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ㅡ Ok. Me conta sobre sua família, Lili. ㅡOlhei para a loira com o cenho franzido. Que família?

ㅡ Desculpa, mas... de quem exatamente você fala? ㅡEla riu sem graça. Não quis ser chata, mas eu realmente não sabia de quem ela estava falando.

ㅡ Paul, Rose, Larry e Lana. Sei que você descobriu recentemente que Paul não é seu pai, mas ele está incluído em boa parte da sua vida. Como se sente sobre eles? ㅡEncarei o teto branco.
Estamos em uma sala que eu nem mesma sabia que existia aqui na escola.

ㅡ Eu... ㅡPercebi o bloqueio. Não consigo falar.

ㅡ Você pode confiar em mim, Lili. Qualquer tipo de problema que estiver acontecendo, eu tentarei te ajudar ao máximo. Estou aqui exclusivamente para isso. Para te escutar. ㅡEngoli em seco.

ㅡ A minha infância foi esquisita. ㅡComecei. ㅡ Quer dizer, eu sempre me dei muito bem com o Larry e com a Lana. Eu os amo muito. Mas... minha mãe e Paul eram estranhos.

ㅡ Como assim?

ㅡ Eles não eram como os outros pais. ㅡAdmiti, lembrando-me de certos acontecimentos que nunca saíram da minha cabeça. Ficaram vagando pela minha mente, sem dar espaço para o esquecimento.

ㅡ Quer falar sobre isso?

ㅡ Paul era rude e violento. Ele sempre tratou a mim e aos meus irmãos muito mal. Minha mãe... bom, ela sempre foi afastada e deprimida, como se não soubesse o motivo de existir. ㅡAos poucos as palavras começaram a sair automaticamente. Sem hesitação alguma. E foi libertador.

ㅡ Você acha que eles influenciaram em quem você é agora? ㅡEu sorri irônica, ainda olhando para o teto.

ㅡ Isso é óbvio. É bem claro. As coisas ao nosso redor sempre nos influenciam. Eu posso querer e tentar me convencer que não, mas boa parte da minha frustração é por causa do Paul. Boa parte do meu desleixo em relação aos sentimentos é por causa da minha mãe. As coisas boas, bem, meus irmãos influenciaram diretamente.

ㅡ E sobre os seus pesadelos?

ㅡ Ah, os pesadelos...

ㅡ São frequentes?

ㅡ Não... não são todos os dias. Mas quando eu me recordo das brigas, de tudo o que aconteceu, eu acabo sonhando.

ㅡ Esses pesadelos são uma coisa que trataremos exclusivamente na próxima sessão. Você sente algum tipo de culpa pelo que aconteceu com sua mãe ou com seu irmão?

ㅡ Que pergunta... as pessoas dizem que não, mas é impossível não me sentir culpada.

ㅡ Por que?

ㅡ Eu sinto que falhei. Que não estava lá quando eles precisaram, eu poderia ter mudado algo.

ㅡ Não podia, Lili. Você sabe que o tipo de decisão como a que seu irmão e sua mãe tomaram, são delicadas. Eles estavam sofrendo muito. Como você poderia reverter isso?

ㅡ Eu não sei. Mas eu podia! ㅡA angústia começou a me atingir.
A psicóloga me fez diversas outras perguntas, me conhecendo. Não se aprofundando muito, ela disse que isso aconteceria no decorrer das outras consultas.
...

ㅡ Foi estranho. ㅡFalei para as meninas.
Nenhuma delas já foram a uma psicóloga, ou seja, quiseram saber como é.

ㅡ Se eu aparecer no seu lugar, será se ela me atende? ㅡMadelaine brincou.
Peguei um travesseiro e arremessei nela, rindo.

ㅡ A Lana já enviou os convites. O inspetor Joy veio deixar. ㅡCamila pegou os três envelopes azuis em cima da sua mesinha.
Arregalei os olhos e peguei o que tinha meu nome escrito na ponta.

ㅡ Estão lindos. ㅡObservei as letras douradas. Estou tão feliz por Lana ter encontrado alguém legal com quem ela possa construir uma família bonita e tranquila, jogando para longe qualquer resquício da nossa, conturbada e fria.

ㅡ Sim, e já é no próximo final de semana. Estou ansiosa para usarmos nossos vestidos novos. ㅡSorri animada.

Ouvi a porta ser aberta e fechada com força, olhei para a mesma e vi Thalita entrar extremamente irritada.
Arqueei uma sobrancelha, eu e as meninas nos entreolhamos e prendemos uma risada.

ㅡ Tudo bem Thalita? Está saindo fumaça da sua cabeça. ㅡMadelaine brincou.

ㅡ É mais fácil sair da sua. ㅡAlfinetou e se virou para mim. ㅡ Por sua causa, Cole brigou comigo. ㅡPosso parecer egoísta e mesquinha, mas essa simples frase fez um lampejo de felicidade crescer dentro de mim.

ㅡ Por minha causa? Eu não fiz nada, gata. ㅡDebochei.

ㅡ Eu não sei como ele pode gostar de você! Que droga. Você não tem nada, só um psicológico fodido para oferecer.

ㅡ E você, hein? Todos temos problemas. E eu não descarrego tudo no Cole, pelo contrário. É por isso que nos gostamos. E como você pode falar de psicológico quando você faz coisas baixas para conseguir ficar com ele? Deve ter algo de errado nessa sua cabeça.

ㅡ Eu tenho muito mais a oferecer.

ㅡ Então por que ele não gosta de você?

ㅡ O Cole gosta de mim, mas não do jeito que eu quero que ele goste.

ㅡ Ele gosta de você porque não sabe quem você é. Mas a verdade uma hora aparece, como eu já te disse várias vezes. E já está começando, ele descobriu que você fuçou onde não deveria. E olha só... você já está desesperada. ㅡThalita sorriu sarcástica. Sua tranquilidade repentina começando a me irritar.

ㅡ Você e ele estão cada vez mais distantes, Lili. E com isso, bom... eu vou ganhando mais espaço. Aos poucos ele vai esquecer de você, e eu... eu vou ser a garota que estará ao lado dele sempre que ele precisar. ㅡO pensamento me enviou calafrios e um tremor ruim. Minha boca amargou só de imaginar isso acontecendo.

ㅡ Não é assim que a coisa funciona. Não mesmo.

ㅡ Cole é um garoto incrível. Lindo, forte, educado, respeitoso, doce... ele é tudo que uma garota sonha ter. E sou eu quem vou ter. ㅡEngoli em seco. Sentindo o medo de perder o único garoto que mexeu de alguma forma comigo.
Ele é de fato tudo isso e mais.
Cole é um garoto precioso.

ㅡ Eu não vou permitir que isso aconteça.

...

The Crack - SprousehartOnde histórias criam vida. Descubra agora