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Quinto dia e a cadeira no fundo da sala enfim foi ocupada.
O filho da diretora é aparentemente o dono dela.
Será se ele tem benefícios por ser o filho da diretora? O analisei com cuidado enquanto ele conversa com um ruivo e um cara tatuado ao lado dele.

ㅡ Psiu, ei garota! ㅡUma garota de cabelos extremamente vermelhos chamou minha atenção. Olhei para ela e esperei que ela falasse. ㅡ Tira o olho, bicho do mato. ㅡInstantaneamente o meu rosto se tornou uma carranca.
Quando pensei em responder, o professor de biologia adentrou a sala e eu decidi me controlar, pelo menos por agora.

Aulas e mais aulas chatas. Perguntas idiotas de alguns alunos. A ruiva com voz de rato não parava de rir com suas duas amiguinhas que a seguem como dois patos.
Já estava quase tendo uma convulsão.

Para quem perdeu alguma informação, ela é a Jades. Desde o primeiro dia, ela me olha torto, mas só hoje protestou algo.

ㅡ O arroz de vocês também está com um gosto estranho? ㅡPerguntei fazendo uma careta.

ㅡ Como assim?

ㅡ Meio doce, sei lá. Argh! ㅡSenti um arrepio passar por meu corpo e tomei um grande gole do meu suco.

ㅡ O meu tá normal. ㅡAs meninas falaram ao mesmo tempo.

ㅡ Que droga é essa então? Prova aqui. ㅡColoquei uma colherada na boca de cada uma delas e elas fizeram uma careta também. Mads pegou um guardanapo e cuspiu, enquanto Cami engoliu em seco.

ㅡ Tá doce mesmo!

ㅡ Claro que está! Coloquei um pouco de açúcar para adoçar a vida da nossa amiga novata. ㅡUma voz irritante soou atrás de mim.
E eu já sabia quem era.

Jades.

Virei devagar e a encarei com ódio. Quem esse projeto da Moranguinho pensa que é?

ㅡ Que porra é essa sua maluca? ㅡLevantei da mesa repentinamente, a fazendo recuar alguns passos. Com seus dois minions atrás dela.

ㅡ Seu prato tava dando sopa. Aproveitei pra te fazer uma surpresa. Você não gostou? ㅡSe fez de sonsa e suas fiéis escudeiras riram. Que ridículas.

Umedeci meu lábio inferior e respirei fundo. Peguei meu prato lentamente e joguei a comida de uma vez na sua cabeça. O arroz e o estrogonofe escorreram por seu cabelo e roupa.

ㅡ Ah! ㅡEla gritou desesperada. Pus o prato de volta na mesa e sorri travessa.

ㅡ Você não gostou da minha surpresa? Só queria saber sua opinião pra ver se está muito doce. Acho que exagerei no açúcar. ㅡO refeitório foi uma mistura de "Oooh's" e algumas risadas abafadas. Até que um dos inspetores apareceu.
...

Bati na porta da direção duas vezes, e por estar entreaberta, ela abriu sozinha e logo eu pude ver o interior do escritório da diretora.
Entrei devagar e quem estava lá não era ela.

Cole está largado na cadeira da sua mãe, os pés cruzados em cima da mesa e as mãos juntas, o queixo apoiado nas mesmas.

Um sorrisinho torto surgiu em seus lábios quando ele me viu.

ㅡ Olha só. Não passou nem uma semana ainda e você já está por aqui? ㅡSua voz grave e aveludada me desconcentrou por alguns segundos.

ㅡ Vim falar com a diretora Grace.

ㅡ E esse papel laranja aí? Má conduta, senhorita Reinhart? ㅡFranzi o cenho e ele estendeu minha ficha pessoal, me olhando dos pés a cabeça algumas vezes.

ㅡ Você não pode fazer isso, certo? É invasão de privacidade. ㅡEle jogou a cabeça para trás, rindo tranquilamente. Seu pomo-de-Adão subiu e desceu e seu maxilar me chamou atenção. Deus do céu, que tentação.

ㅡ E? Só você e eu sabemos disso. Vai contar pra diretora Grace é? ㅡEntranhei o fato de ele não chamar ela de mãe. Mas deve ser algo como aquilo de "não sou sua mãe quando estivermos na escola e blá blá". ㅡ Só fiquei um pouco curioso. Tem algo de ruim nisso?

ㅡ Lili? ㅡA voz da diretora soou atrás de mim, me assustando. Estava tão concentrada na imagem despojada e linda do seu filho que nem a vi chegando. ㅡ O que faz aqui? Aconteceu algo? ㅡCole levantou da cadeira e passou por mim, seu cheiro másculo e extremamente agradável me deixou inebriada. Quando escutei a porta atrás de mim ser fechada, sentei na cadeira de frente para ela.

ㅡ Má conduta. ㅡColoquei o papel laranja na mesa.

ㅡ Quem te entregou isso?

ㅡ O inspetor Frank. ㅡRespondi simples. Será se ela me expulsa hoje? Por mim tanto faz.

ㅡ Ok. Vou pegar leve. Esse final de semana você não vai poder ir para casa. ㅡFiz uma cara de tédio. É sério? Como se eu fizesse questão de ir para lá.
Mas tudo bem. Ainda não fiz nada demais para ela me mandar embora. Então vou relevar isso.

[...]

Me joguei na minha cama e suspirei cansada. Essa nova rotina tá me matando.

ㅡ Meninas! ㅡCamila desceu as escadas do segundo andar super animada. Como ela consegue?

ㅡ O que foi, filhote de cruz credo? ㅡMadelaine murmurou com o livro na cara.

ㅡ Que desânimo hein? O que vocês acham de fazermos uma noite do pijama? ㅡPropôs.

ㅡ Como vamos fazer isso? Sem TV, sem comida e tendo que dormir cedo. ㅡA lembrei.

ㅡ Amanhã é sábado. Não precisamos dormir cedo hoje.

ㅡ Mas e o resto das coisas? ㅡMadelaine perguntou, um sorriso malicioso cresceu em meus lábios na medida em que algo surgiu na minha mente.

ㅡ Podemos pegar algumas coisas na cozinha sem ninguém saber.

ㅡ Tá doida? ㅡCamila arregalou os olhos.

ㅡ Não custa nada tentar. ㅡMads concordou comigo.

ㅡ Estão loucas.

...

The Crack - SprousehartOnde histórias criam vida. Descubra agora