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ㅡ Vocês estavam conversando, certo? O que falavam exatamente? ㅡA investigadora perguntou pela milésima vez. E eu não a respondi pela milésima vez.

ㅡ Chega disso né? ㅡCole falou irritado. ㅡ A Lili não quer e nem tem condições de responder a esse interrogatório desnecessário agora.

ㅡ É necessário. Precisamos de informações concretas para ter certeza do que aconteceu. Ordens do Sr. Reinhart.

ㅡ Ela se matou! ㅡExasperei sem paciência. ㅡ Que parte você não entendeu de ela ter pego a arma e ter atirado na própria cabeça na minha frente?

ㅡ Têm câmeras na recepção. Eu vou mostrar para vocês. Não precisam ficar fazendo essas perguntas para a Lili. ㅡA diretora Grace levantou do sofá que tem no meu quarto. Limpou as lágrimas e caminhou até a porta.

ㅡ São ordens do Sr. Reinhart...

ㅡ Manda o Sr. Reinhart vir falar comigo então. O que? Ele não aguenta olhar pra cara da bastarda? ㅡCuspi sarcástica. ㅡ Eu não vou falar porra nenhuma do que ele quer saber, se ele não vier pessoalmente perguntar.

ㅡ Ok. Vamos falar com ele querida. Cole fica com você enquanto isso. ㅡGrace saiu ao lado dos policiais e dos médicos.
Fiquei sentada na cama, olhando para a parede na minha frente.

ㅡ Eu não sei o que fazer. Me desculpa. ㅡCole murmurou, apoiado na parede ao lado da porta.

ㅡ Você não tem culpa. Nem eu sei o que fazer. ㅡFalei com a voz vacilante.

ㅡ Você é forte pra caralho, Lili. Eu juro por Deus, eu não consigo imaginar o tamanho da dor que você deve estar sentindo. O que aconteceu hoje foi... cruel. ㅡEu solucei, saindo da anestesia mais uma vez.

ㅡ Eles dois não aguentavam mais e eu não pude fazer nada para evitar. Por que eu ainda estou aqui? ㅡGritei, limpando meu rosto com força. ㅡ Eu deveria ter ido com eles... eu deveria. ㅡOlhei para a tesoura na mesinha ao lado da minha cama e respirei fundo. Me estiquei para pegá-la, mas Cole foi mais rápido. A jogou para longe e me abraçou.

ㅡ Não! Lili pelo amor de Deus, não! Tem pessoas aqui que precisam de você! ㅡSeu tom de voz desesperado só me fez chorar mais.

ㅡ Quem diabos precisa de mim, Cole? Meu pai que eu descobri há pouco tempo que não é meu pai? Minha mãe morta? Meu irmão morto? Minha irmã que tem que estar preocupada apenas com a sua gravidez? ㅡUmedeci meus lábios, sentindo o gosto salgado das lágrimas.

ㅡ Eu! Eu preciso de você Lili. Você não pode entrar na vida das pessoas assim e querer ir embora sem mais nem menos. ㅡEle segurou meu rosto com as duas mãos e eu olhei bem em seus olhos.
Eu poderia ficar aqui para sempre. Eu quero ficar aqui e esquecer de tudo ao meu redor.

Três batidas na porta nos interromperam e eu respirei fundo.
Cole foi abrir e minha dor se mesclou com ódio quando o vi parado.

ㅡ Estou logo aqui no outro corredor. Ok? ㅡCole avisou e eu assenti.
Paul adentrou o quarto e fechou a porta atrás de si.
Ele cruzou os braços e ficou me encarando.

ㅡ Eu odeio você com todas as minhas forças. ㅡEu disse calmamente, me levantando da cama e caminhando até ele.
Paul não moveu um músculo. ㅡ Eu odeio você! ㅡComecei a bater em seu peito e ombros. ㅡ Odeio! Eu te odeio! Olha o que você fez com eles! Olha o que fez comigo! ㅡGritei entre um tapa e outro.

ㅡ Eu não fiz nada. Eu fui a maior das vítimas aqui. ㅡMe afastei, horrorizada com suas palavras e capacidade de acreditar que realmente sofreu alguma vez nesse cenário macabro que ele criou.

ㅡ Vítima?

Flashback on:
Lili Reinhart, 9 anos atrás.

ㅡ Vocês estão loucos seus energúmenos? ㅡArregalei meus olhos, vendo meu papai bravo. Tão bravo que seu rosto está vermelho. Segurei a mão do Larry e o senti tremendo.

ㅡ Foi sem querer papai. A bola acabou pegando sem querer. ㅡExpliquei, vendo a pequena estatueta despedaçada no chão do seu escritório.

ㅡ Vocês estavam jogando bola no meu escritório! Venham aqui. ㅡEle pegou nossos braços e saiu nos puxando com força.
Chegamos na cozinha e ele procurou por algo nos armários. Pegou o saco de milho e derramou no chão. ㅡ Ajoelhem. Agora! ㅡSe exaltou. Com muito medo, eu ajoelhei e vi meu irmão fazer o mesmo.
Meu joelho começou a doer com menos de dez segundos.

ㅡ Papai, tá doendo. ㅡLarry falou chorando. Olhei para ele e vi uma poça com um líquido amarelo abaixo do mesmo.

ㅡ Ele fez xixi papai, deixa a gente sair. Ele tem que trocar de roupa. ㅡImplorei.

ㅡ Calem a porra da boca!

Flashback off.

ㅡ Por que não? Sua mãe me enganou. ㅡApertei minhas mãos em punhos.

ㅡ É mentira! Para de falar assim. Para de fingir que não está se sentindo culpado! Eu sei que a noite você não vai conseguir dormir. Nem comer. Nem se concentrar na porra do seu trabalho. ㅡSeus olhos castanhos vacilaram por milésimos de segundos.

ㅡ A sua mãe era uma puta. Seu irmão um fraco, burro, que aceitava tudo o que faziam com ele. Você é uma frustrada que depende sempre de alguém para poder se sentir bem. ㅡOfeguei sem acreditar no que ele acabou de dizer.

ㅡ Você é um psicopata. Lava a boca pra falar da minha mãe e do meu irmão!

ㅡ A Lana, bem... dela não tem muito o que se falar. Fugiu com o primeiro cara que apareceu. Então... não sou eu que vou me sentir culpado. Vocês só me causaram desgosto. Já se foram dois. Você tá esperando o que para desistir que nem eles? É fraca igual sua mãe e seu irmão, deve estar no sangue. Vai se matar também. Acho que tá destinado. Seria uma boa história para um daqueles contos bizarros. ㅡParalisei e fiquei o encarando.
Em pânico.
Estou no meio de um mar agitado, e não sei nadar.

ㅡ Sai daqui. ㅡSussurrei, olhando para o nada. Evitando encarar seus olhos. Eles me lembram algo desagradável. ㅡ Sai daqui! ㅡGritei descontrolada. Cole logo apareceu e o fez ir embora.
O que eu fiz?

...






The Crack - SprousehartOnde histórias criam vida. Descubra agora