Capítulo 9

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O dia termina e a chuva cessa. Me sento em frente a taberna de Shiva e tusso levando a mão em frente a boca. Sangue...

Esfrego na calça e olho para baixo, o lugar que estou sentada não alagou, mas de minhas pernas para baixo estão abaixo de água. Minhas asas doem e meu corpo está destruído.

'Maiana... Estou a caminho do vilarejo, como estão as coisas?'

A voz de Teo surge e olho para o corte em meu abdômen. Rasgo um pedaço da capa que consegui em uma das tabernas, enfaixo ao redor de meu abdômen e faço mais tiras para enfaixar todos os ferimentos nos braços, pernas e abdômen. Minhas mãos estão completamente cheias de rasuras e feridas. Sinto uma pontada novamente no abdômen e tusso. Encolho as asas e elas doem já que estão feridas.

'Estou em frente a taberna de Shiva.'

Digo e respiro pesado. Alguns dos alados e fadas pousam perto de mim e duas das fadas pousam trazendo um alado desacordado. Me levanto e quando elas apoiam ele na parte seca, me abaixo perto dele. Coloco a mão em frente a seu nariz e não sinto a respiração, me curvo e apoio o ouvido sobre seu peitoral. Seus batimentos estão fracos. Olho para as duas fadas feridas que trouxeram ele.

- Levem ao curandeiro, depressa! - digo e elas assentem e saem com ele. Olho para os que pousaram, estão feridos, mas concientes. - Querem ir ou ficarão para ajudar aos que estão sem teto e enterrar aqueles que não sobreviveram? - alguns parecem feridos demais, porém não se colocam de pé para ir. Suspiro e começo a apontar o dedo para aqueles feridos demais. - Aqueles que eu apontei o dedo devem ir ao curandeiro, se quiserem retornar depois, são bem-vindos, mas é uma ordem que saiam agora e... - sinto outra pontada, levo a mão a boca e tusso. Escondo a mão e olho para eles. - e se curem. - finalizo e cerro os dentes.

- Deve vir também, está ferida comandante. - uma das fadas diz e olho para ela com superioridade.

- Sou sua Comandante, apenas obedeça! - digo e aponto para cima. - Vão. - ordeno e eles se vão. Me sento novamente sentindo minhas vistas turvas.
Teo pousa depois de um tempo e me levanto, ele me olha de cima em baixo.

- Está inteira. - ele brinca e fico séria.

- Devo estar de pé até que chegue, certo? - digo e ele aperta as pálpebras.

- Estava sentada. - ele brinca e balanço a cabeça.

- Irei ao curandeiro garoto. - digo e ele assente sorrindo.

- Bom trabalho Comandante. - ele diz e assinto.

- Deixo em suas mãos... Comandante do batalhão de Alados. - digo e ele assente. Me curvo levemente e alço vôo.
Sigo para o curandeiro e uma das ninfas me atende, ela me olha com certo receio e cura todos os ferimentos.

- Deveria vir antes Maiana, precisa de repouso. - ela diz e nego.

- Preciso voltar. - digo e ela nega.

- Não! Não sairá até estar bem. - suspiro. Vejo Lion no corredor, ele anda para lá e para cá e seu olhar se ilumina ao me ver. Ele caminha em minha direção e se senta ao meu lado.

- Como ela está? - ele pergunta a ninfa e ela parece chateada.

- Ela não quer repousar e está muito mal, precisa ficar até melhorar, convença ela Lion! - ele me encara e pisco vezes seguidas.

- Tenho que i...

- Vou com você. - olho para ele descrente.

- Não vai tentar me fazer ficar e descansar como outras vezes? - ele nega.

- Aprendi algumas coisas. - ele diz e olha para a ninfa. - Trago ela, ok? - a ninfa não parece de acordo, mas não vai contra. Me levanto com cuidado e caminho para fora do curandeiro, sinto olhos sobre mim e sou acompanhada por Lion. Olho para trás e lá está ele. - Finja que não estou e faça seu trabalho. - ele diz e assinto. Alço vôo para o vilarejo e pouso perto de uma das casas desmoronadas.

Começo a revisar todos os escombros e pegar os corpos caídos, levo para a pedra onde Ada e Faruk derivam as almas, mas vejo os gêmeos presentes. Me curvo para eles e coloco o bronco morto. Eles analisam e o bronco vira pétalas em seguida. Me viro e olho para Lion, me sinto tonta, mas não posso parar. Ele trás uma criança nos braços e passa por mim levando a criança aos gêmeos. Sinto um nó na garganta. Me afasto e paro um instante tentando recuperar a visão. Sinto uma mão em meu ombro.

- Deve descansar. - olho para Lion e nego.

- Ainda tem corpos por aí... - ele assente.

- Ok... - ele diz e assinto. Alço vôo e passo quase a noite inteira recolhendo corpos e orientando seres místicos ou levando crianças ao orfanato.
No fim, pouso perto de um dos muros em pé e a água em meus joelhos não diminuiu nada ainda. Meu corpo treme e quase não consigo me manter de pé. Lion pousa em seguida e me encara com dureza no olhar. - Vai dar o braço a torcer agora ou é tão difícil assim me mostrar suas fraquezas? - ele parece nervoso e sinto um nó na garganta. Ano passado Lion me viu chorar no curandeiro. Geralmente mantenho minha mente ocupada até voltar para casa ou estar sozinha, evitando perguntas sobre como me sinto. Não recebo esse tipo de pergunta ou pelo menos não recebia até Lion começar a se preocupar comigo e isso me tornou mais sensível.

- Vou ao curandeiro.- digo e ele assente me olhando com severidade. Tento caminhar, mas minhas pernas falham e quase caio na água, Lion é rápido e me pega nos braços. Recosto minha cabeça em seu peitoral e fecho os olhos.

Ele alça voo e seguimos para o curandeiro. Sinto quando ele pousa novamente e abro os olhos quando Lion para, olho para seu rosto e ele me encara com olhos violetas e expressão distante. Parece bravo.

- Uma das ninfas te ajudará com o banho. - ele diz e olho ao redor. Estamos no banheiro do curandeiro. Lion me coloca no chão e as ninfas me ajudam a ficar de pé.

Tomo um banho e acabo em um dos vestidos do curandeiro. Elas me ajudam a sair do banheiro e Lion está ali esperando todo sujo. Sorrio.

- Deveria tomar um banho. - digo e ele assente. Ele observa as ninfas me colocarem na cama e suspira.

- Por favor, cuide mais de você antes de cuidar dos outros. - ele diz e sorrio.

- É uma bela frase de um torturador. - digo e ele sorri e balança a cabeça.

- É a frase de alguém que te ama, não de alguém sem coração.

LION - Saga Pearl - Livro XIIOnde histórias criam vida. Descubra agora