Capítulo 42

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Já era tarde da noite naquele mesmo dia, e enquanto todos se retiraram silenciosamente para os seus respectivos aposentos na propriedade que ela descobrira ser de James, um gosto amargo parecia dominar seus lábios e ela se remexeu na poltrona em que estava de frente para a lareira na sala que ficava no andar de baixo.

Suas pernas esticadas protestaram diante do movimento, Christopher as enfaixara para ela, onde o ferimento ainda não havia se curado.

Edward havia tentado falar com ela mais cedo, mas ela apenas permanecera em silêncio onde estava, e ele imediatamente se retirara.

Christopher estava com ela a poucos instantes antes de deixa-la sozinha com seus próprios pensamentos.

Ela não vira James o dia todo depois daquele episódio, não sentira a presença dele, o que a fez presumir que ele havia saído dali, mas naquele momento, seu coração disparou quando aquela onda vibrante dominou seu peito deixando-a inquieta.

Seus olhos encaravam profundamente as chamas crepitantes da lareira, perdida em pensamentos quando ela ouviu o clique da porta o que a tirou de seus devaneios no mesmo instante.

Ela se virou, e ele estava ali diante dela, com as mãos enfiadas nos bolsos da calça.

-Você está bem? -ele sussurrou baixinho, e eu respirei fundo balançando a cabeça.

-Não sei. -confessei olhando para ele que franziu o cenho e se sentou na poltrona ao meu lado, sem se importar com formalidades e com aquela proximidade, ainda mais quando ele pegou em minhas mãos e me encarou intensamente. -E você? -a pergunta saiu espontaneamente de meus lábios antes que eu soubesse o que estava fazendo.

Algo brilhou nos olhos de James. Estavam bem diferentes dos que eu encarara de manhã.

Ele não respondeu.

Meus olhos correram para o corte vermelho em sua clavícula.

Contive minhas mãos que formigaram para se erguerem até ali, para tocá-lo.

-Porque hesitou? -ele perguntou baixinho sem deixar de encará-la, engolindo em seco.

-Eu não hesitei -retruquei. -apenas parei, é diferente. Você hesitou.

Ele semicerrou os olhos.

-Eu disse que não queria machucá-la. Não costumo quebrar promessas.

Ela vasculhou aqueles olhos azuis, seus sentidos tentando captar algo que denunciasse uma mentira, qualquer coisa, menos aquilo que ela estava sentindo naquele momento.

-Apenas quando lhe convém, não é? -ela trincou os dentes.

-Isso não me faz muito diferente de você não é mesmo?

Ai estava, a verdade.

Uma verdade que ela demorou muito para se dar conta.

James não era como Lyonel, talvez na aparência, mas em questão ao presente, ele era exatamente como ela.

Estavam fazendo a mesma coisa o tempo todo, ela só não queria confessar aquilo para si mesma.

-Você tem razão. -ela respirou fundo novamente e se levantou abruptamente, fazendo uma careta de dor que não passou despercebido pelo príncipe que também se levantou, mas não fez menção de tocá-la. -Talvez eu tenha demorado demais para me dar conta disso. -disse consigo mesma.

-Se dar conta do que Eliza? -indagou James seriamente encarando-a intensamente.

Ela prendeu a respiração diante da menção intima de seu nome saindo dos lábios dele, e então cada momento naquele quarto enquanto ela sentia o toque de suas habilidosas mãos eletrizantes por seu corpo, enquanto ele a banhava, do som de sua voz tranquilizante ecoando por seus ouvidos sensíveis, reverberando por todo o seu corpo, assim como de seu coração.

E aquilo caiu como chumbo em seu estômago enquanto encarava o príncipe naquele instante.

Não, ele não era como Lyonel, mas sim como quem ele realmente ele era, James. Mais do que deveria, mais do que podia compreender naquele momento.

-Há muito o que ser processado depois do dia de hoje, acho que preciso ficar sozinha. Com licença.

Ela começou a se afastar, tentando evitar o contato visual com o príncipe para averiguar sua expressão, mas aquilo foi inevitável quando ela estava próximo à porta, e ele a alcançou rapidamente, sua mão segurou a dela firmemente, fazendo-a se virar.

-Fique comigo esta noite. -ele engoliu em seco, seu peito subindo e descendo rapidamente conforme a encarava profundamente.

Ela prendeu a respiração ao encará-lo de volta, sentindo as lágrimas se formarem em seus olhos, mas ela as segurou conforme podia.

Alguns segundos se passaram até que ela apertasse a mão dele de volta e se permitisse aproximar de seu abraço.

-Não vou dizer que me arrependo. -ela disse quando ele a envolveu em seus braços, ele riu e beijou a testa dela, depois a encarou com um sorriso malicioso em seus lábios, o que demonstrava que ele entendia perfeitamente ao ferimento que ela causara.

-Eu não esperava menos de você.

Então ela sorriu de volta.

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-Quero ajudá-la a encontrar quem está fazendo tudo isso. -disse James depois de um tempo, enquanto ela permanecia no peito da janela olhando o lado de fora, e ele servia dois copos de whisky, entregando um copo a ela em seguida.

-Quem quer que seja está brincando conosco, está mais perto do que imaginamos, do que percebemos. -ela balançou a cabeça. – a questão é como pegarmos o golpista durante o golpe.

James se retesou.

-Por que estariam fazendo isso? -ponderou ele.

-A pergunta correta não seria o porquê, mas sim como estão fazendo isso. -ela mordeu o lábio inferior. -Já sabemos os motivos.

Eles se entreolharam por um instante que mais se pareceu como uma eternidade.

-O que não é uma novidade, o roubo da pedra explica tudo. -ela deu de ombros e bebeu um gole do whisky em seu copo, permitindo que o liquido queimasse sua garganta.

-Vem juntando as peças a muito tempo pelo visto.

-Não me diga que você não. -ela semicerrou os olhos na direção do príncipe. -chegou a essa conclusão no mesmo dia em que a pedra foi roubada, e vem pesquisando o mesmo até então, assim como eu.

Ele inclinou a cabeça.

Ela franziu o cenho.

-O que exatamente está seguindo nossos passos?

-Somos um tipo de fonte de luz que mostra tudo o que quem quer que seja precisa, levando- a até onde precisa. Eu retornei para casa, os ataques rebeldes começaram, isso não tem a ver só com você.

-Precisamos chamar os outros, temos que voltar para o palácio. Ninguém está seguro aqui.

-Estar no palácio pode ser a última coisa no qual precisaríamos agora. É o covil dos rebeldes.

Ela o encarou de soslaio.

-E é exatamente por isso que devemos ir até lá.

-E por que acha que isso resolveria? Quando realmente encontrar quem está por trás disso tudo, o que vai fazer? Matá-los na frente de todos? -ele suspirou e passou as mãos pelos cabelos.

-Quero apenas descobrir quem está por trás de tudo isso. Quando a hora chegar, nós agiremos de acordo com o que a situação exigir.

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O Rei e a Rainha das Sombras - livro 4 Onde histórias criam vida. Descubra agora