Prólogo

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James

Nova York

O barulho dos carros e das pessoas que passavam na rua ecoaram em seus ouvidos como algo agudo e estranho, era tudo muito alto demais. Não chegava a se comparar muito com o outro lado, sua casa, se é que ele poderia considera-la como uma.

Northing, a grande e temida capital do norte.

A mulher de cabelos loiros se remexeu ao seu lado na cama, ele a encarou por um instante, seu corpo nu esbelto e esguio de bruços sob a sua cama, dormindo daquela maneira, não se parecia em nada com o tipo de víbora que estava acostumado a lidar, louca por sexo e holofotes. Com um suspiro pesado ele se prontificou em sair logo da cama, caminhou pelo quarto luxuoso, sentindo o sol se erguer no horizonte e banhar o aposento inteiro aos poucos.

Ele se banhou rapidamente e se vestiu. Quando retornou ao quarto se dera conta de que ela ainda dormia e revirou os olhos, aproximando-se das grandes janelas de vidro, que dava-lhe visão panorâmica de toda a cidade, que apresentava grande movimento aquela hora da manhã.

Para seu total desprazer, a mulher, Suzana, acordara, se vestira com o roupão de seda e caminhara em direção a ele com um sorriso nos lábios inchados, ficando na ponta dos pés e lhe dando um beijo na bochecha.

-Acordou cedo em! -disse como um leve sinal de bom dia. -deveria ter me acordado também.

-Precisava pensar um pouco. -respondeu seriamente, sem sequer olhar para o lado, sem tirar os olhos daquele horizonte. Mas pode sentir o leve desconforto da mulher ao seu lado.

-No que exatamente James? -suas mãos apertaram seu braço de leve, indicando sua ansiedade. Então naquele instante eu me obriguei a encará-la, e pela sua expressão de alegria mudar completamente para algo assustado, eu soube que minha expressão não fora das melhores.

Antes que eu cometesse a indelicadeza de dizer algo do qual não deveria, fui salvo pela porta que se abriu abruptamente, fazendo com que nos virássemos naquela direção, e senti minha própria mente agradecer ao meu espião por ter entrado justamente naquele instante.

Ele encarou a nós dois com o cenho franzido. Suzana tratou de mudar a expressão rapidamente, tornando a sorrir forçadamente para Jason, antes de pedir licença e caminhar para o closet.

Me voltei para Jason com os olhos semicerrados.

-Acho que precisamos conversar. -naquele instante liberei a magia pelo aposento que se alastrou silenciosamente ao nosso redor, ocultando e abafando qualquer assunto que seria tratado ali até mesmo de Suzana.

A alguns meses ele havia me entregado a pedra no palácio, mas havia algo no qual não havia exatamente se atendado.

-O que tem a me dizer sobre isso? -grunhi ao fazer surgir a pedra partida no ar diante de nós, sua cor azul, antes brilhante, agora opaca, sem vida alguma, evidenciando que estava presa a algum tipo de magia ilusória por todo aquele tempo, ao seu lado, pairando no ar, havia um pequeno bilhete de aspecto antigo, porém de textura nobre.

"Boa sorte ao tentar encontrar a verdadeira."

Aquilo só poderia ser uma piada de muito, mas muito mal gosto de quem quer que tenha feito. E ele trataria de descobrir quem quer que fosse, e depois cuidaria pessoalmente de eliminá-la.

-Eu... Eu não faço ideia. -Jason parecia tão surpreso quanto eu, porém um pouco mais controlado, devia ressaltar. -era a real, eu tinha certeza. -balançou a cabeça negativamente pensando e se colocando a andar de um lado para o outro. – só se... -ele me encarou de olhos arregalados e trincou os dentes.

-Só se o que? -grunhiu tentando se controlar.

-Elizabetth, ela é quem estava com a pedra antes que eu conseguisse pegá-la dos depósitos reais de Crossfire. -ponderou.

-E o que exatamente isso tem a ver com a pedra verdadeira, Jason? -ele me encarou estupefato.

-Quer dizer que algo mudou nesse último ano. E que ela pode ter descoberto mais do que sabemos sobre a pedra.

-Não me parece que uma mulher como ela pode ser tão esperta assim. -caminhei até a escrivaninha e me servi de um copo generoso de whisky. -o que exatamente ela é? -ironizei. Jason pareceu tenso antes de responder minha pergunta.

-Não estamos falando de qualquer pessoa, mas sim da grande Rainha e Imperatriz de toda Crossfire, com posse de quase todos os territórios do ocidente.

Engoli em seco. Trincando meus dentes com força.

-Isso quer dizer que ela pode ter descoberto seu plano a tempo de intercepta-lo?

-Não me interceptar, mas fazer algo sem com que ninguém ousasse perceber, até mesmo o senhor. Durante meses.

-Dando tempo a ela! -conclui. -mas para que exatamente?

-Não soube? -ele tirou um jornal dobrado e amassado dos bolsos do casaco e me entregou com relutância. -A alguns meses a rainha travou uma batalha contra Ian Roosevelt e sua própria irmã.

-Quem venceu? -senti minha mente e meus sentidos se alarmarem. -Quem venceu, Jason? -grunhi, diante de seu silêncio.

Mas aquele silêncio se estendeu, me informando do que exatamente eu precisava saber. Meu pai, o rei, deveria estar possesso naquele palácio, e ele não queria estar lá para presenciar isso, mas sabia que deveria. Havia mais de um ano em que estivera fora.

-Como isso terminou? Quantos dias? -indaguei, sentindo meu sangue esfriar lentamente.

-Tudo o que sei é que a guerra durou mais de uma semana, acontecia em vários lugares ao mesmo tempo, Ian Roosevelt foi morto, assim como a princesa Emmilly Crossfire, ainda em batalha. Ninguém sabe ao certo o que aconteceu depois, nem mesmo do paradeiro de rainha Elizabetth após isso, rumores dizem que ela viajou, mas ninguém, absolutamente ninguém sabe para onde ela fora. Nem mesmo meus espiões souberam captar alguma informação sigilosa.

-Prepare minhas coisas Jason, e as suas também. -concluiu, interrompendo o mestre espião.

Ele se levantou e jogou o jornal no sofá, cuja foto estampada na primeira página era de uma mulher onde se lia na descrição ser a temida princesa Emmilly, que saíra agindo em nome de Ian Roosevelt contra Crossfire, o reino da própria irmã, matando pessoas inocentes sem piedade e levantando um grande exército para destruir tudo o que via pela frente, com qual finalidade exatamente? Se perguntou ao caminhar até diante das enormes janelas de vidro, onde observou a cidade movimentada de Nova York abaixo. Onde inúmeras pessoas, homens, mulheres, crianças, saiam e caminhavam as pressas para seus destinos. Toda aquela situação parecia embaraçosa demais, mas quem sabe durante o caminho ele pudesse descobrir mais.

Ele tratou de bebericar o restante do liquido em seu copo, se perguntando internamente quem poderia ser aquela cujo poder era considerado uma lenda diante de toda a Ferryan. Um nome que parecia temido por todos ali.

Ele trataria de descobrir, é claro.

Afinal não era todo dia que se encontrava um possível rival a sua altura, o que ele duvidava bastante ao se tratar dessa mulher.

Jason dissera que ela sumira do mapa e que ninguém conseguira saber seu paradeiro até então, mas ele trataria de encontrá-la se fosse preciso, em todo aquele tempo nunca houvera nada em que ele deixara de obter êxito. E foi naquele instante em que seus pensamentos foram interrompidos quando Jason se colocou ao seu lado.

-Para qual finalidade exatamente senhor? -ele sequer encarou o espião. Seus olhos vasculhando o horizonte, como se o puxasse em sua direção prometendo algo, como se tivesse o objetivo de fazê-lo caminhar naquela direção, não, pensou consigo mesmo. Não naquela direção, mas sim, em direção a algo ou a alguém, como se esperasse por ele de alguma forma.

-Vamos voltar para casa.

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O Rei e a Rainha das Sombras - livro 4 Onde histórias criam vida. Descubra agora