Singularity

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No breve sonho que tive
Minha agonizante dor fantasma permanece a mesma❞
(Singularity — BTS)

❁❁❁

Jungkook tinha o mesmo sonho há semanas.

Não era exatamente um sonho, mais parecia uma cena repetitiva em sua mente, algo que ele definitivamente detestava. Sempre estava sentado na varanda dos fundos, naquele balanço. Acima dele, uma galáxia inteira, milhares e milhares de estrelas cravejando o céu. 

Ele conseguia ouvir o som do piano ao fundo, aquela mesma música constante, e então ele ficava ali, preso por sabe-se-lá quanto tempo, esperando por uma estrela cadente. 

Às vezes pareciam horas, em outros momentos, pareciam anos em uma noite eterna, esperando que aquele feixe de luz cortasse o céu rapidamente e ele pudesse fazer seu pedido.

E quando ela passava, rápida e cintilante, rasgando aquele céu iluminado, Jungkook nunca sabia o que pedir. Ele travava, a agonia o consumia por não conseguir fazer seu desejo, por perder a chance de fazer exatamente aquilo pelo que aguardou tanto.

E era quando ele acordava.

Algumas vezes no meio da madrugada, outras percebendo que recém tinha se deitado e algumas vezes, como naquela vez em específico, já era manhã e o som do despertador estava alto em seus ouvidos.

Ele bufou, se erguendo e deslizando o botão na tela do celular para desativar o alarme, em seguida enterrou de novo a cabeça no travesseiro com frustração.

O quarto já estava iluminado pela luz da manhã que escapava pelas cortinas e ele sabia exatamente o que tinha que fazer, mas estava exausto apesar de o dia nem ter começado.

De forma rápida e ágil, sua mente lhe trouxe a memória. Park Jimin. Ele estava ali, dormindo no quarto do outro lado do corredor. Não era mais um fantasma distante, um estranho que ele jamais tinha visto. Era real, palpável e completamente frustrante.

Com muito desânimo e um total de zero vontade de fazer qualquer coisa, ele se levantou da cama. O quarto de hóspedes da casa era pouco menor do que o quarto principal, mas conseguiu acolher bem todos os seus pertences. 

Ele olhou para o espelho grande pendurado na porta, podia ver seu reflexo e respirou fundo, passando a mão de forma automática pelo braço tatuado enquanto encarava a si mesmo, esperando que repentinamente a vontade de viver aquele dia surgisse.

Ele pensou em fingir que estava doente, mas Jimin não daria conta do dia de Mi Sun sozinho. Aquele idiota sequer deveria saber o cronograma dela.

Pensando unicamente nisso, ele buscou uma camiseta que estava muito bem dobrada sobre uma cadeira e a vestiu. Ele tomaria um banho longo e demorado, depois de preparar e servir o café da manhã de Mi Sun, separar as roupas para ela ir ao Instituto, checar as baterias do aparelho auditivo, garantir que tinha água suficiente no carburador do carro e… ele estava esquecendo de alguma coisa, mas o que seria?

Jungkook se arrastou para fora do quarto, andando pelo corredor com os ombros caídos. Precisava acordar Mi Sun, mas só faria isso quando o café da manhã estivesse pronto. 

Mas parou no meio do caminho. Havia cheiro de canela, café e baunilha no ar, algo que com toda a certeza não era costumeiro. Ele fungou, certificando que não estava ficando louco e seu estômago roncou.

Ele esfregou os olhos e continuou andando, sentindo o carpete em seus pés até chegar ao piso frio da cozinha. Ele piscou algumas vezes, olhando para a mesa pequena e redonda que tinha apenas três cadeiras. 

Zero O'Clock [PJM×JJK]Onde histórias criam vida. Descubra agora