❝Seus olhos são como diamantes
Mais bonitos do que qualquer outra joia
Estou constantemente fascinado
Não consigo tirar meus olhos de você, não mais
(...)
Apenas feche seus olhos
Não diga nada
Vou roubar seu coração
Como se fosse mágica❞
(Stay Gold — BTS)❁❁❁
O som ainda era angustiante, mas não insuportável. Ele mantinha seus olhos abertos, tentando concentrar suas energias e sua atenção no que o psicólogo falava e não no tic tac do relógio.
A princípio funcionou muito bem, mas de um certo ponto em diante aquele som o levou por suas memórias, direto para a terrível lembrança do dia em que tudo que ele queria era morrer. Mesmo querendo matar aquele sentimento, mesmo que se esforçasse para esquecer tudo, não conseguia.
— Pode desligar o relógio, por favor? — pediu Jimin, interrompendo o doutor no meio de uma frase que ele sequer sabia do que se tratava.
Jaeyun sorriu minimamente e suspirou, se inclinando e apenas deslizando o dedo no botão do pequeno relógio. O som cessou e o loiro virou o pescoço de um lado para outro até estalar.
— Foi bem, Jimin. Sabe há quanto tempo ele estava aqui? — perguntou Jaeyun e ele negou. Não tinha visto se o relógio já estava ali quando entrou no consultório ou se o homem tinha colocado enquanto ele falava, mas percebeu de uma hora para outra aquele som que tanto o atormentava. — Quarenta e dois minutos.
Quase o horário inteiro da consulta. Jimin não conseguiu evitar a surpresa. Estava tão ocupado falando sem parar que não tinha percebido. Isso o fez refletir sobre o fato de que tinha assado os últimos quarenta e dois minutos conversando sem que aquilo fosse um tormento.
— Você estava falando algo sobre sentir como se houvesse mais sobre a vida do que você viu até hoje. — O homem o encarou por cima da armação do óculos e bateu a caneta no bloco de notas. — Pode me dar algum exemplo?
Jimin engoliu seco. Ele havia dito aquilo mesmo?
Sabia que tinha dito muitas coisas e que provavelmente Jaeyun já estava tonto de tanto que falava, mas ele sequer sabia exatamente do que tinha falado. Só estava um pouco entusiasmado demais naquela manhã.
— Eu… — Ele franziu a testa para si mesmo. Respirou fundo. Tinha passado da fase tímida em que falar com Jaeyun era mera obrigação. Ele passou a gostar das consultas e da forma como ele sempre o fazia ver as coisas de uma nova perspectiva. Se deu por vencido e se inclinou para a frente, tentando escolher as palavras certas. — Eu sou órfão. Quando eu era criança, nunca tive uma visão ampla sobre o que era realmente viver, acho que eu sempre fiz apenas… sobreviver. Ano após ano, tentando não arrumar briga com os garotos mais velhos, tentando tirar notas boas, sempre pensando no dia que eu fosse sair do orfanato para poder viver de fato.
Ele pensou sobre todas as noites em que se sentava na cama pequena no meio da madrugada e riscava com uma pequena pedrinha a madeira da beliche de cima. Mais um dia em sua contagem interminável de quantos faltavam para que ele pudesse sair dali e ter algo somente para si.
— Eu fiquei protelando. Como se minha vida fosse começar só depois que eu fizesse dezoito anos e saísse de lá. Tudo que aconteceu nesse meio tempo não me importava. Então eu saí e comecei a pensar que minha vida começaria de fato quando me casasse com a Jiayu. E depois acreditei que seria quando comprassemos nossa casa própria. Quando eu conseguisse uma profissão ótima e com um bom salário. — Ele moveu a mão para indicar que a lista seria interminável. — Até hoje eu estive esperando por algo. Como se fosse uma espécie de momento mágico e extraordinário que fosse me dizer: é aqui que sua vida começa, Jimin. Eu não sei exatamente o que significa viver, só sei o que é estar vivo e acho que são coisas diferentes.
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Zero O'Clock [PJM×JJK]
RomanceDepois de passar longos anos de sua vida servindo no exército, Park Jimin está finalmente voltando para a Coréia depois de sofrer um acidente que o torna incapaz de lutar na linha de frente. Ele só não esperava que teria que lidar com a notícia de q...