Capítulo 22

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Vôo para o reino das fadas e chego durante a noite, no mesmo horário que saí de Pearl, o vento frio me recebe e caminho para perto do castelo feito de gelo. Subo as escadas e vejo duas fadas na porta. Tiro o capuz e mostro meu rosto. Elas sorriem.

- Bem-vinda! - uma delas exclama e assinto. Entro e caminho a passos largos até perto da poltrona do rei das fadas. Reverencio ele e ele me olha com um sorriso sutil.

- O que te trás em casa? - ele pergunta e não respondo de imediato.

- Apenas queria um dia de paz aqui. - ele assente.

- Fique a vontade, seja nossa convidada. - assinto e caminho em direção ao quarto do castelo que uma vez foi meu, abro a porta e vejo ele da maneira que deixei, sorrio. Entro e me aproximo da cômoda velha e intacta. Me sento e olho para meu reflexo no metal usado como espelho.

Aqui não tenho complexo de inferioridade, aqui sou como eles e eles são tão frios como eu.

Olho para as gavetas e abro uma delas. A gaveta que continha meus vestidos está vazia e mesmo que eu não tivesse levado eles para Pearl quando parti, já não me serviriam, pois eram vestidos de uma garotinha de 12 anos. Olho para o puxador da última gaveta e suspiro. Abro a gaveta e vejo um diário velho com capa de couro envelhecido. Pego ele e suspiro. Faz anos que não o vejo.

Dezesseis anos exatamente.

Abro ele e me surpreendo com minha letra. Sorrio. Ela parece engraçada agora que olho, mas não parece conhecida.

Leio uma das primeiras páginas.

Meus pais decidiram que irei me casar com o filho do comandante das fadas aqui no reino, ele será nomeado rei e eu rainha. Eu brinco bastante com ele, então quando crescermos e tivermos que casar, não será difícil, já que somos bons amigos e vamos poder brincar juntos por muito tempo...

Quando olho para trás, me pergunto...
Eu sabia o que era amor com doze anos?

Eu amava o garoto que morreu?

Passo as folhas do diário e vejo a página que escrevi depois do velório dele.

Ele morreu... Quando olhei o túmulo dele e vi apenas seu rosto na lápide, me perguntei o que seria de mim... Meus pais vão escolher outros para serem os futuros reis, pois se meu par morreu, devo trazer má sorte e ser agourenta.

Meus olhos marejam e Lion me vem a cabeça. Devo ser agourenta e por isso fui mandada ao reino alado, porque Faruk reinava sozinho naquele tempo e havia apenas sombras e medo em Pearl. É o lugar ideal para um ser agourento como eu.

Você já ouviu frases onde é colocada como uma vilã? Mesmo sendo apenas uma criança?
Até onde devo ser fiel a quem me criou? Até quando devo me sacrificar pelo bem dos outros?
Por que a vida daqueles que amo e a minha vida valem tão pouco?

Passo as páginas do diário e leio a última página escrita.

Vou para o reino alado, eles disseram que sou uma oferta de muitos anos de paz, Faruk veio me ver, ele apoiou a mão na minha cabeça e disse: "Você será eu, te ensinarei que a bondade mora no coração dos fracos, mas você será forte, Maiana."
Ele trocou meu nome.
Não me chamo mais Dalila, agora sou Maiana que significa ilusão.

Fecho o diário e volto a olhar meu reflexo. "O nome Dalila não combinava comigo mesmo..."

Eu nasci do único propósito de Faruk, exterminar tudo aquilo que é ruim. Como ele aparece e se vai como fumaça, eu sou a ilusão de todos, pois posso desaparecer quando diminuo de tamanho e se quero ser realmente pequena.

Acabo me deitando e adormeço.

***

Acordo sentindo a brisa fria do reino das fadas, me sento na cama e bocejo. Faço a higiene bucal e refaço minha trança embutida, coloco anéis de prata desde o início da trança até o final e olho para a roupa que escolheram para eu usar, ela está sobre a cômoda. Um vestido vermelho sangue de gola alta e mangas longas. Coloco ele e meu casaco de pele por cima. Saio do quarto e sigo para fora do salão.

Quando meus pais morreram, quem enterrou foram os atuais reis, sequer chorei a morte deles, pois estava ocupada salvando seres místicos no reino alado, treinando com Faruk e servindo vinho a ele enquanto Faruk fumava e se drogava.

Somente eu entrava em seus aposentos quando ele estava, pois eu era seu reflexo e não demostrava emoções em minha expressão, apesar de senti-las.

Me sento na cadeira da sala de jantar do castelo e a rainha sorri ao me ver.

- Maiana! - ela se levanta e corre até minha cadeira, me levanto e Reverencio ela, Ela me faz aprumar e me abraça. - Você está aqui! - ela diz e me aperta. Ela se afasta. Aurora sempre foi assim.

- Estou. - o sorriso dela morre.

- O que te preocupa? - nego.

- Absolutamente nada, apenas estou absorta em pensamentos vãos. - ela assente.

- E aqui? - ela apoia a mão acima de meu seio esquerdo. - Dói? - engulo seco.

- É bom estar de volta. - digo sorrindo e lágrimas teimosas descem. Ela me abraça novamente e devolvo o abraço com gosto.

- Por que não veio antes? Essa é sua casa. - penso sobre as palavras dela enquanto demostra minha fraqueza e demostro meus sentimentos e emoções.

- Porque esqueci... Esqueci que eu tinha uma casa. - digo. Por que pensei que incomodaria... Porque pensei que não tinha para onde ir ou quem me acolher... Porque temía ser julgada e jogada fora.

Porque eu me odeio e odeio ser consolada, pois sinto que mereço sofrer.

Acabo me afastando dela e Aurora me olha com compaixão.

- Tem cicatrices no rosto. - assinto.

- Em todo o corpo. - digo e ela me olha com pesar.

- Quem te abraçou quando estava chorando e era pequena? - sorrio. Meu coração se aquece.
Ninguém me abraçou, como posso dizer a Aurora que ninguém me abraçou? Que no meu aniversário eu apanhei porque inocentemente dei carne para um bronco comer, mas era o prato que deveria levar a Faruk. As cozinheiras me castigaram e fui colocada de joelhos no salão em frente a Faruk. Como digo a Aurora que Faruk não demostrou compaixão e me fez treinar como uma adulta, como digo que fui parar no curandeiro e fiquei desacordada uma semana?

- Eu senti o abraço de vocês, mas ninguém me abraçou realmente. - tento amenizar. "Eu não senti o abraço de ninguém, eu estava sozinha e assustada, aprendendo a ser a melhor soldada!"

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LION - Saga Pearl - Livro XIIOnde histórias criam vida. Descubra agora