28: Aminimigas

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   Fiquei conversando com Neres por algum tempo. Ela me contou como é a vida no mar e como Cian era quando "filhote". Ela me contou também que gostava dele desde essa época, quando eram crianças.
    Neres se gabou do quanto ele era um bom caçador,e até questionamos o fato de ele ter sido capturado, já que não era fraco e poderia ter facilmente escapado, presumi que eram muitas pessoas o cercando:

-Você vai me perdoar? Prometo que não vou me meter entre vocês dois...-Ela perguntou,se apoiando na mesa, logo se sentando ao meu lado. Franzi a testa, olhando-a desconfiadamente.

-Talvez...-Revirei os olhos.-Mas acho que ele não vai mais  me querer... não depois de tudo que eu disse.

-Tá brincando comigo?! Ele literalmente enlouqueceu por não estar com você.-Ela deu uma breve risada.-Pelo bem de nossa espécie,você tem que tentar.-Dei um leve sorriso para ela, que, retribuiu, logo bocejando.-Aolani, nós precisamos encontrá-lo.-Ela voltou a ficar triste,me levantando a ter o mesmo sentimento.

-Eu sei. Como vamos fazer? Você disse que foram alguns machos com ele, certo? Eles não podem nos levar até lá?

-Acho que sim,mas e depois? Vamos entrar lá e pegá-lo?-Ela pareceu assustada e animada ao mesmo tempo. Respirei fundo, tentando pensar no que iríamos fazer.

-Temos que tentar. Cian precisa da gente...de todos nós.

-Por que Cian?-Ela perguntou com a testa franzida.

-Os...os olhos dele...-Senti minhas bochechas queimarem como se eu tivesse colocado brasas no rosto.

-...São os mais lindos do oceano.-Ela completou, com um sorriso tímido. Não pude evitar sentir ciúmes, quando a vi derreter ao se lembrar daqueles venenosos, apaixonantes e entorpecentes  olhos ciano. Pigarriei, tentando mudar de assunto antes que acontecesse outro desentendimento. Neres pareceu se dar conta do que acabou de acontecer,se ajeitando ao meu lado.-Enfim, tudo isso tira o sono, não é?-Ela perguntou, mudando o assunto.

-Com certeza...eu já não estava conseguindo dormir bem, agora as coisas pioraram.

-Por que não estava conseguindo dormir bem?

-Pesadelos...-Afirmei em um sussurro. Neres franziu as sobrancelhas.-Sonhos ruins.

-Que tipo de sonhos?

-É uma longa história...-Olhei para ela, que me fitava com olhos de curiosidade. Percebendo que ela queria ouvir minha história, contei-lhe tudo que passei nas mãos da "freira satânica" do orfanato. A sereia ouviu com atenção cada uma das minhas palavras:

-Você devia reencontra-la.-Ela disse com convicção.

-Pra que?! Isso só me deixaria pior.

-Talvez não. Nosso povo têm uma crença de que devemos nos desconectar do passado para viver melhor o presente... É o caso de Kai,por exemplo... Ele estava sofrendo com a falta que Nahala fazia,e então ficou sem você também...por minha causa. Por isso seu espírito se enfureceu, fazendo com que ele tivesse que ir atrás de uma de vocês... provavelmente,ele está muito magoado com você,por isso, escolheu Nahala.

-É...faz sentido...-Cruzei os braços, vendo Neres bocejar novamente.

-Vou me juntar às outras...-Ela afirmou se levantando e fazendo menção de ir para a sala.

-Neres...-Chamei-a, fazendo com que ela subitamente focasse em mim.-Acha que ele vai me perdoar?-Perguntei, tentando buscar alguma esperança.

-Sim... acho que sim. E se ele não perdoar,pode deixar comigo... cuidarei bem dele.-Ela respondeu,me olhando maliciosamente e indo em direção a sala em seguida. Revirei os olhos, respirando fundo para me acalmar.
      Quando finalmente voltei a minha cama, já eram quase cinco da manhã,e graças a Deus consegui dormir. Sem pesadelos dessa vez,mas não durou muito, já que logo o despertador apitou;por mais que eu não tenha dormido muito, ainda sim  foi melhor do que quando tenho pesadelos a noite toda.
     Me levantei sem muita demora, pois se não, voltaria a dormir. Me arrumei e fui em direção a cozinha para tomar café. Quase tive uma parada cardíaca quando percebi que as sereias estavam mexendo nos meus utensílios. Uma os jogava no chão, outra abria os armários... Neres pregou uma frigideira, observando-a por alguns minutos e logo soltando o objetivo no chão,sem interesse:

-Ei!!!! Não mexam nisso!-Gritei. Algumas delas rosnaram, enquanto outras deram de ombros, continuando a destruir minha cozinha como se eu não estivesse alí.-Neres! Vocês não têm que ir até os machos que sabem onde Kai está?-Perguntei, percebendo que o havia chamado pelo nome pela primeira vez em voz alta. Neres parou de mexer nas panelas e se levantou. Todas olharam para ela por alguns segundos, então,ela fez algum sinal,o que fez com que elas se levantassem também.
    Neres se aproximou de mim, colocando a mão no próprio peito,e depois no meu:

-Vamos conseguir.-Ela disse fixando os olhos olhos nos meus.

CianOnde histórias criam vida. Descubra agora