅡ Eu engravidei de um outro cara. Da alta elite também, mas ele sumiu e nunca mais apareceu na boate depois de ter me obrigado a fazer sexo sem proteção nenhuma. Eu era uma prostituta, grávida de três meses e que não sabia fazer nada da vida. ㅡEla suspirou. ㅡ Eu disse ao Paul que você e o Larry eram fruto de uma das minhas noites com ele. ㅡMeu lábio inferior começou a tremer, assim como minhas mãos. ㅡ Com medo de eu o ameaçar na imprensa, ele preferiu assumir. E como se arranjasse uma nova identidade para mim, ele foi me modelando uma mulher totalmente diferente com o passar dos anos. Adotamos a Lana alguns anos depois, pura estratégia de marketing do seu pai. Uma herdeira mais velha para a empresa, mas ela não se interessou por isso.

ㅡ Esse tempo todo... vocês mentiram? É por isso que ele me odeia tanto? Eu e o Larry não passamos de dois brinquedos na vida de vocês? E a Lana...

ㅡ Não Lili. Eu amo vocês! ㅡSeu tom de voz saiu desesperado. Levantei do sofá, totalmente desnorteada.

ㅡ Vocês são loucos! ㅡGritei. ㅡ Foi tudo por causa de imagem pessoal na frente das câmeras.

ㅡ Ele criou vocês Lili, que diferença faz?

ㅡ O Larry tinha medo de falar com ele! Meu irmão nunca esqueceu a vez em que o Paul nos obrigou a ajoelhar no milho como dois malditos soldados do exército. Nós só tínhamos dez anos!

ㅡ Eu não tive escolha. ㅡMinha mãe olhou para as suas mãos que tremiam brutalmente e começou a chorar.

ㅡ O Larry morreu sem saber disso! Talvez tenha sido até melhor, ele não iria suportar. Já sofria tanto e ainda teria que aguentar o fardo de se sentir como um boneco feito para estratégias de merda do Paul e da Rose.

ㅡ Eu não usei vocês. Pelo contrário! Eu tentei proteger vocês. Garantir um futuro para os meus dois filhos. E aqui você está, em uma das melhores escolas do país!

ㅡ E o Larry? Hum? Onde ele está? O maior motivo de ele ter feito o que fez, foi sim o bullying cruel que sofria. Mas ele não confiava em vocês. Porque você estava sempre trancada no quarto, fazendo sei lá o que. E o Paul... ou ele estava trabalhando, ou nos tratava como animais da pior espécie. A Lana foi embora assim que completou a maior idade, também não aguentava viver numa casa tão morta. ㅡDespejei tudo de uma vez. Eu estou irada, mas a dor no meu peito está fazendo um nó insuportável na minha garganta, e está ardendo muito.

ㅡ Eu amo vocês. O Larry tem falado comigo. A última vez foi ontem. ㅡCerrei meus olhos e balancei a cabeça em negação.

ㅡ É mentira. Para de mentir!

ㅡ Ele estava em pé, de frente pra mim. Estendeu sua mão e disse para que eu fosse com ele.

ㅡ Para com isso mãe!

ㅡ "Mãe, eu sinto sua falta."

ㅡ Eu também sinto. ㅡMe ajoelhei, totalmente sem forças.

ㅡ "Mãe, eu sinto sua falta." ㅡEla repetiu, olhando para o nada e puxando algo da sua bolsa. ㅡ Agora eu posso ir encontrá-lo em paz, já contei tudo que você tinha que saber. Eu te amo mais que tudo, Lili. Você é minha bebê. ㅡEla engatilhou a arma e antes que eu pudesse me levantar para impedir, minha mãe atirou na própria cabeça.

ㅡ Mãe! ㅡGritei tão alto ao ponto de sentir o gosto de ferrugem na minha garganta.
Arregalei meus olhos e meu corpo parou de funcionar.
Não escutei mais nada, não vi mais nada, não senti nada. A não ser dor.
Um buraco negro que sugou toda a dor que havia pro meu peito.

[...]

ㅡ Você precisa sair daqui. Isso agora é uma cena de crime. ㅡUma moça falou do meu lado.
A ignorei totalmente e continuei olhando para o sangue.

ㅡ Lili, querida... vamos sair daqui. ㅡGrace pediu calmamente, mas chorando sem parar.

ㅡ Ela está em estado de choque.

ㅡ Lili. Você me escuta? ㅡAlguém sussurrou. É o Cole.
Ele tocou meu ombro e o apertou suavemente.

ㅡ Eu... ㅡMurmurei.
Não consigo falar. Sem me levantar, eu me inclinei e abracei Cole, voltando a chorar como um bebê.

ㅡ Vamos sair daqui. ㅡCole me levantou com cuidado, minhas pernas vacilaram mas ele me segurou.
Tem muita gente aqui. E eu nem as vi chegando. Dei uma última olhada para o corpo sem vida da minha mãe e um arrepio subiu pela minha espinha.

...

The Crack - SprousehartOnde histórias criam vida. Descubra agora