Ignorando o peso mental, praticamente corri em direção a praia,como se o mar estivesse me chamando. O céu já estava ameaçando trazer o negro da noite, não havia uma estrela se quer.
O mar estava calmo, até suas ondas pareciam respeitar o meu espaço. Arranquei minhas roupas, deixando apenas a blusa e o biquíni no corpo, e peguei a prancha, indo em direção ao mar.
Assim que senti a água gelada chegar aos meus joelhos, comecei a remar com as mãos. Tentei ignorar o meu subconsciente me ordenando para voltar e minha mente gritando que eu não estava bem.
Como num passe de mágica, assim que fiquei de pé na prancha,o mar se revoltou contra mim de uma forma amedrontadora, balançando a prancha de um lado para o outro, enquanto ao mesmo tempo,a puxava para a parte mais funda. Sem conseguir manter o ritmo, acabei escorregando e caindo. Mesmo sabendo nadar, meu corpo não me obedeceu; apenas consegui me mover para bater os braços, sendo cada vez mais puxada em direção as pedras. Com os olhos arregalados, tentei de todas as formas levar o corpo para longe,mas não adiantou,o próprio mar parecia querer a minha morte.
Já em desespero, comecei a tentar nadar mais rápido, mais isso só serviu para fazer com que meu corpo fosse em direção ao perigo como um ímã. Eu até cogitei gritar por ajuda, porém sabia que ninguém ouviria, já que não havia nem ao menos um salva-vidas a noite.Sim,eu realmente havia desistido. Simplesmente me deixei ir em direção as pedras, batendo a cabeça. Não senti dor alguma, talvez pelo cansaço. Apenas me vi afundar levemente, observando as bolhas escaparem da minha boca na tentativa imbecil de buscar oxigênio,mas eu estava cansada demais para lutar, já estava prestes a me entregar e fechar os olhos quando um barulho alto me fez despertar parcialmente, pelo menos meus ouvidos ficaram um pouco mais atentos enquanto meus olhos ainda quiseram se fechar.
O barulho era estridente,como os de uma baleia jubarte, porém eram mais finos,como um grito. Ouvi outro parecido, porém havia vindo de um lado contrário ao primeiro. Tentei abrir os olhos,mas me perdi na escuridão, perdendo também os sentidos.Acordei, sentindo algo macio a baixo do meu corpo. Apertei, sentindo a colcha se dobrar entre meus dedos. Rapidamente abri os olhos, vendo o teto do meu quarto. Percebi pelo lustre que eu havia comprado há pouco tempo.
Me levantei, olhando ao redor. Meus olhos se focaram no único ser além de mim naquele quarto:-Por que...?-Ouvi a voz do homem ao lado da minha cama, estreitando os olhos azuis. Cian estava sentado com as mãos nos joelhos dobrados, deixando os pés sobre a cadeira que provavelmente havia pegado na cozinha. Estava com a calça preta que eu lhe havia entregado alguns dias atrás,seu cabelo estava molhado e algumas gotas ainda saíam de seu corpo em direção ao chão. Olhei diretamente para seu antebraço, não encontrando nem ao menos uma cicatriz. Me levantei com pressa,me sentando para analisar melhor o local onde, supostamente teria que dar pelo menos uns cinco pontos anteriormente.
-Você não estava machucado?-Perguntei, ignorando a pergunta desconexa anterior.
-Estou bem agora.-Ele disse o óbvio.
-Estou vendo. Como fez isso? Fazem apenas alguns dias que saiu daqui sangrando.-De repente me lembrei do DNA compatível apontado pela máquina e um calafrio percorreu meu corpo.-Que tipo de coisa você é?-Perguntei com aflição. Apenas para receber um olhar confuso de sua parte.
Me levantei, ameaçando dar alguns passos em sua direção, fazendo-o mostrar os dentes como um cão raivoso:-Estou falando sério!! Se não me responder,vou chamar as autoridades!!!! Na verdade, é o que eu já deveria ter feito.-Afirmei, pegando meu celular na mesa de cabeceira.
Mas antes que eu discasse qualquer número,Cian pulou sobre mim,me fazendo cair de costas na cama. No susto, acabei derrubado o aparelho no chão. Seus olhos azuis já não pareciam tão calmos e ternos, enquanto ele prendia meus pulsos um de cada lado. Nem ao menos estavam no tom ciano que tanto me acolhiam e acalmavam;pareciam mais escuros e mais intensos. Suas sobrancelhas unidas me forçavam a notar a raiva que ele sentiu. Mas, então, ele simplesmente as desuniu, olhando para mim e me analisando.
Seus olhos voltaram lentamente ao claro azul de antes,e então ele piscou, parecendo tentar se acalmar. Saiu de cima de mim, parecendo derrotado, abaixando a cabeça de forma com que seus cabelos parcialmente molhados, caíssem sobre o rosto. Os cachos já estavam um pouco mais evidentes pela secagem.
Ainda de cabeça baixa,ele voltou os olhos para mim,mas pela primeira vez, não me passaram nem um tipo de paz:-Eu preciso de ajuda...por favor...-Ele disse com um olhar de desespero.

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Cian
FantasiO que existe nas águas profundas do mar? Você pode afirmar,sem que haja medo em seu coração? O fato é que nunca estamos preparados quando o desconhecido se torna parte do dia a dia e as lendas são mais reais que o ato de respirar. "Àqueles malditos...