The Crack - Sprousehart

25

O padre fechou a bíblia e se despediu antes de sair caminhando para a saída do cemitério.
Encarei o túmulo dela, logo ao lado do túmulo do meu irmão.

ㅡ Me desculpa por ter ficado tanto tempo longe. ㅡLana apertou meu ombro gentilmente.

ㅡ Chega de desculpas. Eu não aguento mais escutar essa palavra. ㅡSussurrei sem nenhuma emoção na voz.
Desde ontem eles não me deixam sozinha. O Cole passou a maior parte do tempo comigo. Cami e Mads me ajudaram a tomar banho e a trocar de roupa. E hoje, a Grace me liberou da escola e vou ficar na casa dela até estar pronta para voltar.

ㅡ Entendo. Olha, eu não ando me sentindo bem esses dias. Estou com medo de que isso afete meu bebê. ㅡToquei sua barriga e isso me fez sorrir fraco, tão fraco que eu quase não senti.

ㅡ Você precisa se cuidar. A mamãe ia adorar conhecer esse bebê. E o Larry nem se fala...

ㅡ Eles iam. Eu passo na casa da Grace para te ver depois, tenho uma consulta agora. ㅡEla respirou fundo e limpou as lágrimas, beijou minha testa e saiu.

ㅡ Quando ela ficou grávida de você e do Larry, a primeira pessoa que ficou sabendo foi eu. ㅡGrace parou do meu lado já falando. Escutei tudo com atenção. ㅡ Nós tínhamos nos afastado porque eu fui morar na Itália por um tempo, onde conheci o pai do Cole... mas continuamos nos falando por telefone. Ela me escondeu muitas coisas que eu... queria ter ajudado ela a superar. Quando a Rose se casou com seu pai, ele a privou de tudo. Inclusive de falar comigo. Foi um milagre você ter ido estudar justamente no meu internato. Eu vou cuidar de você como ela queria ter cuidado, Lili. ㅡEu me aproximei da Grace e a abracei. Respirei fundo, sentindo o seu perfume suave e doce, parecido com o da minha mãe.
Sua mão acariciou meus cabelos e eu chorei como uma criança. Uma criança que acabou de perder a mãe.
...

Abri o box e estiquei a mão para que a Grace me entregasse a toalha.
Eles estão me vigiando vinte e quatro horas por dia. Estão com medo do que eu possa fazer.

Saí enrolada na toalha e peguei um pijama.
Vesti minha roupa íntima e depois a calça moletom e a camiseta branca.

ㅡ O Cole já vem, certo? Ou você prefere dormir comigo? Não tem problema se você quiser. ㅡEla afagou meu rosto e eu sorri.

ㅡ Eu gosto do Cole. Ele me faz sentir segura, prefiro ficar com ele nesse momento. ㅡGrace assentiu e beijou minha testa antes de sair.
Fui para a cama e me enrolei debaixo das cobertas, não passou muito tempo e Cole apareceu no meu quarto já de pijama.

ㅡ Boa noite querida. ㅡEle estava segurando uma bandeja e se aproximou lentamente para não derrubar nada.
Eu sentei devagar e ele fez o mesmo, colocando a bandeja no seu colo.
Um prato de sopa que cheira muito bem e um suco que eu reconheço de longe. Abacaxi com hortelã.

ㅡ Se isso for pra mim, eu não tô com fome, Cole. ㅡExpliquei gentil.

ㅡ Lili você não está comendo direito. A última vez foi no café da manhã. Porque eu e a minha mãe insistimos. ㅡCole encheu uma colher com sopa e trouxe até a minha boca.
Eu suspirei e abri a mesma, sentindo o sabor delicioso. Está boa mesmo.
Respirei fundo e fiquei o olhando.

ㅡ Não vi seu pai por aqui. ㅡObservei ele pegar mais uma colher e trazer até mim com cuidado. Aceitei de bom grado. Só agora percebo como estou morrendo de fome.

ㅡ Porque ele não mora aqui. ㅡRespondeu tranquilamente.
Engoli minha comida e franzi o cenho.

ㅡ Eu não sabia. Pensei que sua mãe e ele ainda eram... casados. Desculpa se eu estiver sendo invasiva. ㅡEle riu fraco.

ㅡ Eu sei muito sobre você, é justo que você queira saber sobre mim. ㅡCole me entregou o suco e eu dei o primeiro gole. Eu adoro isso.

ㅡ Mas você que sabe se quer falar ou não. Você não me forçou nem me pressionou a nada.

ㅡ Meus pais se divorciaram quando eu tinha quatorze anos. Minha mãe descobriu as diversas traições do meu pai. ㅡArregalei meus olhos. ㅡ Meu irmão tem quinze anos e foi fruto de uma das traições de Richard, que ele conseguiu esconder por muito tempo. Mas minha mãe acabou descobrindo de qualquer forma. ㅡSeu tom de voz era calmo, mas é perceptível a repugnância que ele tem ao falar do próprio pai.

ㅡ Às vezes eu acho sua mãe muito grossa com você. ㅡAdmiti.

ㅡ E ela é. Como qualquer mãe. Mas eu entendi o que você quis dizer. Nossa relação também acabou sendo afetada. Eram muitos problemas, muitas desconfianças para ela, e acima de tudo a frustração de não se sentir suficiente. Eu odeio meu pai, mas minha mãe não quer que eu o odeie pelo que ele fez com ela.

ㅡ É impossível. Como não sentir a dor da própria mãe?

ㅡ Exato. É um problema confuso, daqueles que não tem solução e te deixam cansado sem motivo nenhum.

ㅡ Eu entendo. ㅡCole continuou me dando a sopa enquanto conversávamos sobre a sua infância. Em grande parte foi boa, até as brigas de desconfiança dos seus pais começarem a tomar o espaço das noites que antes eles sempre jantavam juntos e felizes.
Ele estava no céu e caiu do nada, sem mais nem menos.
Deve ter sido bem difícil descobrir que seu pai perfeito na verdade não tinha um pingo de caráter e respeito pela família.
A vida é um circo, e você é o palhaço.

...