❝Os humanos são mesmo animais de arrependimento?
Ou talvez apenas eu seja nascido da solidão❞
(Blue & Grey — BTS)❁❁❁
Ele tinha desenvolvido uma certa fobia de sons repetitivos, o que tornava aquela espera uma tremenda tortura.
A sala minúscula, com paredes escuras e uma única janela cheia de grades que deixava escapar uma pequena réstia de sol era sufocante, mas ele não tinha outra alternativa, a não ser ficar ali encarando o relógio de parede que não tinha o ponteiro das horas.
Um relógio cuja única funcionalidade era emitir aquele tic tac constante e irritante, marcando apenas os segundos e tornando a experiência cada vez mais angustiante.
A cadeira era desconfortável, ainda mais na situação que ele se encontrava.
O homem girou o ombro devagar, querendo encontrar uma posição confortável, algo que já devia ter desistido. Aquela tipóia não ajudava em nada, assim como os remédios, ele continuava sentindo como se viga de metal ainda estivesse cravada em seu ombro.
Ouviu quando a porta se abriu atrás de si e esticou a coluna ao som dos passos que se aproximavam da pequena mesa surrada de madeira que ficava no meio do cômodo.
O homem, que devia ter mais de cinquenta anos, colocou uma pasta de cor escura diante dele e se sentou na cadeira disposta a sua frente.
Primeiro-Tenente do 89° batalhão das Forças Armadas, Park Jimin.
O adesivo estava gasto e as letras falhadas, sinal que aquele arquivo estava jogado em um canto há um bom tempo. Fazia muito mais de um ano que ele via aquela pasta.
— Você tem uma escolha, filho. — O capitão Kang Jungyan era um homem experiente, tinha passado por muitas situações como aquela e sabia exatamente o que dizer para convencer um homem de que o tempo dele na linha de frente tinha acabado. Mas mesmo ele sabia que Park Jimin era um homem difícil e que seria um desafio. — Pode ficar, se recuperar e conseguir um novo batalhão, ou pode voltar para casa com sua família. Eu posso colocá-lo em algum cargo bom com o departamento de segurança de Busan. Ou Seul, se você preferir voltar para a capital.
Jimin encarou a pasta. Ele tinha aquele apito agudo em seu ouvido direito, um som irritante que mais parecia uma interferência. Aquilo não passava nunca e tornava cada segundo de sua vida mais insuportável.
Ele sabia exatamente o que era aquilo: seu ponto final.
Depois de passar quase dois meses lutando pela própria vida em um hospital improvisado em um depósito antigo no meio do nada, ele sabia que aquele ferimento que incomodava seu ombro não lhe permitiria manusear uma arma novamente. Ou arrastar um soldado ferido para uma zona segura. Ele seria um peso morto para qualquer batalhão, tão inútil quanto aquele maldito relógio sem ponteiro na parede.
Mesmo um homem teimoso e persistente como ele sabia quando chegava ao fim da linha.
Respirou fundo.
— Se eu voltar para casa. — O loiro parecia pensativo, cada palavra sendo escolhida muito lentamente e dita com um pouco de incerteza. — Não quero alardes. Sem medalhas, sem premiações, sem reconhecimento.
O capitão respirou fundo. Era complicado dizer a Jimin o que o aguardava quando ele retornasse para a Coréia. Havia uma linha invisível que dividia a vida profissional do Primeiro-Tenente Park e a vida pessoal de Park Jimin, como se fossem duas pessoas distintas. Ninguém dentro daquele batalhão tinha cruzado a linha em todos os anos do homem como soldado.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Zero O'Clock [PJM×JJK]
RomanceDepois de passar longos anos de sua vida servindo no exército, Park Jimin está finalmente voltando para a Coréia depois de sofrer um acidente que o torna incapaz de lutar na linha de frente. Ele só não esperava que teria que lidar com a notícia de q...