Capítulo 46

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No meio daquela noite, quando todos já se recolheram para seus respectivos aposentos, ela ainda permanecia acordada, encarando o teto  após mais um de seus pesadelos.

Dessa vez a beira de um penhasco, onde havia neve para todos os lados, no chão e caindo do céu como uma tempestade, onde podia sentir seus pés e seu corpo sendo congelados pelo frio até a sua alma, estava paralisada na ponta daquele penhasco de um modo que mal conseguia se mexer ou falar algo, até que uma voz, como uma melodia suave acariciou seus sentidos vindo logo atrás dela.

Lentamente depois de ouvir aquele som mais uma vez, ela se virou, apenas para sentir mãos fortes sob seus ombros, e quando seus olhos puderam focar em alguma coisa, em quem a segurou daquele jeito, encontrou aqueles olhos azuis a encarando-a intensamente de volta.

Então ela abriu os olhos, e encontrou a visão do criado mudo ao lado de sua cama.

Depois de um tempo que mais se pareceu infinito enquanto encarava o teto cheio de desenhos antigos de anjos e divindades no céu, ela fechou os olhos, minutos se passaram enquanto revirava de um lado para o outro, até que desistisse e finalmente se levantasse.

Ela caminhou até a mesinha mais próxima e se serviu de um copo de whisky, bebendo tudo de uma vez em seguida, sentindo a ardência na garganta com prazer.

Foi até o cabideiro, onde se vestiu rapidamente com o robe e saiu corredor afora, apalpando as paredes até que conseguisse encontrar o corredor escondido por onde os empregados circulavam.

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Com os pés descalços, ela caminhou pelos corredores cautelosa e silenciosamente sem rumo, esperando que de alguma forma eles pudessem leva-la a lugares para explorar e descobrir.

Pois os corredores dos empregados davam acesso ao palácio inteiro, sem que eles sejam percebidos. 

Mas então antes que dobrasse o corredor logo a sua frente, o som de uma melodia chegou em seus ouvidos, tão suave e encantadora no qual lhe pareceu familiar.

Não estava sozinha.

Seu coração acelerou dentro do peito e seus sentidos permaneceram em alerta.

Então, lentamente ela seguiu e frente, virando mais dois corredores que surgiram, levando-a em direção à música.

E ao ver a porta entreaberta logo mais a frente, ela se aproximou e parou, engolindo em seco, sentindo quem estava ali antes mesmo que precisasse olhar para dentro do aposento. Ela estava ao lado de uma porta secreta que dava diretamente para a sala de música, e James era quem estava tocando aquelas notas tão graciosa e perfeitamente que poderia encantar qualquer um que o ouvisse tocar daquele modo.

Ela engoliu em seco.

Respirou fundo, uma, duas vezes, sem fazer menção de sair do lugar onde estava.

Até que a música parou.

Ela trincou os dentes.

Tinha que sair dali o mais rápido possível.

Mas que ideia ridícula a dela de sair aquele momento como se o palácio inteiro estivesse hibernando.

Aos poucos ela começou a dar alguns passos para trás, sem deixar de olhar na direção da porta, como se ele fosse nota-la a qualquer momento e surgir bem ali.

Mas seus pensamentos tumultuosos foram interrompidos quando seus pés tropeçaram em algo e ela embarrou contra algo duro, ou melhor, alguém, que não fez menção de segurá-la, mas que a impediu da queda feia que provavelmente teria ao cair naquele chão.

O Rei e a Rainha das Sombras - livro 4 Onde histórias criam vida. Descubra agora