Cheguei em casa exausta. Simplesmente me esborrachei no sofá com a bolsa e tudo,mas logo me levantei, correndo até meu quarto com um enorme sorriso desenhado nos lábios.
Praticamente saltitando,me vesti e fiz um rabo de cavalo no cabelo, peguei meus equipamentos, roupas reservas e saí, caminhando pelas ruas.
Meu descanso após o trabalho é nos braços do mar...ou melhor, em cima das ondas.
Assim que coloquei os pés na areia da praia, ouvi o som do meu celular tocando:-Você foi mesmo, não é?-Matt perguntou, já rindo.-Você é mergulhadora e biologa, Aolani. Precisa mesmo ser surfista também?
-É a melhor parte do meu dia!!-Exclamei, olhando as ondas se formarem na escuridão.
-São sete da noite,Aolani... Vá descansar, mulher!-Matt acabou me fazendo rir com a forma como falou.
-É assim que eu descanso! Agora preciso ir. Não posso voltar muito tarde.
-Tudo bem...Lani... Cuidado, tá?-Ele pediu melancólicamente,quase como uma súplica.
-Tá bom. Até amanhã...-Falei encerrando a conversa.
Arranquei as roupas como se minha vida dependesse disso,joguei-as na areia,arrancando também as sandálias e correndo contra o vento em direção ao mar, que chamava por mim com o barulho de suas ondas.
Subi na prancha e comecei a remar com as mãos em direção a primeira onda. Logo facilmente estava em cima dela. Abri os braços, sentindo o vento bagunçar meus cabelos.
Quando a onda se desfez, abri os olhos,me preparando para o próximo movimento,mas algo fez com que meus olhos se voltassem para a areia, além de ficarem arregalados: alguém estava agachado,mexendo nas minhas roupas.
Com o susto, acabei caindo da prancha. Após submergir da água, agarrei-a e corri até a areia.
Quando finalmente me aproximei da pessoa, notei que era um homem, não estava conseguindo vê-lo claramente pois só estava sendo iluminado pelas luzes dos postes próximos. Ele pareceu não notar minha presença, ainda mexendo em minhas roupas enquanto franzia as sobrancelhas:-Ei!! Vou chamar a polícia!!-Gritei, olhando para seu rosto. Ele se levantou, abruptamente, fixando os olhos em mim. Assim que ele me fitou,seus olhos azuis penetraram minha mente como uma descarga elétrica. Foi como nadar no próprio oceano. Me senti leve, prestes a dormir.
Cocei os olhos, voltando a realidade, só então, notei que ele estava sem roupa alguma:-Pai amado!!-Falei, tapando os olhos.-Chega,vou chamar o delegado Kaleo.-Peguei meu telefone para discar o número,mas percebi que ele estava tremendo de frio.-Quem é você? Qual seu nome?-Perguntei, tentando não olhar para baixo.
-Eu... não...eu...-Ele tentou dizer.
-Você não se lembra?-Perguntei. Ele apenas negou com a cabeça, ainda tremendo.
-Alguém roubou você? Você viu o ladrão que pegou suas roupas?-Perguntei.
-Ladrão...?-Ele apenas repetiu, cruzando os braços em cima do corpo, enquanto franzia as sobrancelhas.
-Eu não tenho roupas masculinas...-Afirmei olhando para o mar, enquanto pensava no que fazer. Abri a mochila com minhas roupas e peguei a única coisa que encontrei.-Toma. vai ter que servir por enquanto.-Entreguei-lhe o vestido de poliamida rosa e branco. Por sorte o tecido se encaixou no corpo dele,por ser um tecido mais elástico, porém, mesmo assim, ainda ficou bem curto. Acabei gargalhando, enquanto observava aquele homem grande e de músculos perceptíveis, enfiado em um vestido, olhando para mim como se não fosse nada.
Ele olhou para seu próprio corpo, logo depois voltando seus olhos para mim, parecendo um tanto confuso:-Bom, não posso te deixar aqui. É melhor chamar alguém...-Falei, olhando em volta.-Vou chamar um médico.-Peguei o celular para discar o número, porém me lembrei que já estava tarde. -Vou ter que te levar comigo... amanhã te entrego as autoridades.-Conclui,me vestindo rapidamente e pegando meus equipamentos.
O homem apenas continuou parado, olhando para mim perdidamente:-O que foi?-Exclamei, franzindo as sobrancelhas. Me aproximei, tentando pegar sua mão,mas ele arrancou-a de mim, mostrando os dentes como um cão ameaçado. Me assustei, dando alguns passos para trás. "Ele deve ser doido... melhor eu ir embora." Pensei, logo dando as costas para o homem,sem dizer nada.
Para o meu desespero, ele começou a andar atrás de mim. Com medo, comecei a correr desesperadamente, quase derrubando tudo que eu estava segurando. Ele começou a correr atrás de mim, olhando fixamente em minha direção.
Desesperada,corri entre os carros, que buzinavam e gritavam para que eu saísse da rua,sem nem ao menos perceber que um homem de vestido estava atrás de mim. Talvez estivessem achando que era brincadeira, afinal, quem levaria essa cena a sério? "Qual é o problema dessa gente? Ninguém está vendo isso??" Perguntei mentalmente.
Cheguei em casa ofegante, largando as coisas no chão e me sentando no mesmo. Alguns minutos depois,ao me recuperar, olhei no olho mágico,me deparando com o homem, que olhava em volta curiosamente.
Já cansada, tranquei a porta e fui para meu quarto, ignorando o homem do lado de fora. Fui até o banheiro e tomei um banho demorado.
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Cian
FantasyO que existe nas águas profundas do mar? Você pode afirmar,sem que haja medo em seu coração? O fato é que nunca estamos preparados quando o desconhecido se torna parte do dia a dia e as lendas são mais reais que o ato de respirar. "Àqueles malditos...