Ela parou, fechou o armário lentamente antes de finalmente se virar para encarar James Lancaster, o objeto de seus desejos mais obscuros, assim como de seus pesadelos nos últimos dias.
-Não deveria sair deixando portas abertas por ai sr Lancaster. -ela inclinou a cabeça ironicamente, sacando sua adaga novamente, ele acompanhou seu movimento, mesmo que ainda permanecesse encostado despreocupadamente no batente da porta, sorrindo para ela. -ainda mais quando não se trata de sua propriedade. -ousou arriscar aquela frase.
-Está em meu território para sua informação. -suspirou impaciente, semicerrando os olhos ao encará-la sarcasticamente.
-Não sabia que esta propriedade era sua. -inclinei a cabeça, sorrindo de lado.
-Por que está me seguindo, Sra Cross? -ela quase estremeceu diante da menção ao nome, mas ignorou ao focar em responder a pergunta do príncipe.
-Pelo mesmo objetivo que você, suponho. -gesticulou no ar. -porém percebo que cheguei um pouco atrasada. Me atentarei da próxima vez, para não deixar que volte a acontecer. -ela se virou para pegar o diário na estante ignorando a presença de James, mas...
Não estava lá.
Ela trincou os dentes e cerrou os punhos.
-Não pode fazer isso. -disse calmamente entredentes se virando lentamente para encará-lo.
Ainda de braços cruzados, encarando-a de volta descaradamente com um meio sorriso diabólico emoldurando seus lábios.
Aquilo foi o que ela precisava.
Não contou os segundos, não permitiu um próximo suspiro, não permitiu que ele notasse ou previsse seu próximo movimento quando permitiu que seu poder tomasse conta de seu corpo, de sua alma quando sacou sua espada e voou para cima de James Lancaster, lançando-o contra a parede mais próxima que afundou e se quebrou diante de seu impacto.
Ela percebeu quando aquele brilho malicioso passou pelos olhos dele, percebeu quando aquele azul de suas orbitas se tornaram mais vividas, mais brilhantes, do mesmo modo que os dela mudavam de cor de acordo com o tipo de poder que usava, como naquele instante. Deveriam estar mais vividos, violetas.
Ela pressionou a espada contra a garganta do príncipe e o encarou no fundo dos olhos friamente.
-Vai me entregar o diário. -ele sorriu para ela, um sorriso de tirar o folego de um modo que a distraiu por tempo suficiente.
-Não. -então ela sentiu quando as mãos dele a empurraram, tão forte que ela sentiu o poder, lançando-a pelo aposento até que atravessasse as janelas, e sentisse o ar frio chicoteá-la instantaneamente, e a sensação naquele momento, era como se estivesse novamente caindo de um penhasco, mas estava apenas caindo do terceiro andar de uma propriedade.
Mas ela caiu no ar apenas alguns instantes até que seus pés tocassem o chão, suas mãos raspando na grama até que enfim parasse.
James atravessou diante da porta da frente da casa e caminhou calmamente até ela, que correu em direção a ele, outra espada surgira nas mãos do príncipe que se chocaram firmemente com a dela, lançando faíscas que cintilaram no ar, enquanto ambos se moveram em uma dança rápida, cortante e brutal com suas espadas, ambas as forças se colidindo como nunca antes.
Giro, bloqueio, chute, braço, espada, os movimentos de ambos eram tão precisos e rápidos que seria difícil que qualquer um acompanhasse ou notasse cada um de seus movimentos.
Eliza grunhiu ao lançar a espada sobre ele que revidou a altura, aquilo não era possível, não tinha que ser, tentava dizer a si mesma a cada movimento, a cada estratégia, a cada pensamento.
Com um grito que ecoou a quilômetros de distancia ela pulou.
Seu corpo girando no ar com maestria, seu poder vindo a tona, até que suas mãos se erguessem no ar, sua espada cintilando no ar em sincronia, até que moveu sua perna e chutou o peito de James, seu poder saindo dela e lançando-o para longe.
Ele se recompôs rapidamente, e correu em direção a ela, suas mãos se levantando no ar e ela parou apenas por tempo o suficiente para ver o que ele fazia, conforme seus olhos brilhavam, conforme o cheiro de magia e poder chegava em seus sentidos, e finalmente viu o que fora lançado em sua direção.
Pedaços de vidro pontiagudos formados pela magia do príncipe voando em direção a ela, que formou uma barreira de proteção, não sem antes que uma daquelas adagas de gelo lhe raspassem o rosto, perfurando a bochecha, de um modo que ela sentiu arder no mesmo instante devido a força do impacto, levando suas mãos no mesmo segundo para o rosto, sentindo o sangue ali, alguns rápidos segundos se passaram, ela tirou a mão do ferimento e franziu o cenho ao notar o sangue quente em seus dedos, ao ainda sentir a ardência consumir sua pele, o corte não se fechara.
Mas aquela atitude de James, ela não voltaria para casa sem revidar, sem que ele também sentisse.
Então ela sorriu para ele, simplesmente sorriu, ignorando a própria dor no rosto. Ainda parada onde estava, absorvendo a sensação prazerosa do poder circulando livremente em suas veias, formigando sua pele.
Ele não devia ter feito aquilo.
James pareceu ter notado, porque seu sorriso morreu no instante em que ela passou a caminhar em sua direção lentamente, até começar a correr e ambos se chocarem novamente, poder contra poder, força contra força.
Bastou mais um simples movimento até que ela sacasse outra adaga de suas costas e a raspou em sua cintura, fazendo-o recuar no mesmo instante.
Ela se afastou.
James cambaleou.
-Vai me dar o diário agora. -disse simplesmente, e ele o atirou na neve.
-Parece que não é tão fácil assim. -disse se recompondo logo em seguida, ela embainhou a espada e a adaga novamente e se abaixou para pegar o caderno pequeno de couro negro e folheá-lo.
Não tinha nada.
Nada além de histórias de um autor qualquer.
Ela suspirou.
-Não pode ser. Era para ser este. -disse para si mesma, andando de um lado para o outro, se lembrando da presença de James e semicerrando os olhos para ele. -você o escondeu não é? -grunhiu.
-O que acha? -ergueu uma sobrancelha em desafio.
-Por que esconderia tal coisa de mim? -sentiu sua garganta se fechar. -Não se trata sobre você afinal, não é? -indagou, deixando os braços caírem ao lado do corpo.
James ergueu a cabeça.
-Não, mas se é importante para que você encontre a pedra, então é importante para mim. Assim a encontrarei primeiro, sem interferências dessa vez.
-Este diário não pertence a você. -ousou dizer.
-E nem a você para variar. -retrucou James.
-Vai se arrepender disso. – ela o fuzilou com os olhos.
-Não mesmo. -deu de ombros e colocou a mão sob o ferimento no abdômen que também assim como ela, não havia se curado. Estranho. -e sabia que quase noventa por cento das pessoas que dizem essas quatro palavras são as que costumam se arrepender no final?
-Não eu, Sr. Lancaster. -disse simplesmente, antes de chamar Storm mentalmente, que logo surgiu a frente.
Ela caminhou e montou na égua, não sem antes lançar um ultimo olhar para o príncipe herdeiro do norte. Como uma promessa.
-Vou encontrar a pedra, e não lhe restará nenhum resquício dela para você.
Então partiu.
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O Rei e a Rainha das Sombras - livro 4
Fantasy"Dentro de um mundo em conflito entre reis e rainhas, ela poderia ser a salvação dele, ou ele será sua ruína." "Ela não se curvaria a ninguém. Ao invés de ter medo, ela se tornaria quem as pessoas temem."
