Senti a madeira fria sob minhas costas assim que fechei a porta de meus aposentos e permaneci ali, toda aquela situação embaraçosa daquela manhã sendo repassada calculadamente em minha memória.Começou a se perguntar por um instante se teria sido uma boa ideia voltar, ou se todo aquele tempo em que estivera fora, a solidão dentro de si tenha se alastrado demais para ser revertida.
Ela se desencostou o suficiente apenas para caminhar diretamente até sua antiga escrivaninha para se servir da bebida que estava ali, sequer se assustou quando a porta abriu novamente, revelando Christopher que passou por ali e se colocou diante dela, que não se importou com sua presença até ter tomado todo o líquido do copo que enchera, e absorvido a queimação descer por sua garganta em cheio.
-Temos um grande problema, não é? -perguntou seriamente, e ela o encarou com o cenho franzido.
-Acha mesmo que isso é minha maior preocupação? -ironizou, enchendo outro copo de whisky, começando realmente a acreditar que talvez a bebida que havia tomado antes de atravessar até ali tenha sido a culpada de tudo.
Mas bebidas quaisquer que fossem, independente do quanto pudesse tomar, não costumavam deixa-la tão bêbada a ponto de esquecer o próprio nome. E isso era um grande problema para ela.
-Poderia fazer a gentileza de me contar então? -ela caminhou rapidamente até a janela mais próxima e inspirou profundamente enquanto encarava o mundo afora.
-Eu o vi. -disse simplesmente, sem encarar seu general.
Silêncio se alastrou pelo ambiente enquanto ela sabia que ele processava a informação.
Em todo aquele tempo, a única pessoa que sabia sobre tudo era Christopher, seu melhor amigo, seu conselheiro. Fora para ele quem contara tudo quando voltara, quando a guerra acabara, antes que ela partisse em busca de respostas. Fora ele, podia ter a certeza de que Gabriel poderia saber de muita coisa, mas ela precisava reunir coragem para falar com seu amigo o rei de Aspen sobre isso. Ele não costumava ser o tipo de pessoa que revelaria segredos tão facilmente. E ele parecia guardar muitos deles.
-E o que você fez exatamente? -foram as primeiras palavras ditas pelo general depois de um tempo.
-Nada -riu baixinho, sentindo o gosto amargo da ironia sob seus lábios. -não havia o que ser feito -disse calmamente. -e há a grande questão dele não ter me reconhecido. -trincou os dentes e bebericou o whisky calmamente. Christopher parecia analisar a situação quando ela se virou para encará-lo. -E agora descubro que ele é a porra do príncipe do Norte. Sabia disso? -ergueu as sobrancelhas.
-Por mais incrível que pareça não. -ele balançou a cabeça negativamente. -e isso pode realmente ser um pouco estranho, como ele apareceria agora? Seria impossível que teria conseguido sobreviver a tantos anos.
-Ele poderia ser como você. -interviu, sentindo seu peito se encher de algo estranho, bombear mais rápido de um modo que chegava a doer, mas ela se conteve.
-Você é mais poderosa do que eu e não sobreviveu por todos esses anos, porque o destino não quis assim. Porque estava destinada a isso. Ele não poderia ser diferente. -ele andou de um lado para o outro, e ela notou sua ansiedade e apreensão, estava escondendo algo dela.
-E porque estaríamos destinados a isso? -perguntou depois de um tempo, ao processar as palavras do general, que após ouvir sua pergunta paralisou no lugar e a encarou com o rosto pálido.
-Há coisas que eu gostaria muito de poder contar a você, mas não posso, mesmo que eu queira.
-E por que não?
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O Rei e a Rainha das Sombras - livro 4
Fantasy"Dentro de um mundo em conflito entre reis e rainhas, ela poderia ser a salvação dele, ou ele será sua ruína." "Ela não se curvaria a ninguém. Ao invés de ter medo, ela se tornaria quem as pessoas temem."