Capítulo 20

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O vento batia contra o seu rosto de modo que por um instante lhe pareceu libertador, teve esperança por um momento que pudesse levar embora consigo cada uma de suas preocupações, cada um de seus temores, de seus sentimentos que ainda a corroíam.

Quando estava de volta no palácio, fora direto para um dos aposentos no qual deixara de visitar a mais de um ano, mesmo que ainda estivesse protegendo com muito afinco, onde toda Crossfire era sua fortaleza.

Ela parou no centro do aposento, diante da única coisa pelo qual havia dado sua vida nos últimos anos.

A pedra vermelha cravada na coroa de diamantes pareceu piscar para ela, de um modo que ela sentia aquele poder estranho e evolvente que habitava ali e se movia ali dentro, vibrante, desconhecido, poderoso.

Poderia passar uma vida inteira buscando adjetivos para o que aquela coisa deveria ser, buscando encontrar e descobrir o que podia fazer.

Sabia que não deveria.

Sabia que tudo o que tinha que fazer era mantê-la segura, escondida de tudo e todos para que ninguém jamais descobrisse seu paradeiro, uma relíquia que pertenceu as gerações de sua família e fora protegida como tal. 

Mas se para conseguir encontrar a sua irmã, que pertencia a um outro continente, tão poderosa quanto, haviam sacrifícios que deveriam ser feitos, escolhas a serem feitas, para manter a paz, para manter as coisas como estavam, antes que uma nova guerra desse inicio.

Talvez aquela seria a escolha a ser tomada.

Mas ela conseguiria parar quando fosse a hora?

Quando voltasse a coloca-la em suas mãos, não sabia o que se tornaria, quem se tornaria.

Poderia continuar sendo ela mesma, ou podia se tornar uma versão ainda pior de si mesma, aquela com quem ninguém ainda teria lidado ou sequer conhecido.

Ela esticou a mão impulsivamente, conforme sentia aquele chamado dentro de si,  ardente, sensual, que fazia suas veias formigarem intensamente por desejar mais, por necessitar de algum tipo de alivio que somente aquela pedra lhe daria.

Seus dedos estavam muito próximos, o desejo corroendo-a como algo intenso e incontrolável. Ela seria incontrolável, invencível.

Mas as coisas não funcionavam daquele jeito.

Reuniu todo seu autocontrole, fechou os olhos e respirou fundo, antes de se virar e sair apressadamente do aposento, sem olhar para trás.

Sequer prestara atenção no caminho que percorrera, mas no meio do corredor trombara em um corpo forte e duro, mãos fortes seguraram seus braços e seus olhos se ergueram apenas o suficiente para encontrar os olhos castanhos preocupados de seu general, que parecia saber de alguma forma, exatamente o que ela estava prestes a fazer.

Mas ele não tinha aquele olhar condenável. Jamais teria para ela.

Por isso o amava.

Se permitiu passar os braços ao redor de Christopher e apertá-lo contra si com força, ele imitando o gesto, descansando o queixo em sua cabeça, lhe acariciando os cabelos. Então ela se permitiu chorar, sentindo seu corpo prestes a desabar ali mesmo se não fosse pelas mãos fortes que a seguravam naquele instante.

-Como foi com lorde Devonshire? -ela balançou a cabeça negativamente, sua cabeça ainda apoiada no peito do general, incapaz de encará-lo. -Precisa me dizer.

Eles por fim se afastaram. Ele a encarava seriamente agora.

-Ele machucou você? -ele sequer precisou perguntar sobre seu encontro com James. Talvez algo em seu cheiro revelasse que lutara com alguém.

O Rei e a Rainha das Sombras - livro 4 Onde histórias criam vida. Descubra agora