Capítulo 1

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Elizabetth

Terras altas de White Kingom -  Província de Woodville

As ondas batiam com força contra as pedras a uns 50 metros para baixo ao pé do penhasco, o som da água ecoava em seus sentidos como uma bela canção, o mar revolto, pensou consigo mesma, ele a acalmava, ajudava a pensar, permitia com que ela pudesse se sentir ela mesma, mesmo que por um instante, permitia que sua própria mente se sentisse livre, permitia com que não se sentisse sozinha.

A rainha sentada na grama perto da ponta da montanha, abraçou os joelhos e encostou o queixo neles, observando o mar infinito diante de si. Aquele azul parecia um tipo de imensidão na qual a permitia se sentir um pouco mais perto daquilo que não sabia mais como trazer de volta.

Um ano havia se passado, um ano e quatro malditos meses desde quando atravessara no tempo. Um ano desde que saíra de Crossfire a procura de sua própria origem, e de uma forma de voltar, e de se encontrar. Mas na verdade, a cada dia que se passava ela se encontrava mais longe de si mesma.

Seu próprio poder parecia sentir suas intenções, e nas várias tentativas ao longo do tempo, ela jamais conseguira voltar para o mesmo tempo, ao menos em nenhum em que pudesse encontrá-lo vivo, até mesmo as respostas de que precisava.

E não fazia muitos dias em que adquirira um jornal diário esquecido, com uma pequena informação sobre o ano de falecimento de Lyonel Lancaster.

E tudo passara a não ter sentido.

Naquele instante se sentia tão confusa e impotente em todos os sentidos, sua alma parecia ter sido corroída a nada, restando apenas a escuridão que se permitira abraçar a muito tempo como sua companhia.

Nenhum registro. Em todo aquele tempo, não encontrara absolutamente nada, e agora isso.

O som do mar se quebrando se tornara algo metódico e distante em sua mente, conforme encarava a água azul escura se mover com violência devido ao forte vento que corria naquela direção, o tempo estava nublado, o que ela já havia se acostumado, afinal ali o tempo era devidamente frio, e o sol quase que escasso em todo o ano.

Alguns minutos depois ela criou coragem de se levantar, e caminhou em direção a ponta do penhasco, seus pés ficando metade para fora do chão.

Ela fechou os olhos e inspirou fundo, absorvendo o aroma salgado e a sensação da água fria, pouco antes de abrir os braços e se deixar cair.

Sentiu o ar ainda mais frio tomar conta de seu corpo, ela arregalou os olhos e seu grito foi sufocado pouco antes de seu corpo sentir o impacto da água.

Ela ficou ali submersa por um instante, sentindo e absorvendo aquela água fria dominar e cobrir todo o seu corpo, permaneceu de olhos fechados, como se  parte de seu esgotamento a convencesse de que o que fizera fora uma boa escolha, e que a ideia de apenas permanecer ali, parecia mais atraente do que ela poderia ter cogitado qualquer outro dia antes daquela merda toda.

Mas ela se permitiu abrir os olhos, aquela imensidão azul abraçando-a por completo, antes de subir para a superfície ao sentir seus pulmões queimarem.

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Cerca de uma hora depois, a rainha arrastava pela areia o que parecia ser uma bolsa improvisada, com alguns peixes para seu jantar.

Seu corpo sequer protestara diante do frio congelante que atingia seu corpo encharcado, assim como o cansaço das pernas por ter nadado até a outra extremidade onde poderia sair da água sem precisar escalar o penhasco. Um ser humano não teria sobrevivido sequer à queda, pensara enquanto prosseguia.

O Rei e a Rainha das Sombras - livro 4 Onde histórias criam vida. Descubra agora