Capítulo 08

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Elizabetth

Algumas horas depois

-O que encontrou para mim? -indagou quando sua emissária entrou saltitante pelo aposento com um tipo de capa de jornal em uma das mãos e na outra, um convite.

Ela sorriu maliciosamente ao encarar a mim e Christopher e balançou o convite em suas mãos.

-Haverá uma festa nobre particular  na casa dos Stanford amanhã a noite, e advinha só quem está na lista de convidados? -ergueu uma sobrancelha e eu franzi o cenho.

-Como tem acesso a esse tipo de informação? -semicerrei os olhos em sua direção, Christopher se retesou na poltrona adiante.

-Não tenho. -deu de ombros -Interceptei o criado responsável pelas correspondências, isso estava lá.

-E por que teríamos essa informação de mão beijada? -apertei os braços da poltrona.

-Talvez quem quer que seja, queira que soubesse disso. -ponderou o general, enrijecendo.

-Esperei ai. -Margôt fez uma careta. -como um tipo de armadilha?

-Talvez muito mais do que isso. -ponderei. -Os Stanford tem suas maneiras para se comunicar com esse lado, era mais difícil a uns dois séculos, mas eu tratei de mudar isso nos últimos anos.

Silêncio se instalou no ambiente antes de Christopher intervir.

-Eles podem mandar cartas para este lado? -franziu as sobrancelhas e eu assenti com a cabeça.

-Receio que em situações adversas eles podem ter uma carta na manga. -suspirou. -mas não creio que isso -gesticulou para o convite. -se encaixa de alguma forma.

-Alguém tipo um viajante? -A emissária arregalou os olhos. -Sabemos que isso é extremamente raro.

-Ainda assim, humanos do outro lado não podem se comunicar com este lado, a não ser que tenham a ajuda de alguém com magia. Ou a única outra possibilidade aparente é que alguém acha que vamos cair nesse tipo de armadilha. -determinou Christopher pegando a carta, mas eu coloquei a mão em seu pulso.

-Não, porque iremos mais preparados do que eles. -sorriu.

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Senti minha garganta queimar quando terminei de beber o whisky que jazia em meu copo e o depositei de volta na bandeja do garçom mais próximo, meu senso completamente atento aos olhares de todos os presentes no local, as luzes douradas se misturando com as azuis ajudavam a dar o contraste perfeito para o vestido vermelho que eu vestia aquela noite.

É claro que eu não poderia perder aquela oportunidade.

-Por favor, não deixe seu sentimentalismo estragarem esta noite. -disse Christopher ao se colocar ao meu lado, seus dedos precisos arrumando as lapelas do smoking de luxo.

-Está me subestimando. -sussurrei de volta sem sequer encará-lo.

-Sei que você não decepciona. -sorriu maliciosamente antes de pegar uma taça do garçom mais próximo e sair andando, como se sequer tivesse falado comigo em instantes. A máscara negra ocultando seu rosto agora mais moreno e diferente.

Antes de irmos até ali, eu havia mudado um pouquinho as feições de Margôt e do general para que se infiltrassem na festa sem com que fossem reconhecidos pelos Stanfords, e o baile de mascaras habitual da família naquela época ajudava e muito com todo o resto.

Eu havia clareado meus cabelos, estavam mais loiros e curtos do que eu poderia sequer cogitar em deixar algum dia, mas não podia negar que deixavam aquela minha aparência atraente. Eu optara por deixar de modificar o meu rosto, afinal, eu permitiria que me reconhecessem.

Eles só não precisavam saber que eu estava acompanhada.

Então imitei Christopher, e comecei a circular pelo local.

Cerca de uma hora havia se passado enquanto observava o salão se encher mais rápido, pessoas diferentes e de todos os portes entravam e saíam. Cumprimentavam-me, conversavam um pouco ou me chamavam para dançar, e assim se resumia minha última hora ali, circulando.

Estava na hora de agir.

Mas o cheiro de magia parecia me prender àquele lugar, aquele cheiro pungente e estranho, que me permitia saber de alguma forma que não estava sozinha.

Meus pés me guiaram lenta e minuciosamente até estar perto o suficiente das escadas que levavam aos andares superiores. Até que algo me ocorreu.

Mas fora tarde demais para que meus próprios pensamentos se ordenassem quando meus olhos se detiveram em um ponto fixo, James Lancaster caminhando elegantemente até mim. Permaneci paralisada por um instante enquanto tentava com muito afinco me livrar de lembranças e momentos que inundavam minha mente naquele instante.

Estava vestindo um terno aquela noite, atraente e sob medida, realçando em parte os músculos que eu sabia que existiam por baixo daquela roupa, assim como também podia acariciar meus próprios lábios com a língua, como se fosse de certa forma sentir sua boca sob a minha, com força, provando meu gosto, assim como eu queria provar o seu. Mas minha respiração oscilou quando ele chegou perto demais e fui incapaz de impedir, sentindo minha fraqueza dominar meu corpo diante de sua presença, forte, rígida, intimidante.

Senti minhas entranhas tremerem quando seus lábios se aproximaram de meu ouvido, de um modo que eu pudesse sentir o seu hálito roçar meu pescoço, acaricia-lo, antes de sussurrar. 

-Está me seguindo senhorita Cross? -aquilo pareceu me acordar de imediato, mas não precisei de muito esforço para entrar em seu jogo.

Um meio sorriso curvou os meus lábios vermelhos.

-Eu poderia dizer o mesmo quanto à você, sr Lancaster. -ergui minha cabeça para poder encará-lo, sem me deixar intimidar.

-E se não está me seguindo, o que está fazendo aqui? -indagou ao me estender uma das mãos, e senti meu estômago queimar diante daquele gesto. Um gesto que eu conhecia mais do que deveria, e sentia falta. Mas naquele momento, mantive meu sorriso mais genuíno no rosto quando aceitei sua mão e o acompanhei, sentindo aquele nó estranho se formar em minha garganta a cada passo lento que eu dava, sentindo meu mundo desmoronar aos poucos por todos os meus sentimentos por Lyonel, mas a questão era, se ele não era Lyonel, quem ele era?

E por que não se lembrava de mim?

-Assim como você, tenho negócios aqui. -meias verdades, era um jogo, e eu o faria, mesmo que parte de mim gritava internamente naquele instante para dar meia volta e sair dali o mais rápido possível.

Suas mãos passaram lentamente em minha cintura de um modo estranhamente familiar e possessivo, causando-me um estremecimento. Então, me permiti seguir seus passos ousados da mesma forma quando minhas mãos deslizaram por seus braços lentamente antes de descansarem em seu pescoço.

Começamos a nos mover diante da música lenta que se alastrava pelo ambiente de um modo quente, atraente e sensual. Engoli em seco ao absorver a sensação de seus dedos sob o cetim do vestido, e me senti um pouco triunfante quando senti uma de suas veias pulsar em seu pescoço, e aquele toque se intensificar conforme rodamos e nos movimentamos ao som da música.

Em algum momento sem com que percebesse, ousei permitir que meus olhos encontrassem os seus,  e eu perdi o fôlego diante daquela visão de seus olhos azuis sob a máscara negra, uma visão que me fez esquecer totalmente o mundo ao redor, fechar os olhos, e me entregar unicamente aquele momento.

Um silêncio extremamente carregado daquela tensão prazerosa se instalou entre nós enquanto nos permitíamos absorver a música, e eu por um instante soube, ao vislumbrar aqueles olhos que me queimavam por dentro, que ele parecia sentir o mesmo.

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Músicas:

O Rei e a Rainha das Sombras - livro 4 Onde histórias criam vida. Descubra agora