10: Vida humana

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Claro que eu estava exausta: não havia dormido quase nada pelos pensamentos que insistiam em me lembrar o quanto meu novo "amigo" poderia ser perigoso. Até pensei ter visto presas dentro de sua boca noite passada, porém o escuro me impediu de ver com atenção. Porém,eu sabia que eram verdadeiras,as marcas no tubarão apenas apontavam isso. Sem contar os pesadelos que ainda me assombravam.
"Será que existem mais?" Pensei, ainda com os olhos fechados,deitada na cama,mas os abri, assim que senti algo pingar em mim,me deparando com o assunto de meus últimos pensamentos:

-Como você entrou?!!!!-Perguntei, arregalando os olhos, ainda deitada. Cian permaneceu logo a cima, fazendo uma cortina de cabelos dos dois lados do meu rosto. Só então percebi a proximidade de seu rosto no meu. Ele continuou em silêncio por alguns segundos, até que abriu a boca:

-Você me odeia agora?-Ele perguntou com um olhar apreensivo, chegando a ser infantil. Estreitei os olhos, mirando os seus.

-É... claro que não. -Falei amigávelmente.

-Você sentiu medo. Tem medo que eu te machuque.-Ele afirmou com convicção. Eu não disse nada, sabendo que ele estava certo.-Quero ser bom. Quero ser bom como você,Aolani.-Ele deu um leve sorriso,se deitando em meu peito. Seus cabelos tinham o cheiro inconfundível da maresia, e seu corpo agora quente,me deixava estática,sem saber como proceder:

-Não é justo.-Eu sussurrei.-Você sabe meu nome sem eu nem ao menos ter dito,e não me diz o seu.-Falei,ainda estática. Ele levantou a cabeça, sorrindo enquanto olhava para mim com a ternura que eu já conhecia.

-Quero que me chame com o nome que me deu...por favor.-Ele voltou a se deitar em meu peito.-Agora descansa,seus olhos estavam fechados antes.-Ele disse calmamente, logo começando a cantar para mim. Me senti como da última vez,como se eu estivesse no mar, boiando, sendo acolhida pelo abraço do oceano.
O cansaço realmente preencheu todo o meu ser,me fazendo finalmente fechar os olhos,sem pesadelos,sem pensamentos,nada além do límpido e calmo mar num dia quente de verão.

Acordei bruscamente, olhando na tela do celular. Três da tarde. "Uau, é por isso que não durmo durante o dia." Pensei,me sentando na cama. Olhei para trás,me deparando com meu salvador contra pesadelos dormindo serenamente. Abri um leve sorriso ao notar seu semblante calmo e inocente enquanto descansava.
Mesmo assim,venci o meu derretimento momentâneo,me levantando e abrindo a janela. Os olhos dele se abriram lentamente, sendo direcionados para mim:

-Bom dia Bela adormecida.-Falei,me encostando na janela aberta.

-Quem é essa?-Ele perguntou com a voz embargada pelo sono, enquanto coçava os olhos e sorria.

-Ãn...bem, não importa.-Lhe dei um sorriso,me aproximando da cama novamente.-Sabe, você não pode andar por aí só com essa calça.-Apontei para o objeto em questão. Cian franziu a testa, olhando para mim e depois para as próprias pernas. Então,ele fez menção de tirá-la.-NÃO!!!!!!!-Gritei, tapando os olhos.

-Você tem que se decidir.-Ele disse com uma expressão neutra.

-Eu quis dizer que precisamos comprar mais!!-Afirmei, apontando novamente para a calça. Ele sorriu, voltando o pouco que tinha abaixado.

-Eu gostei.-Ele pareceu realmente animado, com o mesmo sorriso inocente de uma criança que vai ganhar presentes da mãe. Acabei sorrindo também, com a alegria contagiante em seus olhos.

-Tá bom. Então, preciso que espere lá fora,vou trocar de roupa.-Falei o analisando.

-Por que?-Ele perguntou se sentando novamente na cama.

-Você tá de brincadeira?!-Andei até ele, arrastando-o pela orelha porta a fora do quarto.-Espere aí!-Terminei, fechando a porta.

Quando terminei de me arrumar, saí do quarto. Não encontrei Cian na porta, então desci até a sala de estar para ver se o encontrava. Ele estava deitado no sofá, quando me aproximar, pareceu apreensivo,me analisando friamente:

-Não faça isso.-Ele disse, apontando para a própria orelha, ainda com um olhar sério e cauteloso.

-Não quis te machucar Cian. Só não queria me trocar com você me observando.-Falei, vendo seu olhar de apreensão de desfazer. Talvez ele tivesse tanto medo das minhas reações, quanto eu das dele,a diferença é que ele poderia me matar se quisesse. Só então voltei a me lembrar que somos de duas espécies completamente diferentes, com costumes diferentes e jeitos diferentes de lidar com a vida.
Então me aproximei, fazendo com que ele se sentasse:

-Não podemos nos trocar na frente um do outro.-Expliquei, aqui isso é errado.-Sua expressão era de entendimento agora.-Quando quiser se trocar, é só me dizer.-Terminei, sorrindo.

-Entendi. Eu quero mais.-Ele afirmou, tocando a própria calça. Seu olhar se suavizou,me fazendo relaxar.

CianOnde histórias criam vida. Descubra agora